"Uma criança é como o cristal e como a cera. Qualquer choque, por mais brando, a abala e comove, e a faz vibrar de molécula em molécula, de átomo em átomo; e qualquer impressão, boa ou má, nela se grava de modo profundo e indelével." (Olavo Bilac)

"Un bambino è come il cristallo e come la cera. Qualsiasi shock, per quanto morbido sia
lo scuote e lo smuove, vibra di molecola in molecola, di atomo in atomo, e qualsiasi impressione,
buona o cattiva, si registra in lui in modo profondo e indelebile." (Olavo Bilac, giornalista e poeta brasiliano)

sábado, 4 de dezembro de 2010

Adoção HIV, Uma Possibilidade de Amor

Foto: Google Imagens

Transmissão vertical pode ser evitada..

Promotora estima que menos de 1%das crianças e adolescentes soropositivos consigam um novo lar

O medo de perder um filho em pouco tempo ou os cuidados e medicamentos necessários aos soropositivos faz com que muitas pessoas ignorem a possibilidade da adoção de uma criança portadora do vírus HIV. Esse medo, porém, impede a vivência de uma bela lição de vida, como definem os pais que deixaram de lado o preconceito.

Não existe um registro exato sobre os números de adoções de crianças e adolescentes com HIV. Os poucos casos são lembrados com alegria por profissionais dos abrigos onde moram os jovens. A promotora de Justiça da 2ª Vara da Infância e Juventude - Adoção, Marilia Vieira Frederico Abdo, arrisca a estimativa de menos de 1% de crianças e adolescentes soropositivos adotados. "Elas não têm chance", lamenta. A promotora conta que, nos cadastros de pais candidatos à adoção, a opção "criança com HIV" sempre é descartada.

Órfãos da Aids ou abandonados pela família biológica ainda recém-nascidos, crianças e adolescentes com HIV crescem em abrigos que dispõem de estrutura necessária para atender ao público. A criação de espaços específicos para os soropositivos não se justifica pelo preconceito ou a preocupação em deixá-los com outras crianças, mas pela infraestrutura -medicamentos, equipe técnica preparada e outros- que oferecem.

Em Curitiba, duas instituições abrigam 50 crianças e adolescentes, que vivem em uma grande família. São elas a Associação Paranaense Alegria de Viver (Apav) e a Associação Curitibana dos Órfãos da Aids (Acoa). "Não os preparamos para a adoção. Proporcionamos uma vida com qualidade, saúde. A adoção é consequência", afirma a coordenadora da Apav, Maria Rita Teixeira. Nos dois abrigos foram contabilizadas, nos últimos 15 anos, pouco mais de 30 adoções.

Lição de vida

A adoção de crianças com HIV segue no caminho contrário ao das outras. Enquanto os pais interessados em adotar se dirigem à vara específica e são apresentados a meninos ou meninas com o perfil que escolhem, a adoção de soropositivos é fruto de uma paixão entre atuantes da área e as crianças.

"Os pais que adotam (crianças com HIV) são pessoas extremamente especiais. Eu digo que quem adota é acima da média, que não vai achar dificuldade em nada, não vê obstáculos", afirma a promotora Marilia. Ela ainda complementa que, diferente do que esperam aqueles que rejeitam a adoção de crianças com HIV, a oportunidade de ter uma família contribui para o bem estar dos jovens. "A carga viral (quantidade do vírus HIV no organismo) baixa drasticamente quando a criança vai para uma família", comemora. "Ela vive muito bem. Só desenvolve a Aids se tem baixa imunidade. São saudáveis, independente do HIV", complementa Maria Rita, da Apav.

A coordenadora da Apav acompanha de perto a melhora que uma família traz às crianças soropositivas. Ela, que considera as mais de 100 crianças já atendidas pela organização como sua família, adotou há dez anos um filho soropositivo, experiência que considera uma "lição de vida". "A adoção nos ensinou a viver, a enfrentar as dificuldades, não ter medo do futuro. O ser humano é muito egoísta, quer satisfazer a vontade de exercer a paternidade, não está preparado para sofrer. Muitos deixam de ser feliz com medo no futuro", afirma.

Transmissão vertical pode ser evitada

Curitiba - Entre cada 100 gestantes com HIV que não fazem tratamento durante a gestação, 30 crianças nascem infectadas pelo vírus, o que caracteriza a transmissão vertical. As chances do vírus da mãe passar para o bebê caem para até 2% quando é realizado o acompanhamento durante o pré-natal.

A transmissão vertical pode ocorrer em três momentos: durante a gestação, na hora do parto ou na amamentação. A maior incidência é referente ao momento do parto, 60 a 70% dos casos. O HIV passa de mãe para filho por meio do sangue e secreções da membrana que protege o feto, rompida nas contrações do parto normal. Em menor índice, a transmissão ocorre no oitavo mês de gestação. Além disso, as mães soropositivas não podem amamentar seus filhos, pois o vírus HIV também é passado aos bebês pelo leite materno.

