"Uma criança é como o cristal e como a cera. Qualquer choque, por mais brando, a abala e comove, e a faz vibrar de molécula em molécula, de átomo em átomo; e qualquer impressão, boa ou má, nela se grava de modo profundo e indelével." (Olavo Bilac)

"Un bambino è come il cristallo e come la cera. Qualsiasi shock, per quanto morbido sia
lo scuote e lo smuove, vibra di molecola in molecola, di atomo in atomo, e qualsiasi impressione,
buona o cattiva, si registra in lui in modo profondo e indelebile." (Olavo Bilac, giornalista e poeta brasiliano)

quarta-feira, 25 de março de 2015

O beijo


Google Imagens

Por "Os Entendidos"

Vamos entender a "polêmica" e esclarecer alguns pontos:

1. O casamento gay é facultativo. Em nosso país, o Brasil, ninguém é obrigado a se casar com um gay. Se você não é gay, isso não te diz respeito.

2. O Beijo gay é o mesmo que qualquer Beijo. Ser gay é algo intrínseco, íntimo, não de Beijos. Não existe Beijo negro ou Beijo gordo. Ah, o Beijo e o ato de Beijar também são facultativos. Ninguém é obrigado a Beijar alguém do mesmo sexo. Agora, podem dormir tranquilos.

3. A adoção de crianças por casais gays é quando um casal gay adota uma criança de um orfanato, não uma de sua casa. Se você não é gay e não é uma criança em um orfanato, isso não também não te diz respeito.

4. A Globo é só uma emissora dentre muitas. Eu, por exemplo, só tenho TV a Cabo e assisto-a quando é conveniente. Ninguém no Brasil é obrigado a assistir a Novela das 9 ou qualquer outra. Se você assiste, é porque quer.

5. Todos os programas no Brasil têm classificação indicativa. Nenhuma Novela é aconselhável para crianças de 6 ou de 7 anos. Então você estiver preocupado com seu filho ver Beijo de Novela das 9, então a Globo não é o seu maior problema, muito menos novelas. Antes de tudo, leia o Estatuto da Criança e do Adolescente.

6. Se você é cristão, saia do Levítico, do Deuteronômio, ou qualquer livro do Pentateuco e vá ler o Sermão da Montanha, para aprender o que é tolerância. Melhor, siga o famoso mandamento: " amem uns aos outros como eu teria vos amado".

Parafraseando a Pitty: "nenhuma mulher vai voltar pra cozinha, nenhum negro vai voltar pra senzala e nenhum gay vai voltar pro armário".

E viva o Estado Laico.

[Adaptação livre da postagem de Emmanuelle Lira.]

segunda-feira, 16 de março de 2015

10 coisas que você nunca deve dizer à mãe de uma criança com Síndrome de Down ou qualquer deficiência

Foto: familia.com.br


Para evitar constrangimento de ambos os lados, jamais diga ou pergunte à mãe de uma criança deficiente qualquer coisa dessa lista.

Muitas pessoas ainda se sentem constrangidas na presença de pessoas deficientes, mesmo de crianças especiais com suas mães. Em virtude disso, elas ficam sem saber como agir ou o que dizer.
  • Se você não quiser causar embaraço ou mágoa, evite dizer à mãe da criança coisas como:
  • 1. "Coitadinho"

    Nenhuma mãe quer que as pessoas sintam pena de seu filho especial. Ela quer que elas sintam carinho por ele, consideração.
  • 2. "A 'doença' do seu filho"

    Cuide bem com os termos que usar. Deficiência, esse é o termo correto. Usa-se, também, o termo Necessidades Especiais ou Criança Especial, jamais doente. A não ser que a criança esteja gripada, com problemas cardíacos, respiratórios ou com outra doença qualquer.
  • 3. "Sinto muito"

    Não precisa sentir muito. Muitas mães são gratas pelos filhos especiais que têm, e não precisam que alguém lamente por elas. Para muitas é um período de aprendizado e crescimento.
  • 4. "Eu não saberia lidar com uma situação dessas"

    Ainda que você queira demonstrar sua grande admiração pela garra dessa mãe, não diga isso. Saiba que se você tivesse um filho especial, você saberia lidar com ele, sim. Toda mãe tem potencial para dar tudo de si para melhorar a vida do seu filho.
  • 5. "Ele parece tão normal"

