"Uma criança é como o cristal e como a cera. Qualquer choque, por mais brando, a abala e comove, e a faz vibrar de molécula em molécula, de átomo em átomo; e qualquer impressão, boa ou má, nela se grava de modo profundo e indelével." (Olavo Bilac)

"Un bambino è come il cristallo e come la cera. Qualsiasi shock, per quanto morbido sia
lo scuote e lo smuove, vibra di molecola in molecola, di atomo in atomo, e qualsiasi impressione,
buona o cattiva, si registra in lui in modo profondo e indelebile." (Olavo Bilac, giornalista e poeta brasiliano)

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quarta-feira, 6 de julho de 2016

Porque sou a melhor mãe que posso ser

Ilustração: Bárbara Brasileiro

Por Marcela Feriani
03 de julho de 2016

Enquanto os olhos do mundo estão no bebê que acaba de nascer, a mãe da mãe enxerga a filha, recém-parida. O papel de avó pode esperar, pois é a sua menina que chora, com os seios a vazar.

A mãe da mãe esfrega roupinhas manchadas de cocô, varre o chão, garante o almoço. Compra pijamas de botão, lava lençóis sujos de leite e sangue. Ela sabe como é duro se tornar mãe. 
No silêncio da madrugada, pensa na filha, acordada. Quantas vezes será que foi? Aguentará a manhã com um sorriso? Leva canjica quentinha e seu bolo favorito.

Atarefada, a mãe da mãe sofre em silêncio. Em cada escolha da filha, relembra suas próprias. Diante de nova mãe, novo bebê, muito leite e tanto colo, questiona tudo o que fez, tempos atrás. Tempo que não volta mais. 
Se hoje é o que se tem, então hoje é o que é. Olha nos olhos, traz pão e café. Esse é o colo, esse é o leite. Aqui e agora, presente. 
A mãe da mãe ajuda a filha a voar. Cuida de tudo o que está às mãos para que ela se reconstrua, descubra sua nova identidade. Ela agora é mãe, mas será sempre filha.

Toda mãe recém-nascida precisa dos cuidados de outra mulher que entenda o quanto esse momento é frágil. A mãe da mãe pode ser uma irmã, sogra, amiga, doula, vizinha, tia, avó, cunhada, conhecida. O fato é que o puerpério necessita de união feminina, dessa compreensão que só outra mãe consegue ter. O pai é um cuidador fundamental, comanda a casa e se desdobra entre mãe e filho, mas é preciso lembrar que ele também acaba de se tornar pai, ainda que pela segunda ou terceira vez.

Marcela Feriani * Canjica
Ilustração: Bárbara Brasileiro

Fonte: https://www.facebook.com/MariaRenataCerqueira/photos/a.449252175232055.1073741829.428343603989579/639813776175893/?type=3&theater


sexta-feira, 4 de março de 2016

Não julgue as mães. Não julgue as mães. Não julgue as mães.

