"Uma criança é como o cristal e como a cera. Qualquer choque, por mais brando, a abala e comove, e a faz vibrar de molécula em molécula, de átomo em átomo; e qualquer impressão, boa ou má, nela se grava de modo profundo e indelével." (Olavo Bilac)

"Un bambino è come il cristallo e come la cera. Qualsiasi shock, per quanto morbido sia
lo scuote e lo smuove, vibra di molecola in molecola, di atomo in atomo, e qualsiasi impressione,
buona o cattiva, si registra in lui in modo profondo e indelebile." (Olavo Bilac, giornalista e poeta brasiliano)

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Possíveis desafios de adotar uma criança mais velha

Foto: Cintia Liana é citada na Revista Cláudia de dezembro de 2010

No mês de novembro cedi uma entrevista à uma das jornalistas da Revista Cláudia, Silvia Braccio. A matéria sobre adoção internacional será publicada na Edição de dezembro de 2010, que pode ser comprada nas bancas de todo o Brasil. Conta ainda quatro bonitas histórias de adoção. 
Como todos sabem, a Revista Cláudia é uma das mais vendidas em todo o País, direcionada a público feminino e com várias matérias de interesses diversos.
Fiquei muito feliz com o convite.
Como na matéria não tem espaço para publicar tudo o que falamos, ao contrário, publica uma pequena parte ou citações, resolvi postar aqui, aos poucos, partes da minha entrevista completa, cedida à jornalista.
Parabéns a revista Cláudia e a jornalista Silvia Braccio pela escolha do tema, que sempre ajuda a desmistificar muitos preconceito e, assim, possiblita mais encontros de amor, entre novos filhos e novos pais.


Foto: Google Imagens

Umas das perguntas da entrevista:
"Adoção Internacional"
Revista Cláudia - Quais os desafios de adotar uma criança mais velha?

Cintia Liana Reis de Silva - O maior desafio antes de adotar uma criança mais velha são os preconceitos e mitos que essa prática envolve. Crenças de que a criança já esteja tranzendo traumas vividos na família de origem e na instituição de onde vem; que já tragam hábitos ou vícios cotidianos difíceis de serem “retirados”. Medo de que a criança não se adapte ou que não reconheça os adotantes como “verdadeiros” pais, que rejeite os mesmos ou queira voltar para os genitores.

Há também a insegurança em achar que só com um bebê irá sentir amor, pois a chegada do bebê poderá se assemelhará ao máximo com um parto e será mais fiel aos meios e ritos “naturais” de se ter um filho.

Todas essas questões são muito corriqueiras, mas são fantasias que surgem da falta de informação e do preconceito. O pré requisito para uma adoção de sucesso é o desejo de amar, sem esse desejo não ocorre nem a adoção de um filho adotivo nem de um biológico, pois para se ter um filho biológico como um filho “verdadeiro” também precisa ocorrer um processo emocional de adoção, de acolhimento daquele ser. A única forma de assumirmos um papel e o desempenharmos bem em sua plenitude é sermos acolhidos e aceitos como tal.

Existem muitas vantagens em se adotar uma criança mais velha, por exemplo, elas desejam conscientemente uma família, já sabem que vêem de uma outra família, mas que por algum motivo não puderam permanecer com ela e precisam de pais substitutivos, estão dispostas a se doar e a amá-los como nunca.

Todas as adoções passam por fases e adotar crianças mais velhas não é mais complicado, o difícil é lidar com adotantes muito exigentes e muito metódicos, temerosos e muito inseguros, porque já bastam as inseguranças da criança, por medo de ser rejeitada mais uma vez, esta sim está ferida, mas com um grande desejo de recomeçar, de amar.

A adoção tardia é um tema que envolve muitos mitos não só imaginados pelos adotantes, mas também pela família extensa, amigos e companhias que estão em volta daqueles que desejam adotar e que muitas vezes dão conselhos respaldados numa mentalidade baseada nos dogmas ocidentais, numa visão reducionista e determinista do ser humano.

Se temos adotantes seguros, dispostos a dar amor e inicialmente não exigir que o futuro filho seja como eles esperam para ocupar este espaço, a criança se sentirá aceita e acolhida em sua totalidade e sentirá que o terreno é seguro para amar esses pais e que pode até desejar ser parecida com eles, pois são dignos deste amor e desta confiança.

Quando fui coordenadora do serviço de psicologia de uma Vara da Infância e Juventude no Brasil, em minhas reuniões, falava muito sobre adoção "tardia", sobre a necessidade de expansão do perfil, da transformação do desejo do filho ideal para o filho possível, pois não importa a idade para se tornar filho, o que conta é o desejo. Assim, via pessoas saindo da sala de reuniões dizendo que iriam direto ao serviço social mudar o perfil, pois adquiriu uma consciência de parentalidade e vínculo que não tinham antes, que não mais esperaria por uma criança que seria abandonada para estar em seus braços, mas que queriam uma criança que já estivesse esperando por eles em algum abrigo. Isso é um presente para mim enquanto profissional, é o melhor retorno, é maravilhoso!

Por Cintia Liana

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