    As mães de pessoas com Síndrome de Down ou outra deficiência têm que lidar com os conceitos "normal" e "diferente" o tempo todo. Na verdade, na maioria das vezes são os outros que as lembram disso. No dia a dia é bem comum elas se esquecerem de que há diferença entre seus filhos.
    Ao mesmo tempo, elas têm ciência das características físicas, motoras e intelectuais deles. Elas não querem que eles pareçam "normais", elas só querem que eles sejam felizes do seu próprio jeito. Se pensarmos melhor, como definir o que é normal ou não?
  • 6. "Nem percebi que ele tinha 'alguma coisa'"

    Você não precisa disfarçar. A maioria das mães não se ofende quando as pessoas percebem a deficiência do seu filho. Mas pode se ofender se elas mentem não terem percebido.
  • 7. "Por que ele nasceu assim? De quem ele herdou a deficiência?"

    É um campo perigoso de invadir. Muitas deficiências, em especial a Síndrome de Down, acontecem por acidente genético. Isso significa que qualquer casal poderá ter um filho deficiente. E ainda que houvesse uma herança genética, que diferença isso faz? É um assunto que poderá trazer à tona culpas das quais o pai ou a mãe estão tentando se livrar.
  • 8. Usar a palavra com "R" (retard...) em qualquer circunstância

    Para ofendê-la, você não precisará usar esse termo para se referir ao filho dela, basta usá-lo para se referir a qualquer pessoa, deficiente ou não. É um adjetivo bastante ofensivo para quem tem um filho com necessidades especiais. Jamais o use na frente dela. Na verdade, seria melhor se você o eliminasse do seu vocabulário.
  • 9. "Você vai arriscar outro filho?"

    Eu ouvi isso muitas vezes, quando dizia que gostaria de ter mais filhos. Um médico geneticista chegou ao cúmulo de me dizer que eu "não deveria" ter outro filho, pois haveria tanto por cento de chance de ele nascer com Síndrome de Down também. Eu questionei: "E daí? Vou amá-lo do mesmo jeito!" Ele disse com todas as letras que os médicos não querem mais crianças assim no mundo. Foi algo chocante de se ouvir.
    Bom, eu tive mais dois filhos ditos "normais", que foram uma bênção na vida do meu garotinho especial, e na minha.
  • 10. Nada

    Não dizer coisa alguma ou não fazer perguntas soa como se a presença da criança não fizesse qualquer diferença, como se ela fosse invisível. Aposto que nenhuma mãe se ofenderia com perguntas educadas ou comentários gentis sobre seu filho. Então, encontre algo positivo para falar e tudo estará bem.
  • Um conselho é simples

    Aja naturalmente. Sorria para a criança e sua mãe, pergunte seu nome. Olhe para a criança. Não tente desviar o olhar. É muito estranho ver uma pessoa se esforçando para não olhar para seu filho. Por outro lado, pior ainda é ver uma pessoa olhando-o fixamente, como se nunca tivesse visto uma pessoa deficiente antes. Tudo o que é feito naturalmente e de boa vontade tende a funcionar bem.

Fonte: http://familia.com.br/fam%C3%ADlia/10-coisas-que-voce-nunca-deve-dizer-a-mae-de-uma-crianca-com-sindrome-de-down-ou-qualquer-deficiencia

sexta-feira, 13 de março de 2015

Famílias. De que são constituídas?

Um ótimo texto da minha querida amiga Lara Almeida, que é muito bem vindo nesse momento onde querem aprovar um projeto de lei que reconhece só como família aquela costituída por casal heterossexual e com filhos biológicos. Sim, é verdade! Eles querem dizer que casais com filhos adotivos não são família e nem casais homossexuais! 

O que é a família se não pessoas ligadas por um profundo sentimento de amor e fazem o projeto da passar a vida juntos? Quem determina a família é o amor e o compromisso de respeito.

Teve até um tiwttaço organizado e feito pela comunidade adotiva dia 10 desse mês. Fiquem ligados nos próximos para que possamos defender a quem precisa. 

#emdefesadetodasasfamilias 
#nossafamiliaexiste

Google Imagens

Por Lara Almeida 

Famílias. De que são constituídas?!

Quais os valores?! Quais os princípios?! Quais as regras?! Quais os moldes?! Quais os compromissos?!

Dicionário: A família é unidade básica da sociedade formada por indivíduos com ancestrais em comum ou ligados por laços afetivos.

