"Uma criança é como o cristal e como a cera. Qualquer choque, por mais brando, a abala e comove, e a faz vibrar de molécula em molécula, de átomo em átomo; e qualquer impressão, boa ou má, nela se grava de modo profundo e indelével." (Olavo Bilac)

"Un bambino è come il cristallo e come la cera. Qualsiasi shock, per quanto morbido sia
lo scuote e lo smuove, vibra di molecola in molecola, di atomo in atomo, e qualsiasi impressione,
buona o cattiva, si registra in lui in modo profondo e indelebile." (Olavo Bilac, giornalista e poeta brasiliano)

domingo, 19 de dezembro de 2010

Outra parte da entrevista para a Revista Cláudia (3)

Foto: Google Imagens

Revista Cláudia - Descreva um primeiro encontro que presenciou entre pais e filho.

Cintia Liana Reis de Silva - O primeiro encontro pode ser uma explosão de alegria como um misto de timidez com sorrisos de felicidade.
Lembro de um em que o casal chegou e encontrou os três filhos brincando. As crianças olharam os pais e contrinuaram com o olhar baixo, tímido, os pais se aproximaram e entraram na brincadeira, logo surgiu a conversa e a pergunta, se queriam ir para o hotel, para poderem estar juntos e brincarem em outro lugar, se tornarem uma família. A criança já bem preparada pode ser liberada já no primeiro encontro e geralmente dá certo.

Revista Cláudia - Como se chega à conclusão de que aqueles pais são adequados àquela criança? Como é feito esse “cruzamento” emocional?

Cintia Liana Reis de Silva - Os pais se preparam para adotar uma ou mais crianças, de idades, sexo e cor já mais ou menos pré definidas, sabendo que algo pode mudar. Uma criança é disponibilizada para adoção internacional na CEJA de algum estado do Brasil, que faz contato com uma entidade cadastrada nesta CEJA e que tenha um casal que deseje adotar aquele perfil de criança.

As informações daquela criança são passadas para a entidade que informa ao casal sobre a criança e um pouco de seu histórico e comportamento, diante disso o casal diz sim ou não.

Ao mesmo tempo a CEJA avalia toda a documentação do casal, avaliações psicológicas, histórico, um verdadeiro dossiê e vê se está apto a serem pais daquele menor.

A CEJA normalmente é composta por um Desembargador Corregedor-Geral da Justiça, que a preside, por um Juiz da Infância e Juventude, por um promotor de Justiça, um representante da classe dos advogados, um representante da classe dos assistentes sociais e um representante da classe dos psicólogo.

Depois que os documentos da criança são juntados ao processo de habilitação do casal, marca-se a viagem ao Brasil onde será o encontro. Tem o estágio de convivência de no mínimo 30 dias em um hotel de escolha do casal, onde recebem regularmente visitas da equipe psicossocial do Juizado. O casal também visita a Vara da Infância para algum procedimento de avaliação, como a avaliação com a psicóloga. Depois são mais 15 dias para toda a tramitação dos papéis da adoção com a sentença do Juiz e emisão de novos documentos da criança, como passaporte e nova certidão de nascimento, mas esse prazo pode variar, depende do processo de vinculação da nova família e da deliberação do juiz responsável.

Revista Cláudia - O que acontece depois que a criança viaja com os pais para a nova casa? Ela continua tendo um acompanhamento psicológico?

Cintia Liana Reis de Silva - Toda a família continua sendo acompanhada pela entidade de adoção internacional pelos 2 anos seguintes, que emite relatórios sobre a atual situação da família para a CEJA.

A entidade na qual eu trabalho atualmente, a Senza Frontiere, procura realizar encontros, reuniões e festas com o objetivo de fazer com que as crianças se sintam familiarizadas e em companhia de outras crianças da mesma nacionalidade. Nessas festas procura-se dar ênfase a língua de nascimento e usa-se temas culturais do Brasil para cronstrução da encontro. Nós damos muita importância no que fará com que a criança se sinta mais segura possível.

Se for preciso acompanhamernto psicológico da família e da criança isso acontece com um psciólogo da entindade ou pode ser com outro de fora.

Revista Cláudia - E quando não dá certo? O que se faz?

Cintia Liana Reis de Silva - Na adoção tem que dar certo, ou depois procurar ajuda para a relação, é um parto que não tem como se voltar atrás. O casal passa a ser pais da criança a serem responsáveis por ela e não há nada que possa anular isso depois, a adoção é uma medida irrevogável, como consta no ECA. O juiz só dá a sentença se tem a certeza de que aconteceu o vínculo inicial de amor que será forte o suficiente para desenvolverem uma forte relação clássica familiar e baseia sua decisão também em cima dos laudos da equipe multiprofissional da Vara da Infância.

Quando se tem um fiho biológico que mais tarde pode apresentar algum problema de comportamento ninguém entrega ele ao Juizado de Menores dizendo que não quer mais, é a mesma coisa com o adotivo. Qualquer criança pode aprensentar algum tipo de comportamento de natureza negativa por algum motivo e passar por fases difíceis e nem por isso um pais deve desistir do filho.

Já atendi muitas crianças com problemas de comportamento e quase todas eram filhas bológicas. Já participei como perita de centenas de adoções de crianças grandes que já conviviam com suas famílias desde pequenas e que não tinham nenhum problema de comportamento e relação.

Sei que o tema adoção traz muitas questões para a criança, mas não por isso ela tem problemas. Se uma escola tem um aluno que é filho adotado e este apresenta problemas de comportamento todos dizem que é porque ele é adotado, mas se a escola tem 50 outros alunos que tem os mesmos problemas que o adotado e são filhos biológicos o problema é por causa de quê?

Revista Cláudia - Existe um prazo para se concluir que deu ou não certo?

Cintia Liana Reis de Silva - Normalamente são 30 dias para se concluir o estágio de convivência e mais uns 15 para a sentença e emisão de documentos, mas um juiz pode determinar um tempo maior, por exemplo, até 3 meses se for necessário, o problema é que os adotantes devem retornar o seu País para voltarem ao trabalho e reiniciarem a vida cotidiana junto a criança, então todos devem trabalhar com eficácia e cuidado.

Revista Cláudia - Você costuma fazer algum tipo de acompanhamento?

Cintia Liana Reis de Silva - No Brasil realizava acompanhamento de crianças, adultos e famílias, não só adotados como filhos biológicos, todos têm questões familiares de base para serem trabalhadas. Aqui na Itália iniciarei os atendimentos também, é uma área muito bonita, é na família onde encontramos muitas respostas para melhorar os dias atuais e a relação com o mundo, pois a família é o nosso primeiro grupo, o nosso primeiro contato com o mundo, com o ser humano, com os modelos de relação e isso deve ser levado muito a sério, escolher ter um filho, seja por via biológica ou por adoção é um escolha muito bonita, mas também de muita responsabilidade, se deve estar preparado para dar base e firmeza para uma vida digna e honesta e, para isso, deve-se antes de tudo ser muito honesto consigo mesmo, estar muito atento às suas limitações e possibilidades.


Por Cintia Liana

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