Por Cintia Liana Reis de Silva
"Muitas vezes, os adultos fazem das crianças o repositório de sua imaginação e expectativas, não se dando conta das conseqüências futuras de suas fantasias. Os filhos carregam sobre si o peso das esperanças dos pais para depois, muitas vezes, arrastarem, também, o fardo das suas frustrações” (Nascimento et al, 1998).
Um aspecto muito importante é pouco considerado por muitos candidatos a adoção é a adaptação da criança à nova família, à nova casa, às novas relações. Nos esquecemos das dificuldades e dúvidas de quando somos crianças, nos esquecemos de que a forma de entender e ter segurança é muito diferente. Por esse motivo, os adultos costumam achar que a criança se adapta a qualquer ambiente como nós, basta ela estar um ambiente agradável ao nosso olhar. Esse é um grande equívoco, que pode dificultar ainda mais o processo de integração da criança na família substituta.
A criança necessita de tempo para entender o novo local, confiar nas novas pessoas que estão ao seu redor, acostumar-se com o novo espaço, com a nova alimentação, sentir segurança nos objetos que a cercam e ainda demanda algum tempo para sentir verdadeira segurança nos novos pais e diminuir o medo de ser novamente abandonada.
Por esse motivo, é muito natural a criança inicialmente ter enurese noturna, pesadelos, chorar em alguns momentos e sentir medo de algumas coisas. A dimensão do mundo é diferente para a criança. É preciso ter muita paciência e compreensão quando iniciar a convivência com o futuro filho adotivo, pois ele precisará de respeito e isso faz parte do amor que está sendo construído e desenvolvido entre as pessoas. A adaptação, por mais difícil que seja para a criança não precisa ser algo ruim, mas faz parte do que ela é, do seu entendimento de mundo e isso precisa ser respeitado.
O estudioso Bert Hellinger, da “Constelação Familiar”, tem uma linha de pensamento muito marcante. Ele lembra que uma adoção deve ser justificada quando a criança não tem mesmo condições de ficar com sua família natural. Hellinger diz ainda que os pais adotivos, se não expressarem respeito pelos pais naturais e se sentirem, de forma secreta, superioridade frente a eles, a criança, inconscientemente, poderá manifestar solidariedade para com seus pais naturais. Os pais adotivos têm que se conscientizar de que são substitutos dos pais biológicos e que são capazes de entender seus filhos adotivos e aceitar que validem seus sentimentos ligados a rejeição, desta forma os pais substitutos serão melhor aceitos pela criança, ela reconhecerá a substituição como algo positivo. Ser substituto não significa estar em um nível inferior, significa agregar, neste caso.
Os novos pais também, inicialmente, poderão ser alvo do ressentimento que a criança sente por seus pais naturais, por ter sido rejeitada e esse registro é real no interior da criança. Quando isso acontece, até pode significar que a criança confia nos pais, ao ponto de se sentir a vontade para manifestar sentimentos que a incomodam.
Hellinger também fala da importância do pais adotivos aceitarem que a criança teve dois primeiros pais e que eles chegaram para realizar o que não estava ao alcance do pais naturais, então assim a criança, de fato, aceitará melhor os novos pais.Vejo isso claramente em adoções muito bem sucedidas, quando os pais adotivos permitem e incentivam verdadeiramente que seus filhos tenham um contato (emocional) amigável com seus pais naturais, exercitando o desapego. Eles permitem que a memória dos pais naturais façam parte da vida afetiva da criança.
Os novos pais também, inicialmente, poderão ser alvo do ressentimento que a criança sente por seus pais naturais, por ter sido rejeitada e esse registro é real no interior da criança. Quando isso acontece, até pode significar que a criança confia nos pais, ao ponto de se sentir a vontade para manifestar sentimentos que a incomodam.
Hellinger também fala da importância do pais adotivos aceitarem que a criança teve dois primeiros pais e que eles chegaram para realizar o que não estava ao alcance do pais naturais, então assim a criança, de fato, aceitará melhor os novos pais.Vejo isso claramente em adoções muito bem sucedidas, quando os pais adotivos permitem e incentivam verdadeiramente que seus filhos tenham um contato (emocional) amigável com seus pais naturais, exercitando o desapego. Eles permitem que a memória dos pais naturais façam parte da vida afetiva da criança.