Uma família, para constituir-se, basta a união de duas (ou mais)pessoas, por livre e espontânea vontade, pautadas no AMOR, UNIÃO, RESPEITO A SI E AO PRÓXIMO, RESPONSABILIDADES, COMPROMISSO COM O SEU BEM ESTAR E O BEM ESTAR DO SEU SEMELHANTE. Mas ressaltamos que esses valores e condutas devemos adotar sempre, independente de estarmos solteiros ou se vamos ou não construir uma família.

Família é constituída desse valores e de tantos outros. A desinência de gênero é o que menos importa! 

A partir do momento que ferimos os princípios de AMOR E RESPEITO, julgando o nosso semelhante pelas escolhas realizadas, usando termos ofensivos para tratar famílias de pais homoaferivos, fortalecidas e pautadas nesses valores, julgando-nos superiores porque aderimos outro modelo de relacionamento e/ou orientação sexual, estamos sendo medíocres, vazios, inescrupulosos e falhos, pois o julgamento embasado no preconceito cego, no ódio e no falso moralismo e falsa profetização da Bíblia, já que muitos a usam como parâmetro para sustentarem seus preconceitos e até mesmo seus desejos frustrados, é uma moléstia grave, um desvio de caráter e faz-se urgente a necessidade de tratar-se! 

Essas pessoas ferem a própria Bíblia, que diz em seus mandamentos: AMAI AO PRÓXIMO COMO A SI MESMO. E a AMAR meus caros, é respeitar as diferenças de raça, de cor, de gênero, de opinião, de conduta, de parâmetro, de estilo de música, de gosto, etc. AMAR vai além do preconceito infundado e desmedido, que dissemina o Ódio e a injúria gratuitamente, provocando reações diferentes e divergentes das Leis de Deus e dos Homens. Toda família deve ser criada e fortalecida no Amor, pois só o Amor é capaz de provocar uma cascata de sentimentos e ações positivas!

Família só tem um molde: o do Amor!
Família só tem um princípio: o do Amor!!
Família só tem uma regra: a do Amor!!!
Família só tem um compromisso: com o Amor!!!!
O AMOR constrói. O AMOR edifica. O AMOR fortalece. O AMOR não julga. O AMOR não fere. Só o AMOR salva!

Por Lara Almeida



sábado, 7 de março de 2015

Você quer ser mãe ou apenas ter um bebê?

Mais um texto incrível da minha caríssima amiga Mônica Montone.


Por Mônica Montone

Reflita antes de engravidar e conheça a diferença entre ter um bebê e criar um filho.
Há aproximadamente cinco anos escrevi um texto para a Revista do jornal O Globo chamado “Filho é para quem pode”. No texto, eu não fazia nenhum tipo de apologia contra a maternidade, apenas falava sobre a minha opção de não ter filhos, apesar de ser biologicamente saudável e do imenso amor que sinto pelas crianças.
Não imaginava que o assunto fosse um tremendo tabu e pudesse gerar tanta polêmica.
Em dois dias, mais de duzentos e-mails entupiram minha caixa de entrada. A grande maioria deles era de mulheres me agradecendo por ter tomado a iniciativa de falar abertamente sobre o tema – muitas delas relatavam que estavam levando o texto dentro de suas bolsas para ler para amigos e familiares quando se sentiam pressionadas. Já outras preferiram me agredir, dizendo que eu devia ser mal comida, mal amada, que devia ter o útero seco, que devia ter uma péssima mãe, que devia ser proibida de escrever essas bobagens num grande veículo, etc, etc, etc.
Eu poderia ter me dado ao trabalho de dizer que nenhuma das afirmações era correta, que minha mãe é maravilhosa, que tenho um homem incrível ao meu lado há mais de dez anos que me devota amor e me come deliciosamente, que sou plenamente saudável e questioná-las sobre a liberdade de escolha, mas para quê?
Acabei sendo convidada a participar de programas de TV como Fantástico, Sem Censura e Happy Hour e, anos depois, quando a revista Veja fez uma matéria sobre uma pesquisa do IBGE que apontava a queda da natalidade no Brasil entre mulheres com nível universitário, fui convidada a dar minha opinião na matéria, mas declinei.