A transmissão vertical só é comprovada quatro meses após o nascimento da criança. O teste que identifica o HIV é realizado no primeiro mês de vida e repetido após três meses, quando a criança desenvolve sua própria imunidade. Se o resultado for negativo no segundo teste, a criança não foi infectada. Caso o resultado seja positivo nas duas dosagens, a criança possui o vírus HIV.

Iniciativa curitibana

A estrutura de atendimento de gestantes com HIV faz de Curitiba uma pioneira e um exemplo no combate à transmissão vertical. Todas as unidades básicas de saúde da cidade disponibilizam o teste diagnóstico do HIV, também a todas as gestantes atendidas pelo Programa Mãe Curitibana. Durante o pré-natal, elas são acompanhadas e recebem medicamentos para dimunir a carga viral.

De acordo com o coordenador do programa, Edvin Javier Boza Jimenez, os índices de transmissão vertical entre as mães atendidas pelo programa são altos em gestantes usuárias de drogas, prostitutas e moradoras de rua, que não dão continuidade ao tratamento.

As adolescentes também são um público que preocupam a equipe do programa. Muitas delas não se aceitam como soropositivas, começam tardiamente o acompanhamento ou ainda descobrem o HIV durante a gestação, por isso, também abandonam o pré-natal e colocam em risco o combate à transmissão vertical. (C.G.B.)

'Cada um tem uma missão'

Curitiba - Para o adolescente Oliver (nome fictício), ser soropositivo não representa um problema em sua vida. Aos 17 anos, o jovem diz ter chegado à conclusão de que o convívio com o HIV é um sinal. "Já pensei que não precisava ter o vírus, não foi minha culpa, não abusei de nada. Cada um tem uma missão, se tenho HIV é que tenho que fazer alguma coisa", analisa.

Ele nasceu com o vírus, passado de sua mãe pela transmissão vertical. A descoberta aconteceu apenas aos 6 anos de idade, quando a mãe, que não sabia de sua sorologia e, por isso não fez acompanhamento específico para evitar a transmissão vertical, passou mal. Um teste verificou a presença do HIV em Oliver e em seu irmão mais novo, que hoje tem 15 anos.

De personalidade tranquila, Oliver está no último ano do ensino médio e faz um curso técnico em informática. No final do ano, presta vestibular para artes cênicas, para realizar o sonho de ser ator. Além dos compromissos com os estudos, o adolescente também se dedica à organização onde vive desde os 9 anos, a Associação Paranaense Alegreia de Viver (Apav). "Moro aqui, tenho de tudo e posso fazer algo para compensar isso."

O jovem mantém contato com a família, principalmente com a avó, com quem morou até os 6 anos. Mesmo sem a possibilidade de ser adotado, ele acredita que o receio dos pais em relação às crianças soropositivas é resultado da desinformação. "Não que a pessoa seja ignorante, mas não tem conhecimento sobre o assunto e fica com medo de adotar, até medo de pegar na criança. Isso não acontece, é só ter cuidado", explica. Para ele, a adoção é uma opção para ter filhos no futuro, além dos biológicos. Inclusive a adoção de crianças com HIV. "Você adotaria uma criança soropositiva", pergunto. "Com certeza", responde Oliver com brilho nos olhos. (C.G.B.)

Livro mostra dificuldades

Curitiba - No livro "Adoção PositHIVa - Adoção de crianças e adolescentes portadores de HIV/Aids em Curitiba", a jornalista Dayane Carvalho apresenta o dia-a-dia e as dificuldades da adoção de crianças e adolescentes com HIV na Capital.

Sensibilizada pela realidade dos jovens abrigados em casas de apoio, ela conheceu de perto a relação de amor criada com os pais adotivos. "Meu objetivo com o livro é fazer com que as pessoas saibam da possibilidade de adotar um filho HIV positivo. Que elas saibam que uma criança ou um adolescente soropositivo deve ser tratado como qualquer outra criança ou adolescente, deve ter uma vida normal e precisa do carinho de um pai e/ou de uma mãe. Pois o afeto, o carinho e o amor ajudam a aumentar a imunidade do seu organismo, tornando-o mais forte para enfrentar a doença", explica.

Fonte: Folha de Londrina
Autor: Carolina Gabardo Belo
Texto completo disponível em http://www.jusbrasil.com.br/


Postado Por Cintia Liana

Um comentário:

Unknown disse...

Boa tarde,
Sou português eu gostaria de adotar uma criança com HIV, como sou um leigo nesta área gostaria de alguma ajuda. Deixo o meu e-mail na esperança de alguma ajuda, giga.rui@gmail.com.

Obrigado