Reclamamos tantos dos preconceitos sociais ou quando sofremos com o preconceito de outras pessoas, mas não pensamos que temos as nossas velhas e ultrapassadas convicções, que caducaram há muitos anos.
Quando falamos de relacionamento humano, pensamos logo em relações delicadas, cheias de complexidades. O relacionamento de pais e filhos, sejam eles biológicos ou adotivos, são cheios de significados, dificuldades, sensações e entraves emocionais, relacionamentos que também são recheados de muito amor e mágoa. Mas algumas pessoas insistem em levar adiante discursos preconceituosos, egoístas e levianos em relação a adoção por ter conhecido um ou dois casos de famíllias adotivas que estavam tendo conflitos e muitas vezes conflitos que acontecem em qualquer família, mas insistem em colocar a responsabilidade do problema na adoção, ou pior ainda, no filho adotivo, como se a resposta do conflito fosse tão simplista, estivesse focada numa pessoa ou num só aspecto.
Por falta de estudos na área e conhecimento, as pessoas tendem a generalizar. Acaba sendo mais fácil verbalizar e perpetuar o que é negativo, ao invés, de falar dos aspectos positivos ou se abrir para conhecer histórias bem suscedidas.
Quando trabalhava na Vara da Infância, cansava de ouvir casais dizendo na entrevista que queria uma criança recém nascida, por não ter traumas e ter um menor número de bagagem familiar. “Uma criança pequena é bom para eu colocar do meu jeito. Eu ouvi dizer que é melhor, por que criança grande já vem com vícios da instituição”.
Isso é egoísmo e é um equívoco COM-PLE-TO! A maioria dos estudiosos concorda que quanto mais cedo a criança puder ser adotada melhor. Menores são as situações e as lembranças de rejeição. Mas outras idéias vêem sendo difundidas de que a situação de privação afetiva e a separação da família biológica não são boas em qualquer idade (Levinzon, 2004).
Ao adotarmos, estamos acolhendo um ser humano, já composto por uma complexa dinâmica psíquica, independente da idade. Quem garante aos adotantes que aquele recém-nascido será uma criança brilhante, otimista, criativa, bem socializada? Nem os pais biológicos têm essa garantia com seus filhos. O bebê já traz memórias desde o últero materno. E quem é que nunca conheceu uma criança que, por maior as dificuldades enfrentadas por ela, era uma criança alegre, carinhosa, receptiva, espirituosa e otimista, capaz de enxergar as melhores nuances de uma situação difícil? Eu já conheci muitas, principalmente em abrigos.
Eu agora quero saber. "Quais são os traumas que vocês trazem, pais adotivos? Vocês estão preparados para serem pais, estão muito novos ou muito velhos para tornarem-se pais?"Até mesmo antes de se tornarem pais, alguns adotantes já estão delineando a vida dos futuros filhos, escolhendo por eles como devem ser e o caminho que devem seguir. Estas pessoas não estão preparadas para serem pais. Claro que queremos o melhor para quem a gente ama, mas será que teremos o controle disso?
Todos nós influenciamos e somos influenciados a todo instante pelo meio, não importa a idade que temos, isso só irá depender do amor que sentimos, da identificação, do desejo de mudar e não da força ou do controle do outro, que acha que ser deste ou daquele modo é mais correto.
Vejo que a criança, em qualquer estágio de vida, quando é adotada, passa a desejar ser como os novos pais. Às vezes o processo é lento, mas se o amor existe, a família torna-se muito coesa e harmoniosa e a criança adotiva passa a parecer até fisicamente com os novos pais com o passar do tempo.
Lembrem-se, os laços de sangue não são os mais fortes, se fossem não existiriam filhos biológicos abandonados. Tenho certeza que poderemos construir lanços afetivos parentais com qualquer criança, só basta sentir empatia e o desejo de estarmos receptivos ao que ela tem para nos oferecer e isso passa longe de ter a ver com cor, sexo ou idade.
Lembrem-se, os laços de sangue não são os mais fortes, se fossem não existiriam filhos biológicos abandonados. Tenho certeza que poderemos construir lanços afetivos parentais com qualquer criança, só basta sentir empatia e o desejo de estarmos receptivos ao que ela tem para nos oferecer e isso passa longe de ter a ver com cor, sexo ou idade.
Muitos casais ou solteiros acabam adotando uma criança diferente do perfil que desejavam inicialmente, ao “se apaixonarem” por outra fora das expectativas.
Não é verdade que uma criança com uma faz etária maior, causa mais problemas ou se adapta mais dificilmente quando é adotada. Essas crenças são fantasias nascidas dos preconceitos. Caracteriza-se um dos maiores mitos na adoção. Se fosse assim, crianças que viveram em situação de risco, abandono ou cresceram em abrigos não mereceriam ter uma família? São crianças problemáticas? Menos merecedoras de afeto por terem traumas? Elas, como todas as outras menores, merecem uma família, são capazes de mudar. E o fato de terem traumas, como todos nós, não as deixam inaptas a estabelecer com sucesso uma relação afetiva verdadeira, baseadas no respeito e no amor.
Por Cintia Liana
Referência:
Levinzon, G. K.. Adoção. Coleção Clínica Psicanalítica / dirigida por Flávio Carvalho Ferraz. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2004.
Um comentário:
Apoiada rsss
Concordo plenamente com tudo que disse. Engraçado que eu e meu marido qdo decidimos pela adoção a primeira coisa que combinamos foi que não seria um bebê. Talvez pq temos filhos biológicos e sabemos bem o trabalho que eles dão rsss. Nunca pensei em não querer uma criança maior por conta de suas vivencias e lembranças. Sério mesmo, nunca pensei nisso, só fui pensar a respeito qdo comecei a participar de grupos e as pessoas começaram a falar sobre o assunto. Talvez se as pessoas começassem a ver a vida como uma sucessão de adoções entenderiam melhor e teriam menos preconceitos. Afinal, adotamos amigos, maridos, namorados, a família deles....
Não sei pq as pessoas pesam tanto os laços de sangue, qdo sabemos que o mais importante na vida são os laços de afeto e esse não tem nada a ver com sangue...
beijinhos
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