Declinei porque não levanto bandeiras, não sou contra a maternidade e acho que cada pessoa tem o direito de viver de acordo com seus sonhos e necessidades. Meu texto falava sobre a minha opção pessoal e convidava o leitor a refletir sobre alguns pontos, como:
“Filhos não são pílulas contra a monotonia, pílulas da salvação de uma vida vazia e sem sentido, pílulas “trago seu marido de volta em nove meses”. Penso que antes de cogitar a possibilidade de engravidar, toda mulher deveria se perguntar: eu sou capaz de aceitar que, apesar de dar a luz a um ser, ele não será um pedaço de mim e, portanto, não deverá ser igual a mim? Eu sou capaz de me fazer feliz sem ter alguém ao meu lado? Eu sou capaz de abrir mão de determinadas coisas em minha vida sem depois cobrar? Eu sou capaz de dizer ‘não’? Eu quero mesmo ter um filho ou simplesmente aprendi que é para isso que nascemos: para constituir família?” O texto está no meu livro A Louca do Castelo, mas pode ser lido na íntegra aqui.
Pois bem, esta semana deparei-me com um vídeo de humor no Facebook, do tipo jornalismo fake, que conta com mais de 35.000 compartilhamentos. Conteúdo do vídeo: uma mulher casada há mais de 12 anos, com três filhos e dois empregos, resolve roubar uma loja e acaba sendo presa. O marido envia um advogado, mas ela se nega a sair da prisão porque se sente feliz atrás das grades e alega: “pela primeira vez na vida estou tendo tempo, vou colocar toda a minha leitura em dia e ouvir todos os discos que tenho vontade, estou amando esse silêncio”.
Não consegui rir. Senti um profundo desalento assistindo ao vídeo. Apesar de saber que se tratava de ficção não pude deixar de fazer a pergunta: por que, ou para quê, essa mulher teve filhos?
Tenho observado que apenas 20% das mulheres que conheço e que tiveram filhos nos últimos tempos parecem felizes. A grande e esmagadora maioria, se pudesse, faria como a atriz do vídeo: fugia, ainda que fosse para a prisão. Mulheres que detestam suas novas rotinas que incluem cuidar da alimentação diária, higiene e da boa educação das crianças, levar e buscar em escola, natação, médico; passar noites sem dormir. Reclamam constantemente de suas aparências, não apenas do ganho de peso que não conseguiram se livrar após o nascimento da criança, mas também de olheiras, flacidez, unhas por fazer, cabelo por cuidar. Queixam-se de falta de envolvimento, romance e apetite sexual do parceiro (ou delas próprias).
As que abriram mão da vida profissional para cuidar dos filhos, cedo ou tarde se sentem insatisfeitas (para não dizer deprimidas) com a vida doméstica. As que tentam conciliar filho e trabalho, em geral, parecem bombas-relógios prestes a explodirem e cobram paulatinamente um envolvimento maior dos pais, o que gera muitas discussões e desgasta bastante os relacionamentos.
Ok, os pais deviam (devem!) participar ativamente da criação dos filhos, mas não tem jeito: na hora que o bicho pega a criança grita pela mãe, quer a mãe. Portanto, por mais que os pais sejam presentes e ativos, infelizmente o trabalho da mãe será sempre dobrado.
Assistindo ao vídeo e pensando nas mamães aparentemente infelizes que conheço, penso: elas não sabiam que seria assim? Elas não sabiam que suas vidas mudariam completamente?
Impossível acreditar que, em plena era da informação e da tecnologia, com milhares de revistas e blogs sobre o assunto, algumas mulheres não tenham ciência do quão trabalhoso é criar um filho. É como digo no texto “Filho é para quem pode”: “Dar a luz a um bebê é fácil, difícil é ser mãe da própria vida e iluminar as próprias escuridões”.
Conheço mulheres que detestam crianças, não têm paciência para crianças, mas dizem que querem ter filhos. Confesso que não compreendo isso. Fico me perguntando: elas querem ter um filho ou um bebê?
Sim, porque existe uma diferença enorme entre uma coisa e outra. Bebês são fofos, dengosos, cheirosos. Quem resiste ao sorriso de um bebê e a um quartinho todo decorado com girafinhas e frufrus? E os sapatinhos mimosos? Uma delícia tudo isso, não? Finalmente uma boneca de verdade. Ocorre que a boneca cresce. Torna-se um ser humano com vontades próprias. Desobedece, faz pirraça, adoece, chora, briga na escola, quer a mochila da Pepa, o tênis do Ben10. Cresce e torna-se adolescente. E na adolescência, como sabemos, o trabalho (e as preocupações) triplica. Sem esquecer os gastos que a criação de uma criança implica e lembrando que, para aquele bebê cheiroso e dengoso se tornar um ser humano digno, amável, respeitável, bem educado e de bom caráter, é preciso muito empenho, amor, carinho e dedicação integral. É preciso vigília constante, sobretudo dar bons exemplos, abrir mão de muita coisa.
Não sei, mas tenho pensado a cada dia que passa que, como tudo na vida, a maternidade pode ser uma questão de aptidão. Existem mães plenamente felizes e realizadas com suas escolhas, responsáveis, que criam seres saudáveis para a vida adulta, cercando-os de amor, carinho e compreensão; que não enxergam a dedicação diária como um peso.
Por que isso não acontece com todas as mães? Talvez porque algumas não tenham aptidão! Engravidam somente para atender a cobranças sociais, constituírem família por acreditar que não tiveram uma suficientemente boa e/ou, pior, para ter quem cuide delas na velhice – o que, convenhamos é no mínimo egoísta.
Como tudo na vida, quando estamos cientes de nossas escolhas (e motivações) e de suas consequências, a jornada se torna mais agradável. Portanto, gurias, não deixem de se perguntar nunca: quero ter um filho ou um bebê para fazer fotos engraçadinhas e postar nas redes sociais? E boa viagem, seja lá para que lado for...
Por Mônica Montone, é escritora, autora dos livros Mulher de minutos, Sexo, champanhe e tchau e A louca do castelo.


