Mandy Lynne
Por Cintia Liana Reis de Silva
Sou formada em psicologia há mais de 12 anos, trabalho com famílias e casos de adoção há mais de 10. A compreensão da maternidade sempre esteve perto de mim de maneira muito especial, tanto que me especializei em casal e família e amo o meu trabalho. Mas há pouco mais de 5 meses comecei a experimentar desse amor, a ver e a viver a maternidade com a pele e com todo o resto de mim de maneira nunca imaginada.
Devo admitir que por mais que entendesse e tivesse sensibilidade para tratar e ajudar as famílias em meu trabalho eu não poderia sentir o que as mães sentiam e digo que nem deveria sentir tudo exatamente, afinal deveria ser profissional e agir com racionalidade, sensibilidade e boa vontade, e o fato do psicólogo ser um humano já é o suficiente para uma boa empatia.
Comecei a ser chamada de “fada da adoção” pelas pessoas próximas e pela mídia da minha cidade, quando percebiam o amor que eu imprimia em meu trabalho. Mas ao parir a minha filha caíram-se muitas fichas sobre esse fenômeno do ser mãe, sobre o amor humano, sobre o amor animal e ao sentir esse amor, que se constrói e cresce no cotidiano, se abriu em mim uma nova consciência de tudo o que estudei até hoje sobre apego, afeto, tolerância, maturidade, padrões integeracionais e tudo o que posso vincular a maternidade e a maternagem.
Posso dizer que me tornei mãe quando iniciei o contato pele a pele com minha filha, porque a relação com a “barriga” é diferente, o bebê já existe, está alí, mas olhar para o seu rosto, amamentar, ver e tocar a sua frágil forma faz acontecer a relação, ela começa naquele momento e nada mais é do que uma adoção, sim o fenômeno da verdadeira maternidade é a adoção. Existem mães que adotam os seus filhos paridos por elas e outras que não adotam, que não os aceitam e que não criam um espaço real para eles em suas vidas, como também têm mães que fizeram uma adoção propriamente dita através do Judiciário mas não adotaram de fato e outras que adotaram de todo o coração. Existem mães que não são “mães” e outras que fazem jus a esse nome.
Não só com o que estudei, vi e senti com o meu trabalho, mas também com a minha pele e o meu coração de mãe, afirmo que a única forma de tornar-se filho é sendo adotado e a única forma de tornar-se mãe é adotando um filho, vindo ou não de seu ventre, seja ele de que forma, cor, tamanho for, se parecendo ou não com você. E o aprendizado com o filho não depende dele, depende dos olhos de quem vê e da abertura para olhar de fato para a experiência que se está passando.
Tantas teorias obsoletas, ultrapassadas, outras ultramodernas e a vontade de acertar, mas seguramente nada é mais valioso que a capacidade de uma boa e preparada mãe em tentar perceber o que é melhor para o seu próprio filho naquele dado momento. Deixar ou não dormir mamando? Deixar ou não dormir em meio aos pais nos primeiros meses? Nem vou perguntar se deve ou não deixar mamar a hora que quiser, porque esta pergunta não tem nem cabimento, visto que é a criança é quem sabe quando tem fome ou necessidade de contato físico. A questão é, será que todas as mulheres que se tornam mães estão de fato preparadas para aguçarem esse olhar? Será que sabem o valor de alguns atos e de alguns “deixo sim, ele precisa disso agora”? Ou “não deixo, por mais que eu também queira, pois isso vai fazer mal lá na frente”?
Quando me tornei mãe, fiquei assustada com o tamanho da ignorância das pessoas e da quantidade de equívocos quanto a educação e cuidados com o bebê, começando com a afirmação de “não pegar muito no colo porque acostuma”, e aí comecei a escrever aqui na Itália também, alertando às pessoas sobre a importância do contato físico entre mãe e bebê. Vi que os recém nascidos normalmente se tornam vítimas da imaturidade e nada podem, é como se tudo fizesse mal, até a sua própria natureza, mamar, dormir e estar perto da mãe a hora que quiser. Ver essa intolerância e falta de sensibilidade me fez muito mal e hoje fico muito mais preocupada com as crianças.
Enfim, uma das coisas que mais me chamou a atenção nesse processo foi olhar a minha filha dormindo e perceber o quanto me tornei forte, capaz de protegê-la de qualquer coisa, mas também o quanto me tornei frágil e vulnerável, ao perceber que a minha felicidade hoje depende do seu bem estar e aí me veio a pergunta, até que ponto eu posso ter o controle desse bem estar? É como se eu tivesse visto o meu próprio coração alí, fora do meu corpo e passei a entender e a respeitar muito mais a minha mãe.
O fato se der psicóloga me ajuda e muito, mas o que diferencia muito mais é o desejo pessoal de crescer de cada um, amadurecer, conhecer e dar ao filho o melhor de nós, sem colocar no meio interesses pessoais.
Cada mulher vive a maternidade de uma forma particular, isso eu já sabia, mas a minha forma de viver está sendo muito mais linda e gostosa do que poderia imaginar, sobretudo no que diz respeito ao amor, que só cresce.
Por Cintia Liana