RITA LISAUSKAS
01 Março 2016 | 11:54

Você não sabe nada, nada, nada sobre a vida delas

Meu filho nunca deu trabalho, não é daquelas crianças que se jogam no chão e começam a espernear no supermercado, nunca respondeu atravessado e não me faz passar vergonha. Até um dia. Mais especificamente o dia em que era comemorado o ano novo chinês de 2015.
Eu, minha irmã e ele fomos à festa na Liberdade, centro de São Paulo. Pegamos metrô e não tínhamos noção da multidão que iríamos encontrar. Era surreal. Filhote no colo porque no chão seria pisoteado, filas impraticáveis para comer e uma criança que, em poucos minutos, ficou muito, muito estressada.
Conseguimos nos abrigar em uma daquelas inúmeras galerias do bairro para relaxar e em poucos minutos fugir dali. De repente, entramos em uma lojinha de cacarecos orientais e uma vendedora, muito simpática, disse que me conhecia da televisão, onde sempre trabalhei. Como um gatilho sacana que parece ser disparado apenas quando alguém conhece você, meu filho começou a chorar. Copiosamente. Ele tinha pedido à minha irmã, madrinha dele, que comprasse um videogame que estava exposto na prateleira da loja. Ela disse que não, que a compra de um videogame não era uma decisão tomada assim de uma hora para outra. O choro histérico que até então nunca tinha acontecido é algo do qual nós, mães, nunca estamos livres. Nenhuma de nós. (Alerta de spoiler: você que ainda não é mãe e tem cer-te-za que isso não vai acontecer com você porque, imagina, você vai educar bem seu filho, fique esperta, acontece com todas nós.) Quando abaixei para conversar com meu filho e dizer que se ele queria tanto um videogame a gente ia se planejar e comprar em uma data especial ouvi a dona da loja comentar com minha irmã e para quem quisesse ouvir: Essas crianças de hoje são tão mimadas, né? Culpa das mães que dão tudo a elas e que não sabem dizer não.
Olhei com cara de ódio para a mulher, peguei meu filho no colo, já mais calmo, e saí de lá. Ela não me conhecia, nunca me viu na vida. Como podia julgar minha maternagem? De onde ela tirou que eu não sei falar “não” para o meu filho? Eu não tinha acabado de dizer um NÃO bem grande à compra do tal videogame?
Lembrei disso porque hoje li o desabafo de uma mãe cujo filho teve um ataque histérico em uma piscina de bolinhas de um shopping do Recife. O garoto tem TDO, Transtorno Opositor Desafiador, associado à paralisia cerebral. A mãe, contudo, não quer que o filho, que faz diversas terapias e toma remédios, deixe de interagir com o mundo ao seu redor. Na hora de sair do brinquedo o menino não quis e teve uma crise . “Ele berrava, esperneando no chão, enquanto as pessoas me olhavam com ar de reprovação. Esses não me incomodam. Já estou acostumada a esses olhares. Quando optei, lá no passado, de não privar meu filho da vida por conta das limitações dele, tive que aprender a conviver com os olhares e as críticas. Não é nada fácil ser mãe, trata-se de um diário salto no abismo do acerto e do erro”, contou.
A mãe levou o filho ao banheiro do shopping para tentar acalmá-lo. O que se sucedeu aí foi uma sequência lamentável de acontecimentos. As pessoas começaram a bater na porta do banheiro, mesmo ela pedindo para que deixassem ela tranquilizar o filho, que estava no meio de uma crise histérica.
“Vieram duas seguranças e me pediram para acompanhá-las. Quando sai do banheiro havia uma pequena multidão. Nos cercaram, a mim e ao meu filho. Me agrediram verbalmente, botaram dedos na minha cara, me acusando de estar espancando o menino. ‘Ele está cheio de hematomas’, um homem disse puxando o braço do me filho e tirando fotos minhas e dele. ‘Tire as mãos do meu filho, pare de fotografar ele, caso contrário eu processo você’, falei. Então o homem começou a me ofender, dizendo que eu não era mãe, dizendo que ele ficasse ‘tranquilo’ porque eu seria presa, e meu filho começou a chorar novamente, perguntando “minha mãe vai ser presa?”. A essa altura, minha mãe, uma senhora de 85 anos que esperava sentada na entrada do banheiro, veio ver o que era a confusão. E era comigo! Ela tentava explicar que os hematomas do menino são das quedas constantes. ‘Ele cai muito, faz parte do problema dele’, falava. Mas o homem – o mesmo das fotos – estava revoltado. Afirmava que ia postar fotos nas redes sociais me acusando de espancar o meu filho. Na hora o alertei que o uso indevido de imagem, bem como calúnia e difamação na internet, são crimes. E informei: “também vou fazer fotos suas, assim quando você postar as minhas terei como mandar a polícia atrás de você”. Foi aí que ele me ameaçou, disse que iria me bater. Peguei meu celular e comecei a fotografá-lo e quando viu que eu estava tirando fotos dele, desferiu um golpe. Não me acertou, mas ainda senti o ‘ventinho’. Tudo isso sob os olhares do meu filho especial de 7 anos e minha mãe, uma idosa de 85. Fui ao SAC, onde – orientada por minha amiga advogada – registrei uma ocorrência sobre o assunto. Fiquei lá por quase duas horas tentando me acalmar. Solicitei as imagens das câmeras de segurança, mas fui informada que apenas com ordem judicial. Durante as duas horas que fiquei chorando no SAC, me sentindo humilhada e impotente, lembrava da mulher que foi apedrejada até a morte no sul do País porque o ‘tribunal de rua’ achou que ela era uma suposta sequestradora de crianças. As pessoas hoje se acham detentoras da moral, da justiça e da comunicação – com seus celulares em punho e contas em redes sociais, julgando e condenando quem quer que passe pela frente.”
Antes apenas éramos julgadas em silêncio, no máximo ouvíamos cochichos de maledicência de vizinhos e conhecidos. Hoje, podemos ser apedrejadas em praça pública ou termos nossa imagem e intimidade devassadas e destruídas nas redes sociais. Foi o que quase aconteceu com essa mãe, que terminou assim seu desabafo:
“Estou contando isso aqui como um alerta, até para mim mesma. Não gosto de me expor e, muito menos, expor meu filho. Mas eu precisava fazer isso para dar esse toque mágico: não julgar. Não julgue. Não JULGUE. NÃO julgue. NÃO JULGUE!!!
Não sei o dano que isso vai deixar no meu filho. Na verdade ainda nem sei que dano vai deixar em mim. O que eu quero hoje é dormir tranquila, abraçada com ele, para que se sinta como sempre se sente comigo: protegido. Mas acho que hoje, e durante um bom tempo, ele é que vai fazer isso por mim. Vou me reconstruir no amor dele. Fé em Deus e bola pra frente.”

Em vez de julgar e fotografar (!?), coloque-se no lugar do outro. E se isso não for possível, ofereça ajuda. Não seria lindo que se em vez de dedos apontados alguém tivesse oferecido um copo de água ou abraço a essa mãe, por exemplo? Se alguém tivesse realmente se importado com tudo isso saberia que essa mulher tem vários empregos para poder oferecer todas as terapias que o filho precisa. Que se não fosse a dedicação dela, ele nunca teria saído da cama e estaria se divertindo em uma piscina de bolinhas.  Que o pai dele até paga pensão, mas não quer saber do menino.
Não julgue. Não julgue. Não julgue. Repita isso dez vezes por dia, todos os dias de sua vida.
Fonte: http://vida-estilo.estadao.com.br/blogs/ser-mae/nao-julgue-as-maes-nao-julgue-as-maes-nao-julgue-as-maes/

domingo, 10 de janeiro de 2016

Não. Os bebês não são como nos é dito

We Heart it

Autora desconhecida. Texto retirado da página Facebook "Parto Normal"

Não. Os bebês não são como nos é dito
Não. Os bebês não são como nos é dito. Os bebês não gostam de dormir num berço. Rodeados por grades. Presos numa gaiola. Não. Os bebês querem dormir ao lado do corpo da sua mãe, quentes, seguros, protegidos, amados, tocados.
Não. Os recém-nascidos não querem nem sequer estar numa posição horizontal. Eles querem dormir no seu peito, na vertical, balançando-se ao som do seu coração. Horizontalizados retardam a digestão, têm vômitos, têm cólicas, assustam-se, sentem-se vulneráveis.
Não. Os bebês não se acostumam aos braços: nascem já acostumados. Desde o início sabem bem o que é bom.
Não. Os bebês não dormem toda a noite. Eles acordam a cada minuto. Para comer e para não comer. Para verificar se está ao seu lado e se se importa. Para certificar-se da sua presença, que é a sua segurança. Para tocá-la e cheirá-la.
Não. Os bebês não querem ficar sozinhos. Eles não querem perdê-la de vista por um minuto, querem estar consigo no centro da vida.
Não. Os bebês não querem brincar sozinhos num parque. Eles querem brincar consigo, sorrir, serem atendidos, treparem-te para cima, rastejarem pela sala.
Não. Os bebês não querem beber leite de outra espécie. Eles querem o seu leite.
Não. Os bebês não querem chupar todo o dia um pedaço de plástico. Eles querem chupar os seus seios, as suas pequenas mãos, os seus dedos… pele humana.
Não, os bebês não querem que os vistam, nem que lhes coloquem tecidos que picam, nem brincos nas orelhas, roupas apertadas, fitas, rendas e outras coisas irritantes. Eles querem estar nus, correndo descalços, apreciando o toque da natureza na sua pele, estar pele com pele consigo.
Não. Os bebês não querem ficar parados. Eles querem que se mova, que mexam neles, que os embalem, que ande, passeie e os leve consigo. Assim que eles podem, querem gatinhar, correr, saltar, explorar, chegar a toda a parte… Sim, os bebês são naturalmente curiosos. Eles querem e precisam tocar em tudo. Incluindo aquelas coisas que a vêem usar: controles, relógios, telefones, computadores… A sua riqueza sensorial desenvolve-se a partir daí.
Não. Os bebês aprendem o que vivem. Se estão sempre a ouvir “não”, estarão sempre prontos para dizerem não. Se tem medo de tudo, em breve terão medo de tudo.
Não. Os bebês não são macro-exigentes. Nós é que somos micro-pacientes, micro-tolerantes, micro-disponíveis e micro-respondedores.
Não. Os bebês não querem que os deixem. Eles querem ir consigo a todos os lugares, você é o seu exemplo, a sua segurança, a sua referência, o seu único universo.
Goste ou não goste, assim são os bebês humanos, primatas, mamíferos. Se quiser confirmar, basta ter um. Nenhuma outra espécie desconhece e prejudica tanto as suas próprias crias. Se queremos um mundo um pouco mais humano, faríamos bem em entender isto. Não é como nos disseram “Eles são infinitamente melhores e mais inteligentes.” Quem quer que visse estes filhotes diria: que espécie tão avançada! E como é que eles se tornaram no que são? 
(Autora desconhecida)