Dentre muitas adoções, lembro especialmente a de um casal de 56 e 60 anos e uma menina de 5 anos. M., ao iniciar a convivência com seus pretendentes a pais adotivos, também iniciou um processo de agressividade intensa, em que ela jogava objetos no chão, chorava muito, gritava com o casal e o testava para saber se iria ser rejeitada novamente. O casal, em acompanhamento psicológico, entendeu seu processo, estava desesperada com medo de perder o que estava conquistando, estava passando pela fase em que estava deixando de ser a garota abandonada para ser a filha querida e amada, e não estava sabendo lidar com essa nova realidade, esse novo lugar que estava ocupando.
A. e F. deram tempo ao processo emocional com muita paciência e, ao mesmo tempo, dando os devidos limites, permitindo que ela sentisse raiva, mostrando a M. que ela poderia confiar neles, dando espaço para o diálogo, mesmo M. tendo atitudes anti-sociais. M. percebeu que poderia confira nos novos pais, que eles não iriam abandoná-la, como fizeram os primeiros, entendeu que estavam alí para ajudá-la. Após dois meses de acompanhamento psicológico, a criança passou a ter uma convivência tranqüila, aos poucos atendendo as expectativas do casal e as do acompanhamento.
Hoje se expressa de forma saudável, travou com toda a família uma relação de amor e respeito e o casal continuou muito apegado à ela, a vendo cada vez mais como verdadeira filha. O que propiciou esta mudança e este equilíbrio foi a persistência e o amor incondicional que os requerentes sentiam pela criança, além disso as pessoas envolvidas se abriram totalmente para o acompanhamento psicológico.
A criança também pode manifestar tendências anti-sociais por querer mostrar que há algo de errado com ela, por estar sofrendo algum tipo de privação ou sofrendo com algum sentimento que ela não está sabendo lidar. Por exemplo, ao furtar objetos a criança pode não estar buscando o objeto em si, mas querendo buscar a mãe, buscar uma relação com os novos pais suficientemente boa. (Eldridge apud Winnicot, 2004)
Então Levinzon (2004) explica que quando os pai adotivos passam a ter fantasias como, “se fosse meu isso não aconteceria” ou “se pudesse, eu o devolveria”, devem ser colocadas em palavras, devem ser reconhecidas e os pais devem perceber a decepção e o cansaço.
Quando o casal passa a rejeitar a criança, isso faz com que a criança se distancie mais ainda tornando, às vezes, inviável a conclusão da adoção.
Eldridge alerta também para o que desencadeia a raiva do adotado, como a rejeição percebida, a falta de respeito diante de seus sentimentos ou quando a criança se sente roubada ou comprada. Raiva por medo de não ter suas necessidades básicas atendidas, medos de não ter carinho ou comida no dia seguinte ou de não ter os pais para sempre. Por todos esses motivos a adoção precisa ser um ato pensado e amadurecido e com certeza terá sucesso se as pessoas envolvidas tiverem a verdadeira disposição para aceitar e amar plenamente.
Por Cintia Liana
Referência:
Eldridge, Sherrie (2004). Vinte coisas que os filhos adotivos gostariam que seus pais adotivos soubesses.
Levinzon, G. K.. Adoção. Coleção Clínica Psicanalítica / dirigida por Flávio Carvalho Ferraz. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2004.
Nascimento, R. F. L. do, Argimon, I. I. de L., Lopes, R. M. F., Wendt, G. W. e Silva, R. S. da. O processo de Adoção no Ciclo Vital. [online] Disponível na Internet via www. URL:http://www.redepsi.com.br/portal/modules/smartsection/item.php?itemid=293. Arquivo capturado em 17 de fevereiro de 2007.
Um comentário:
Cintia,
Eu acredito que essa parte de testar o amor dos pais adotivos deva acontecer com todas as adoções tardias. Pelo menos as que eu conheço passaram por esse processo. Não é fácil, principalmente para pais que não leram sobre o assunto, não buscaram informações. Mas passa, às vezes mais rápido outras demora um pouco, cada criança tem seu tempo. Precisamos ter pasciência, respeito e muito amor.
Essa parte não me assusta, aliás nada me faz desistir da adoção rssss, nada me assusta pq é um desejo muito bem amadurecido. Estou sempre aprendendo e querendo saber mais, participo de grupo de apoio e leio muito.
Agora só falta os filhos chegarem rsss
beijinhos
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