Foto: Revista Cláudia de dezembro de 2010
Mais uma parte na íntegra da entrevista da Psicólolga Cintia Liana cedida à Revista Cláudia para compor a matéria sobre Adoção Internacional da edição de natal.
Foto: Google Imagens
Revista Cláudia - O que um casal que decide adotar uma criança de outra nacionalidade e, portanto, de cultura e língua diferentes, deve saber?
Cintia Liana Reis de Silva - Deve conhecer a cultura em que a criança nasceu, um pouco da história do País, dos valores, informações sobre como se vive e sobretudo saber valorizar essa cultura a a língua da criança após a adoção, para que a criança fortaleça seu senso de identidade e valorize as suas origens.
Revista Cláudia - Como se preparar para isso?
Cintia Liana Reis de Silva - Aqui na Itália somente casais podem adotar. Solteiros e homossexuais não podem adotar. O casal deve primeiro formular o pedido de habilitação à adoção perante a Autoridade Central em matéria de adoção internacional no país onde habita. Se considerados aptos a adotar a Autoridade Central emitirá um relatório que contenha informações sobre a identidade, a capacidade jurídica e adequação dos solicitantes para adotar, sua situação pessoal, familiar e médica, seu meio social, os motivos que os animam e sua aptidão para assumir uma adoção internacional, tudo isso de acordo como determina o ECA - Estatuto de Criança e do Adolescente e como também ocorre numa VIJ do Brasil com os brasileiros. Depois disso, escolhe uma entidade que realiza adoções internacionais, entidade esta que mais se adequar ao seu desejo e que trabalhe com um perfil de criança dentro de suas expectativas. Aqui na Itália há mais de trinta delas.
Na entidade de adoção internacional escolhida para mediar a adoção com uma CEJA do Brasil o casal é acompanho durante todo o processo, inclusive no País escolhido, passa por entrevistas com psicólogos e, passa também por reuniões com outros casais que estão se esperando para adotar, onde se podem discutir diversos assuntos relacionados ao tema, visando o amadurecimento das questões da paternidade, maternidade, origem da criança, construção de vínculos, expectativas, medos, anseios e tudo o que se relacione com adoção, além de ouvir depoimentos de pessoas que já adotaram.
Revista Cláudia - Como esses pais são preparados do ponto de vista psicológico?
Cintia Liana Reis de Silva - Em atendimentos com a psicóloga vão sendo trabalhadas e discutidas todas as questões voltadas para adoção, enquanto isso o casal trata de trabalhar também assuntos de sua vida pessoal, com seus respectivos pais, história de vida, para que possam entender um pouco de sua vida presente e o que podem esperar de sua comportamento enquanto pais e como isso pode ser melhorado e amadurecido. Há também os encontros com grupos de discussão e para ouvir depoimentos, como já mensionado na segunda questão.
Revista Cláudia - E a criança? Como ela é preparada? Ela tem que aceitar? Ou ela tem a opção de escolha?
Cintia Liana Reis de Silva - Normalmente a criança é ouvida pelo perito psicólogo da vara da infância sobre o seu desejo em ter uma nova família e se esta família pode ser de outro País. Ela pode ser ouvida como também, a depender da necessidade, se submeter a um breve acompanhamento psicológico. Ela tem direito de escolha, tem que aceitar e desejar a adoção e é o que normalmente ocorre.
Quando trabalhava na Vara da Infância conversava e preparava a criança para entender todas as possíveis mudanças que ocorreriam em seu dia-a-dia, além da nova família, novos amigos e companhias, como língua, cultura, clima e via que isso as facinava, começando por terem pais que estavam ansiosos por vê-las, brincar, conversar, ensinar a língua e depois por pegarem um avião pela primeira vez para conhecerem a nova casa.
Alguns casais antes de chegar mandam através da CEJA (Comissão Estadual Judiciária de Adoção), que cuida da adoção internacional, um álbum de fotos de toda a família, incuindo tios e primos para que a criança se familiarize com os rostos e nomes, além de fotos da casa toda e do novo quarto todo decorado.
Revista Cláudia - Quem escolhe quem, afinal?
Cintia Liana Reis de Silva - Todos se escolhem, é um momento muito bonito o primeiro encontro e a construção dos vínulos de amor e apego durante o período de convivência. Me sinto fortunada porque acompanhava as adoções no Brasil quando trabalhava lá e agora acompanho as adoções daqui, de um outro prisma e é maravilhoso presenciar todas as belas e reais as etapas do desejo, construção e fortalecimento da nova família.
Os pais chegam ao Brasil ansiosos para conhecer o filho esperado, após anos esperando por aquele momento e a criança cheia de felicidade em conhecer os novos pais, eles tão sonhados e desejados. No primeiro contato com carinho, paciência e muita delicadeza o vínculo vai sendo construído com naturalidade, os dias de convivência no hotel fortalecem o contato e dalí o parto acontece, a nova família nasce. É emocionante, um fenômeno grandioso para quem sabe enxergar.
O papel do psicólogo, no momento da adaptação, é de extrema importância. Durante o período de convivência a nova família (adotantes e crianças) é acompanhada em alguns atendimentos psicológicos para se checar a adaptação de todos à nova realidade. Conversa-se com os adotantes, com a criança e se faz as devidas observações do vínculo que vai se estabelecendo, todos também são ouvidos separademante, para que haja mais espontaneidade, principalmente a criança frente ao seu desejo e como está se sentindo. O psicólogo faz perguntas e os adotantes podem tirar dúvidas, é um momento de acolhimento de tudo o que diz respeito àquela nova realidade.
O momento da adaptação é fundamental para o sucesso do vínculo porque acontece a integração de elementos de sentido e de significação que caracteriza a organização subjetiva de um âmbito da experiência dos sujeitos, ação, construção, história, transações, trocas sociais e culturais como configurações subjetivas da personalidade. É um complexo de articulações e possibilidades, processos de ruptura e renascimento, tudo deve ser visto com sensibilidade e não com um olhar determinista, universalista, as coisas acontecem e tudo é bem vindo para que a relação tome sua própria forma e não uma forma mágica aprendida em livros de contos de fadas. (SILVA, 2008)
A família acontece e se vivencia um verdadeiro parto, um filho que nasce, é a possibilidade real da criança, enfim, se tornar filho e os adotantes pais.
Revista Cláudia - Qual é o momento que vocês julgam adequado para que pais e a criança se conheçam?
Cintia Liana Reis de Silva - Quando tudo está organizado para o encontro, todos bem preparados e o desejo deste encontro existe. Normalmente a criança os chama imediatamente de pai e mãe e os adotantes de filho porque já existia o desejo do encontro e do vínculo, depois a relação vai tomando forma.
Revista Cláudia - Como se dá este momento? É acompanhado de psicólogos?
Cintia Liana Reis de Silva - O encontro acontece na Vara da Infância e Juventude que está responsável pelo menor em questão ou pode acontecer no próprio abrigo, isso vai depender da situação, a criança tem que se sentir segura para o enocontro.
Sobre quem acompanha o encontro, isso vai depender de cada procedimento de cada Vara da Infância, não existe uma regra, cada uma atrabalha de acordo com as regras vigentes, determinadas por seu Juiz titular. Mas, normalmente, esse primeiro encontro é acompanhado por uma assistente social e uma psicóloga, de preferência as profissonais que estavam acompanhado a criança em todas as outras etapas de preparação psicossocial.
Por Cintia Liana
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