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

O poder das mães e da amamentação

Google Imagens

Por Cintia Liana Reis de Silva


Se prepare do modo certo para ser mãe, se conheça, desarme-se, humanize-se, esqueça as teorias do senso comum, as repetições, e se já é, vou te dizer:
Um bebê não usa o peito da mãe como chupeta, ela usa o peito como peito, como calor, como aconchego, como busca de afeto, de segurança, como uma deliciosa fonte que jorra estímulo para a sua oralidade na descoberta inicial do mundo fora da ventre. Amamentar vai muito além da alimentação e muito além que qualquer compreensão. Se ele quiser ficar no peito é porque ele precisa, então não comece a guerrear para medir quem tem mais forças e para provar autoridade colocando regras que não fazem nenhum sentido para ele e não servirão de nada, só irá contra a natureza do bebê. Deixe ele mamar, se ele quer é porque ele precisa, e só ele sabe quando, por quanto tempo e porque precisa. E mais, autoridade não se prova, ou se tem ou se não tem. Sinta ela dentro de você e faça o que a tua genuína natureza te pede. 
Se ele quiser ficar horas no peito e você estiver bem, relaxe, deixe, quanto mais se mama mais leite se produz. Durma com ele, acorde com ele. Não deixe ele chorar, não deixe ele esperar. Não deixe que ele perca a capacidade de acreditar no outro já nos primeiros meses de vida.
Leia, se informe sobre o que há de mais humano na maternidade, sobre a alma, não sobre regrinhas absurdas e desumanas. Teu filho acabou de nascer, ele não precisa ser "adestrado".
Esqueça tudo mesmo, deixe os pratos sujos de lado, se não puder não atenda ao telefone algumas vezes, deixe o teu filho dormir sobre o teu peito, isso traz paz e aumenta muito mesmo a produção de leite. Esqueça todas as teorias educativas capitalistas abusivas, ao menos nesses primeiros meses de vida e não se sinta culpada porque elas não servem de nada, só trazem tristeza e sentimentos contraditórios.
Seja mãe com M maiúsculo. Acredite na tua intuição. Pense na possibilidade de fazer terapia, ou de consultar um psicólogo de família que seja um profissional sensível, pois o bebê até os 2 primeiros anos é um reflexo intenso do que ocorre na parte oculta da psiquê materna. Questione os seu modelos familiares para ver a vida com mais lucidez e ser uma mãe mais atenta e mais bem resolvida. É difícil, mas é possível. 
Teu filho é como um animalzinho que precisa do teu calor, da tua voz, da tua segurança, da tua inteireza, da tua disponibilidade, faça o que pede o teu coração cheio de amor e de emoção por ter ao teu lado um verdadeiro tesouro que estará contigo por toda a vida, então se entregue porque num piscar de olhos você vai estar com saudades desses mágicos momentos e o teu filho estará grande, autônomo e será um ser humano feliz, realizado e seguro por ter tido tudo o que você poderia ter dado a ele de mais sagrado naqueles preciosos instantes.
As mães têm o poder de salvar o mundo porque o amor tem o poder de mudar o mundo. 

sábado, 7 de março de 2015

Você quer ser mãe ou apenas ter um bebê?

Mais um texto incrível da minha caríssima amiga Mônica Montone.


Por Mônica Montone

Reflita antes de engravidar e conheça a diferença entre ter um bebê e criar um filho.
Há aproximadamente cinco anos escrevi um texto para a Revista do jornal O Globo chamado “Filho é para quem pode”. No texto, eu não fazia nenhum tipo de apologia contra a maternidade, apenas falava sobre a minha opção de não ter filhos, apesar de ser biologicamente saudável e do imenso amor que sinto pelas crianças.
Não imaginava que o assunto fosse um tremendo tabu e pudesse gerar tanta polêmica.
Em dois dias, mais de duzentos e-mails entupiram minha caixa de entrada. A grande maioria deles era de mulheres me agradecendo por ter tomado a iniciativa de falar abertamente sobre o tema – muitas delas relatavam que estavam levando o texto dentro de suas bolsas para ler para amigos e familiares quando se sentiam pressionadas. Já outras preferiram me agredir, dizendo que eu devia ser mal comida, mal amada, que devia ter o útero seco, que devia ter uma péssima mãe, que devia ser proibida de escrever essas bobagens num grande veículo, etc, etc, etc.
Eu poderia ter me dado ao trabalho de dizer que nenhuma das afirmações era correta, que minha mãe é maravilhosa, que tenho um homem incrível ao meu lado há mais de dez anos que me devota amor e me come deliciosamente, que sou plenamente saudável e questioná-las sobre a liberdade de escolha, mas para quê?
Acabei sendo convidada a participar de programas de TV como Fantástico, Sem Censura e Happy Hour e, anos depois, quando a revista Veja fez uma matéria sobre uma pesquisa do IBGE que apontava a queda da natalidade no Brasil entre mulheres com nível universitário, fui convidada a dar minha opinião na matéria, mas declinei.

Declinei porque não levanto bandeiras, não sou contra a maternidade e acho que cada pessoa tem o direito de viver de acordo com seus sonhos e necessidades. Meu texto falava sobre a minha opção pessoal e convidava o leitor a refletir sobre alguns pontos, como:
“Filhos não são pílulas contra a monotonia, pílulas da salvação de uma vida vazia e sem sentido, pílulas “trago seu marido de volta em nove meses”. Penso que antes de cogitar a possibilidade de engravidar, toda mulher deveria se perguntar: eu sou capaz de aceitar que, apesar de dar a luz a um ser, ele não será um pedaço de mim e, portanto, não deverá ser igual a mim? Eu sou capaz de me fazer feliz sem ter alguém ao meu lado? Eu sou capaz de abrir mão de determinadas coisas em minha vida sem depois cobrar? Eu sou capaz de dizer ‘não’? Eu quero mesmo ter um filho ou simplesmente aprendi que é para isso que nascemos: para constituir família?” O texto está no meu livro A Louca do Castelo, mas pode ser lido na íntegra aqui.
Pois bem, esta semana deparei-me com um vídeo de humor no Facebook, do tipo jornalismo fake, que conta com mais de 35.000 compartilhamentos. Conteúdo do vídeo: uma mulher casada há mais de 12 anos, com três filhos e dois empregos, resolve roubar uma loja e acaba sendo presa. O marido envia um advogado, mas ela se nega a sair da prisão porque se sente feliz atrás das grades e alega: “pela primeira vez na vida estou tendo tempo, vou colocar toda a minha leitura em dia e ouvir todos os discos que tenho vontade, estou amando esse silêncio”.
Não consegui rir. Senti um profundo desalento assistindo ao vídeo. Apesar de saber que se tratava de ficção não pude deixar de fazer a pergunta: por que, ou para quê, essa mulher teve filhos?
Tenho observado que apenas 20% das mulheres que conheço e que tiveram filhos nos últimos tempos parecem felizes. A grande e esmagadora maioria, se pudesse, faria como a atriz do vídeo: fugia, ainda que fosse para a prisão. Mulheres que detestam suas novas rotinas que incluem cuidar da alimentação diária, higiene e da boa educação das crianças, levar e buscar em escola, natação, médico; passar noites sem dormir. Reclamam constantemente de suas aparências, não apenas do ganho de peso que não conseguiram se livrar após o nascimento da criança, mas também de olheiras, flacidez, unhas por fazer, cabelo por cuidar. Queixam-se de falta de envolvimento, romance e apetite sexual do parceiro (ou delas próprias).
As que abriram mão da vida profissional para cuidar dos filhos, cedo ou tarde se sentem insatisfeitas (para não dizer deprimidas) com a vida doméstica. As que tentam conciliar filho e trabalho, em geral, parecem bombas-relógios prestes a explodirem e cobram paulatinamente um envolvimento maior dos pais, o que gera muitas discussões e desgasta bastante os relacionamentos.
Ok, os pais deviam (devem!) participar ativamente da criação dos filhos, mas não tem jeito: na hora que o bicho pega a criança grita pela mãe, quer a mãe. Portanto, por mais que os pais sejam presentes e ativos, infelizmente o trabalho da mãe será sempre dobrado.
Assistindo ao vídeo e pensando nas mamães aparentemente infelizes que conheço, penso: elas não sabiam que seria assim? Elas não sabiam que suas vidas mudariam completamente?
Impossível acreditar que, em plena era da informação e da tecnologia, com milhares de revistas e blogs sobre o assunto, algumas mulheres não tenham ciência do quão trabalhoso é criar um filho. É como digo no texto “Filho é para quem pode”: “Dar a luz a um bebê é fácil, difícil é ser mãe da própria vida e iluminar as próprias escuridões”.
Conheço mulheres que detestam crianças, não têm paciência para crianças, mas dizem que querem ter filhos. Confesso que não compreendo isso. Fico me perguntando: elas querem ter um filho ou um bebê?
Sim, porque existe uma diferença enorme entre uma coisa e outra. Bebês são fofos, dengosos, cheirosos. Quem resiste ao sorriso de um bebê e a um quartinho todo decorado com girafinhas e frufrus? E os sapatinhos mimosos? Uma delícia tudo isso, não? Finalmente uma boneca de verdade. Ocorre que a boneca cresce. Torna-se um ser humano com vontades próprias. Desobedece, faz pirraça, adoece, chora, briga na escola, quer a mochila da Pepa, o tênis do Ben10. Cresce e torna-se adolescente. E na adolescência, como sabemos, o trabalho (e as preocupações) triplica. Sem esquecer os gastos que a criação de uma criança implica e lembrando que, para aquele bebê cheiroso e dengoso se tornar um ser humano digno, amável, respeitável, bem educado e de bom caráter, é preciso muito empenho, amor, carinho e dedicação integral. É preciso vigília constante, sobretudo dar bons exemplos, abrir mão de muita coisa.
Não sei, mas tenho pensado a cada dia que passa que, como tudo na vida, a maternidade pode ser uma questão de aptidão. Existem mães plenamente felizes e realizadas com suas escolhas, responsáveis, que criam seres saudáveis para a vida adulta, cercando-os de amor, carinho e compreensão; que não enxergam a dedicação diária como um peso.
Por que isso não acontece com todas as mães? Talvez porque algumas não tenham aptidão! Engravidam somente para atender a cobranças sociais, constituírem família por acreditar que não tiveram uma suficientemente boa e/ou, pior, para ter quem cuide delas na velhice – o que, convenhamos é no mínimo egoísta.
Como tudo na vida, quando estamos cientes de nossas escolhas (e motivações) e de suas consequências, a jornada se torna mais agradável. Portanto, gurias, não deixem de se perguntar nunca: quero ter um filho ou um bebê para fazer fotos engraçadinhas e postar nas redes sociais? E boa viagem, seja lá para que lado for...
Por Mônica Montone, é escritora, autora dos livros Mulher de minutos, Sexo, champanhe e tchau e A louca do castelo.


Fonte: http://lounge.obviousmag.org/monica_montone/2015/02/voce-quer-ser-mae-ou-apenas-ter-um-bebe.html


quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

15 coisas que uma mulher só entende quando se torna mãe


Fotos: We Heart it

Por Cintia Liana Reis de Silva
Publicado no Guia Indika Bem no dia 15 de janeiro

Só se pode entender o que é ser mãe quando se torna uma. Por mais que se tente imaginar antes, não dá para saber bem, e só depois a gente entende tudo o que as outras falavam e viviam. É por isso que se diz tanto por aí a frase, “quando você for mãe, você entenderá” e essa frase não é para justificar os hipotéticos erros maternos.
Eu, como psicóloga todos esses anos, sempre empatizei muito com mães e crianças, mas me tornar mãe fez toda a diferença para que eu mergulhasse nesse mundo e entendesse tudo na pele.


Assim como eu descobri, muitas outras mulheres também o fizeram, então resolvi escrever esse texto e fazer essa lista para que nos lembrássemos com prazer dessa fase onde víamos a maternidade com outros olhos, olhos de expectadora e também para que as mulheres que ainda não tiveram o gozo de experienciar a maternidade, desejo que elas tenham mais compreensão com suas amigas que já são mães.
Não generalizo absolutamente nada nesse texto, até porque já escrevi outros tantos em que explico, com base nas teorias da terapia familiar intergeracional de Murray Bowen, porque cada mulher vive a maternidade à sua maneira, mas alguns sentimentos e aspectos são bem parecidos e outros até iguais para a maioria. Por isso, uso muito a expressão “boa mãe”.
Quando nos tornamos uma mãe, ou melhor, quando somos uma “boa mãe”, nossas prioridades mudam e uma certa maturidade diferente começa a aflorar. Quando falo mãe, me refiro àquela que “adotou” o filho de todo o coração e se apossou desse posto, seja ela biológica ou não.


Então vamos as 15 principais coisas que descobrimos:
1 – O celular cheio de fotos do filho. Antes de ser mãe, não dá para entender como o celular poderá ter centenas de fotos do teu filho e quase nenhuma tua. Dá vontade de tirar fotos deles em vários momentos e de vários detalhes. Nós achamos os nossos filhos lindos e eles realmente são! Fazer um selfie fica para segundo plano, afinal eles crescem rápido e é muito amor que sentimos. Mostramos as fotos deles como se fossem as únicas crianças do mundo, pois assim sentimos a alegria que ele nos proporciona e de como ela enriquece nossas vidas. Uma criança bem amada traz muita felicidade à toda família.
2 – A casa com alguns do brinquedos em cada cantinho e não parece uma bagunça. Cada brinquedo encontrado em um ângulo da casa é um sinal da presença divina deles. Eles fazem parte de tudo, de nós, da família e cada sinal disso é um milagre, a casa fica até mais bonita colorida.
3 – Quando a criança desenha nas paredes os pais não se chateiam. Tudo isso faz parte do crescimento e das descobertas das crianças, assim como os pais vão descobrindo com alegria essas novas habilidades delas. E o que são rabiscos na parede? Eles podem ser limpos depois? E mais, cada desenho é uma foto de recordação.
4 – Quando a criança faz uma cena de “mal criação” os pais não sentem raiva. Não existe criança “mal criada”, “caprichosa” ou que faz “manha”, elas simplesmente têm desejos que não podem ser saciados e por isso protestam, porque até os 3 anos não entendem algumas coisas mesmo, não têm maturidade para ter a noção de alguns limites. Chorar é um direito delas e não vale a pena se enraivar, brigar, discutir, muito menos apelar para violência física. Paciência e firmeza que isso passa.
5 – “Pipi”, “pum” e “caquinha” não dão nojo e nem um beijo melado dá agonia. Trocamos fraudas e percebemos que é algo natural, cocô de filho não dá nojo e o “pum” deles não tem cheiro ruim. Nada disso é problema, é humano, e o que vem deles não dá nenhum nojo, trocar e limpar fazem parte, é um prazer vê-los trocados e limpinhos. Ah, e o beijo melado é uma delícia!


6 – A mãe compra roupinhas para o filho e se esquece dela. É muito gostoso ver uma roupinha bonita e imaginar o nosso filho ou filha vestida, é um prazer comprá-la, pensar no outro, ser menos auto centrada. Não encontramos nada de interessante para nós porque estávamos muito ocupados pensando no bem estar deles. Além disso, eles crescem e estão sempre precisando de algo novo.
7 – Ir a aniversários de criança com prazer. Aquela gritaria e correria no meio do salão e a gente lá, aproveitando para colocar o papo em dia com as amigas. É um momento em que aproveitamos para trocar ideias com as outras mães e ver os amigos porque temos pouco tempo. Além disso e prioritariamente, é um momento mais especial ainda para o fortalecimento dos vínculos dos nossos filhos em seus círculos de amizades, com o qual ele pode brincar, dar risada, se exercitar, gastar energia e tudo o mais que a socialização pode proporcionar, e o que é mais valioso do que vê-los sorrindo?
8 – Depois do trabalho a mãe volta correndo para casa. Todo o tempo disponível após o trabalho é para os filhos, eles precisam da atenção da figura materna (mais ainda os que estão na primeiríssima infância). Além disso, a saudade é grande e o prazer de estar junto fala mais alto.
9 – O cansaço extremo e a falta de tempo materno. Os primeiros anos de vida exigem uma grande atenção e paciência, pois isso o cansaço físico e mental são incrivelmente intensos, mais ainda para quem amamenta até perto dos 2 anos, para quem fica mais tempo em casa e não tem ou não quis uma babá. A falta de tempo para fazer as coisas mais básicas para nós mesmas é rotina, temos que ter planejamento e organização prévia para realizar o que queremos. Só quando se passa por essa fase é que entendemos o que é de fato o cansaço, que pode causar até vertigens e palpitação, aí a gente faz exames e os resultados estão perfeitos. O problema é a coluna e o cansaço mesmo, e a gente acha que isso não é possível, mas é. O que nos leva adiante é o amor e a felicidade de tê-los em nossas vidas.
10 – Quando eles ficam doentes a mãe fica mal. Tudo o que uma boa mãe deseja constantemente é que o filho seja feliz e saudável e quando tem um resfriado é como uma preocupação constante e pesada que só passa quando os vemos bem novamente, então é um grande alívio. As tias podem até sentir algo parecido, mas quado somos mães sentimos algo mais forte porque aquele ser depende prioritariamente de nós para estar bem e se sentir seguro.


11 – Porque não é fácil “educar”. As crianças têm vontade independente das regras, até uma certa idade elas não têm a mínima noção de disciplina e higiene e nem auto censura. Aprendemos que é preciso ter paciência e, muitas vezes, é mais sábio esperar o tempo delas para impor certas coisas.
12 – A bolsa cheia de brinquedos. A bolsa fica cheia de coisas que são sempre necessárias, a primeira da lista é a frauda.
13 – Porque as mães defendem os filhos. Não é para “passar a mãe na cabeça” deles, mas observamos melhor as fragilidades emocionais de cada criança pequena e nos lembramos das que tínhamos quando éramos pequenos também. Empatizamos com maior facilidade e corrigimos com uma dose de afeto.
14 – Ela não tem mais vontade de sair para se divertir como antes. O que fazia sentido antes não faz mais e adotamos novos hábitos. Queremos estar saudáveis porque os nossos filhos precisam de nós, desejamos vida longa, queremos estar bem, nos sentimos muito casadas e todo o tempo que temos queremos ir devagar, aproveitar para relaxar e fazer programas mais tranquilos e de preferência bem familiares, conversamos com os amigos e colocamos as crianças para brincar. Ter família é bom demais!
15 – Entendemos mais os nossos pais, principalmente a nossa mãe. Nós entendemos que as mães não são e nem devem ser perfeitas. Valorizamos mais o esforço que os nossos pais tiveram para nos criar, educar e dar todo o afeto importante para o fortalecimento da nossa identidade.
Agradecemos por terem nos dado a vida!


Continuo na campanha “tenha filhos, mas se prepare psicologicamente antes”, faça psicoterapia, questione os seus modelos familiares, olhe para suas dores e seus dilemas, não queira filhos para companhia, nem para salvar vidas, procure ser justo e ético. E posso dizer tantas outras coisas positivas que desejo que todos sintam após se tornarem pais, porque eu sinto que os “bons pais” se solidarizam mais com as outras pessoas, ficam mais sensíveis e tolerantes, choram com mais facilidade vendo filmes em que pais e crianças sofrem (ao menos nós mulheres), com noticiários de violência e querem fortemente um mundo melhor, também para ter maiores “garantias” de que os seus descendentes estarão bem. O mundo precisa de “bons pais”!
Hoje eu entendo o que é olhar para o outro e se sentir ao mesmo tempo forte e frágil; sei o que é sentir o teu coração bater no peito de um outro ser humano; o que é ter a felicidade dependendo da felicidade do filho. É mais forte que nós e isso não é ser dependente, é amor. Quando nos tornamos mãe renascemos para o mundo, uma parte de nós se reinventa e a nossa existência passa a ter uma dose bem maior de responsabilidade e felicidade.

http://www.indikabem.com.br/filhos/15-coisas-que-uma-mulher-so-entende-quando-se-torna-mae




Fotos: We Heart it
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segunda-feira, 27 de maio de 2013

Uma psicóloga aprendendo a ser mãe

Mandy Lynne

Por Cintia Liana Reis de Silva

Sou formada em psicologia há mais de 12 anos, trabalho com famílias e casos de adoção há mais de 10. A compreensão da maternidade sempre esteve perto de mim de maneira muito especial, tanto que me especializei em casal e família e amo o meu trabalho. Mas há pouco mais de 5 meses comecei a experimentar desse amor, a ver e a viver a maternidade com a pele e com todo o resto de mim de maneira nunca imaginada.

Devo admitir que por mais que entendesse e tivesse sensibilidade para tratar e ajudar as famílias em meu trabalho eu não poderia sentir o que as mães sentiam e digo que nem deveria sentir tudo exatamente, afinal deveria ser profissional e agir com racionalidade, sensibilidade e boa vontade, e o fato do psicólogo ser um humano já é o suficiente para uma boa empatia.

Comecei a ser chamada de “fada da adoção” pelas pessoas próximas e pela mídia da minha cidade, quando percebiam o amor que eu imprimia em meu trabalho. Mas ao parir a minha filha caíram-se muitas fichas sobre esse fenômeno do ser mãe, sobre o amor humano, sobre o amor animal e ao sentir esse amor, que se constrói e cresce no cotidiano, se abriu em mim uma nova consciência de tudo o que estudei até hoje sobre apego, afeto, tolerância, maturidade, padrões integeracionais e tudo o que posso vincular a maternidade e a maternagem.

Posso dizer que me tornei mãe quando iniciei o contato pele a pele com minha filha, porque a relação com a “barriga” é diferente, o bebê já existe, está alí, mas olhar para o seu rosto, amamentar, ver e tocar a sua frágil forma faz acontecer a relação, ela começa naquele momento e nada mais é do que uma adoção, sim o fenômeno da verdadeira maternidade é a adoção. Existem mães que adotam os seus filhos paridos por elas e outras que não adotam, que não os aceitam e que não criam um espaço real para eles em suas vidas, como também têm mães que fizeram uma adoção propriamente dita através do Judiciário mas não adotaram de fato e outras que adotaram de todo o coração. Existem mães que não são “mães” e outras que fazem jus a esse nome.

Não só com o que estudei, vi e senti com o meu trabalho, mas também com a minha pele e o meu coração de mãe, afirmo que a única forma de tornar-se filho é sendo adotado e a única forma de tornar-se mãe é adotando um filho, vindo ou não de seu ventre, seja ele de que forma, cor, tamanho for, se parecendo ou não com você. E o aprendizado com o filho não depende dele, depende dos olhos de quem vê e da abertura para olhar de fato para a experiência que se está passando.

Tantas teorias obsoletas, ultrapassadas, outras ultramodernas e a vontade de acertar, mas seguramente nada é mais valioso que a capacidade de uma boa e preparada mãe em tentar perceber o que é melhor para o seu próprio filho naquele dado momento. Deixar ou não dormir mamando? Deixar ou não dormir em meio aos pais nos primeiros meses? Nem vou perguntar se deve ou não deixar mamar a hora que quiser, porque esta pergunta não tem nem cabimento, visto que é a criança é quem sabe quando tem fome ou necessidade de contato físico. A questão é, será que todas as mulheres que se tornam mães estão de fato preparadas para aguçarem esse olhar? Será que sabem o valor de alguns atos e de alguns “deixo sim, ele precisa disso agora”? Ou “não deixo, por mais que eu também queira, pois isso vai fazer mal lá na frente”?

Quando me tornei mãe, fiquei assustada com o tamanho da ignorância das pessoas e da quantidade de equívocos quanto a educação e cuidados com o bebê, começando com a afirmação de “não pegar muito no colo porque acostuma”, e aí comecei a escrever aqui na Itália também, alertando às pessoas sobre a importância do contato físico entre mãe e bebê. Vi que os recém nascidos normalmente se tornam vítimas da imaturidade e nada podem, é como se tudo fizesse mal, até a sua própria natureza, mamar, dormir e estar perto da mãe a hora que quiser. Ver essa intolerância e falta de sensibilidade me fez muito mal e hoje fico muito mais preocupada com as crianças.

Enfim, uma das coisas que mais me chamou a atenção nesse processo foi olhar a minha filha dormindo e perceber o quanto me tornei forte, capaz de protegê-la de qualquer coisa, mas também o quanto me tornei frágil e vulnerável, ao perceber que a minha felicidade hoje depende do seu bem estar e aí me veio a pergunta, até que ponto eu posso ter o controle desse bem estar? É como se eu tivesse visto o meu próprio coração alí, fora do meu corpo e passei a entender e a respeitar muito mais a minha mãe.

O fato se der psicóloga me ajuda e muito, mas o que diferencia muito mais é o desejo pessoal de crescer de cada um, amadurecer, conhecer e dar ao filho o melhor de nós, sem colocar no meio interesses pessoais.

Cada mulher vive a maternidade de uma forma particular, isso eu já sabia, mas a minha forma de viver está sendo muito mais linda e gostosa do que poderia imaginar, sobretudo no que diz respeito ao amor, que só cresce.

Por Cintia Liana

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Mães conscientes. Feliz dia das boas mães!

Cintia Liana
08 de maio e 2013.

Hoje é dia das mães aqui na Itália (08 de maio) e domingo será no Brasil.

O maior mal da humanidade de todos os tempos é a falta de amor e o abandono. O abandono me refiro a todos os níveis, até na falta de sensibilidade e cuidado em olhar o filho ou até mesmo em não dispor de tempo para tal ato, ou não conseguir entender a fragilidade de uma criança. E muitas delas, ao nascerem, já estão completamente vulneráveis, ao se tornarem verdadeiras vítimas de adultos mal educados, violentos e imaturos - em geral, esses também foram vítimas de seus pais - que as colocam no mundo só com o objetivo de suprirem as suas próprias necessidades, repetindo modelos familiares adoecidos, perpetuando a dor e o sofrimento. Emocionante é quando alguém consegue romper com esses modelos, diferenciar-se, individuar-se e ser feliz.

Não dou feliz dia das mãe a todas as mães, porque nem todas são boas, existem várias formas de ser mãe e nem todas sabem amar ou amam de fato os seus filhos. Desejo feliz dia das mães àquelas que honram esse nome, o nome MÃE, biológicas e adotivas, aquelas que sabem amar e dar ao filho o que elas têm de mais valioso, paralelamente na busca de se tornar um ser humano muito melhor.

Hoje é o meu primeiro dia das mães.

domingo, 16 de dezembro de 2012

Crenças equivocadas sobre parto e maternidade

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Por Cintia Liana Reis de Silva

Muito se fala e repete sobre crianças, maternidade, parto e educação, mas quase todas as afirmações não passam de grandes mentiras, talvez para trazer mais conforto psicológico, comodidade aos erros alheios e menos culpa. Difícil é ver alguém indo pesquisar sobre um determinado assunto ou perguntando a um psicólogo. Fica mais fácil ouvir a repeição do senso comum, a opinião popular, baseada numa cultura capitalista, industrial e fria, que acredita naquilo que é mais lucrativo e vatajoso.
Os maiores equívocos que constato hoje estão relacionados à repetição de crenças baseadas em experiências pessoais ou o que se imagina, com origem na cultura e na fantasia. Mas muito do que falamos é o que queremos acreditar e não a verdade dos fatos. Muitas dessas crenças as pessoas nunca pararam para se perguntar de onde vêm e se são realmente válidas.
Nossa psiquê, por exemplo, nos passa a informação mais conveniente, a que nem sempre é real e quem nunca fez um trabalho de auto conhecimento, como uma psicoterapia, talvez nunca saberá quem é de verdade e quais são suas reais necessidades, feridas, dilemas e dificuldades.

Citarei alguns equívocos e mitos sobre parto e maternidade:
· “As mulheres esquecem a dor do parto” – Não, as mulheres não esquecem a dor do parto, apesar de ser uma dor muito forte. Comecemos por desconstruir a crença de que a dor do parto é negativa, pois ela não é, o sofrimento não é necessário, a dor sim. Ela é necessária neste momento de rompimento, pois transporta a mulher para outro nível de consciência, para outra dimensão e compreensão do momento de transformação pelo qual está passando. A equipe médica deve demonstrar proximidade e humanidade para que a mulher se sinta mais forte, evitando que situações de dor e medo se transformem em sofrimento e abandono. O nascimento de seu filho é  um momento de renascimento para ela, nasce uma mãe, e a dor faz com que ela entre em contato com suas necessidades, com as necessidades da criança, com a sua passagem e, sobretudo, abandone a realidade fria do hospital e dos procedimentos médicos, para pensar só em si e em seu bebê. O corpo tem memória, ele não esquece nenhuma dor, ela está alí, adormecida, mas foi necessária e é instintiva (GUTMAN, 2008).

· “O bebê nasce quando ele quer” – Não, o bebê nasce quando a mãe se dá conta de que está preparada, e juntamente com o bebê sentem a harmonia do momento oportuno de dar e ganhar vida. A psiquê materna está diretamente ligada ao corpo do bebê, este como continuidade dela, e se a mulher for sensível, pode ter um parto muito tranquilo e sereno, com a “cooperação” da criança.
        
· “O trabalho de parto rápido é o melhor” – Não, o parto rápido não é melhor que o parto lento, cada mãe e bebê têm seu tempo especial para fazer a “passagem”. Um trabalho de parto de 24 horas pode ser bom, depende de como a mulher vive aquele momento, sobretudo com consciência, aproveitando cada minuto para ser protagonista do seu processo e “reencontra-se mais autentica que nunca” (GUTMAN, 2008, p. 40). Se a mãe e o bebê precisam de 24 horas de trabalho de parto para que essa transformação aconteça, deixemos que seja assim, nada é por acaso, pode ser um processo de reconhecimento de uma situação e não podemos desrespeitar o tempo de cada mulher, ela deve ser a protagonista, a rapidez médica não importa. O parto não é um procedimento puramente cirúrgico, antes de tudo é um fenômeno humano para a vida.

· “Bebê no colo se torna dependente” – O bebê já nasce dependente. Hoje se criou uma mentalidade de que bebê que fica um pouco no colo se torna dependente, e foi esquecido que o contato direto com a mãe é algo essencial para o desenvolvimento biopsicosocioafetivo da criança, e que, se ela pede colo, é porque precisa daquele calor, da troca, do envolvimento amocional, é porque este envolvimento é necessário por algum motivo que nem sempre a mãe tem a capacidade ou a abertura para entender. Hoje os adultos censuram muito as crianças, como se elas fossem animalzinhos a ser adestrados, mas estão longe de conseguirem compreendê-las. É ideal que a criança crie um “apego seguro” (ler sobre a teoria do apego de Bowlby) com seus pais, caso contrário, isso se refletirá em seu mundo adulto, trazendo muitos prejuízos, em todos os níveis.
    
· “A bebê que chora muito não é bom” – O bebê que chora muito e adoece em continuidade está fazendo o favor de comunicar que algo não vai bem em seu ambiente. A fusão emocional com a mãe, que dura até aproximadamente os seus dois anos, faz com que ele sinta e expresse tudo o que não vai bem com ela, seus medos inconscientes, seu deconforto emocional, suas memórias negativas, suas dificuldades relacionais e qualquer rejeição que ela venha a sentir em relação ao filho, que normalemente está diretamente ligada a sua própria infância e a sua relação com sua mãe.
                        
· “Depois de parir a mãe deve se sentir feliz” – O pós parto é um momento delicado, onde cada mulher tenta reencontrar e se conectar com sua identidade, que entra em harmonia com a nova. É um momento intenso, difícil, contraditório, que pode ser triste e ao mesmo tempo feliz, um momento de ajustes psíquicos e hormonais, onde cada mulher vive da maneira que pode, de acordo com sua história de vida, devendo ser repeitada e ajudada com amor.
    
· “Não existe fómula para educar filhos” – Pode não existir uma fórmula, mas seguramente existe um caminho justo e, a depender a disponibidade interna, pode transformar-se num caminho simples. Antes de ter um filho, os futuros pais devem educar a si mesmos. Não serve de nada exigir agressivamente dos filhos aquilo que nem você consegue fazer. Muitas pessoas têm filhos para satisfazerem seus desejos, mas poucas se perguntam se podem dar mais que receberem, ou se estão prontas, completas e dispostas a darem uma base sã a quem vem ao mundo. Querendo ou não, os filhos são um reflexo de como vêm os pais, inclusive a parte negativa que muitas vezes nem eles mesmos se dão conta de que têm. É preciso trabalhar a relação com seus pais, pois esses modelos passam de geração em geração como também as feridas intergeracionais, sem as pessoas tomarem consciência da necessidade de mudar e criticar sua própria educação, que certamente não foi perfeita como se pensa. É necessário humildade para aceitar a imperfeição. Um bom exemplo é que os pais me procuram para atender em psicoterapia os filhos que apresentam dificuldades, mas poucos se colocam a disposição para entenderem no que podem estar errando com eles. O pai da teoria do apego disse, “é na hora de tornar-se progenitor que se reabrem feridas intergeracionais, e como dar ao filho algo que não se teve?” (SILVA, 2012).
               
· “Toda mulher nasceu para ser mãe” – Não, nem toda mulher quer ser mãe, nem toda mulher está pronta para ser mãe e nem toda mulher é uma boa mãe, isso vai depender da história familiar de cada uma, de sua base, de suas expectativas, de seu presente. Cada mulher vive a maternidade de um modo, ou seja, do modo que é capaz de viver, de acordo com seus referenciais de vida e cuida de seu filho do modo que pode, dando o que tem, baseado no que teve e no que reconhece em si.

·  “Mãe adotiva não é mãe de verdade” – Mãe adotiva é mãe. Não é necessário parir para se tornar e se sentir mãe, o amor maternal é desenvolvido a partir da intenção, consciência e convivência com a criança e ela se sente tão mãe como qualquer outra mãe que deseja o seu filho.
 
É muito fácil repetir crenças populares, acreditar no que nos dá mais conforto, mas o caminho correto é buscar conhecimento e sobretudo desenvolver autocrítica e sensibilidade para olhar o mundo e cada ponto com suas particularidades, independente do que aprendemos ou do que é mais confortável, é não ter medo e nem preguiça de pensar, sentir e refletir.

Referência:
GUTMAN, Laura. La maternità y el incuentro con la propria ombra. Buenos Aires: Editorial Del Nuevo Estremo, 2008.
SILVA, Cintia Liana Reis de Silva. Filhos da Esperança: Os Caminhos da Adoção e da Família e seus Aspectos Psicológicos. Salvador: Edição do Autor, 2012.

Cintia Liana Reis de Silva é psicóloga e psicoterapeuta, especialista em psicologia conjugal e familiar, vive e trabalha na Itália, é autora de dois livros publicados no Brasil, seu blog conta com mais de 15.000 acessos ao mês, o www.psicologiaeadocao.blogspot.com.