Fonte: http://lounge.obviousmag.org/monica_montone/2015/02/voce-quer-ser-mae-ou-apenas-ter-um-bebe.html


quinta-feira, 5 de março de 2015

Adolescência, adoção e autoestima

We Heart it

Por Cintia Liana Reis de Silva
Publicado no dia 26 de fevereiro no Guia Indika Bem

É fundamental que toda criança saiba o quanto antes sobre a sua adoção, que cresça ouvindo esse tema com naturalidade em casa, sem tabus. Essencial que saiba também antes da adolescência, que conheça alguns aspectos de sua origem. É saudável que ela cresça sabendo que não é diferente das outras pessoas porque foi adotada. A adoção é só mais uma forma de ganhar filhos e pais, a forma da escolha pelo desejo de amar.
Cada pessoa há o seu próprio valor e isso é algo que não pode ser medido. Todos são importantes também na vida de outras pessoas. O fundamental é que cada pessoa encontre o seu senso de valor interno, descubra a sua própria importância e isso é algo subjetivo. Essencial é se conhecer e se enriquecer pessoalmente, desenvolver valores e virtudes, bons princípios éticos, sensibilidade, delicadeza e educação emocional para viver bem. A adoção não diminui ninguém, ao contrário, ter sido “escolhido” e adotado por novos pais é uma nova oportunidade de uma vida com amor em família. Sobretudo, devo lembrar que ninguém tem culpa ou responsabilidade por não ter podido ser acolhido pela família de origem.
Adotar não é fazer caridade, quem percorreu essa estrada é alguém que queria muito ter filhos e realizar esse sonho através da adoção, ou seja, que estava certo dessa escolha. Mas é preciso desprendimento, pois na sociedade ainda encontramos muitos preconceitos, mitos e informações distorcidas a respeito. Quem adotou é porque não só enfrentou os seus próprios medos pelo desejo de ter uma criança, mesmo que nascida em outra família, em uma família desconhecida, mas também é seguramente uma pessoa que enfrentou muitas palavras duras de pessoas ignorantes que não conhecem a grandeza de uma relação de amor sem laços biológicos.

É preciso um espaço de diálogo, desabafo, aceitação e respeito para fazer com que o adolescente não sinta raiva e nem alimente muitas mágoas dos pais biológicos que o “abandonaram” ou não tiveram condições de criá-lo. O adolescente pode refletir a respeito de que muitos pais, que fazem um projeto de adoção para o seu filho, são pessoas também vítimas de uma família desestruturada, de um lar infeliz. Muitos escolhem doar o filho com muito sofrimento. Na terapia familiar se fala muito sobre a repetição dos modelos familiares, o que chamamos de padrões intergeracionais.
Indivíduos que não se sentem capazes de se tornar pais, não sentiram segurança afetiva em seus pais, e ao se tornarem genitores “perderam completamente o chão”. Já recebi e-mails de mulheres grávidas desesperadas, sem nenhum suporte emocional ou financeiro, por terem engravidado sem planejamento e sem nenhum condição emocional, familiar ou financeira. Algumas estavam completamente perdidas psicologicamente.
O adolescente pode refletir sobre como é se sentir assim, não julgar, tentar amadurecer para compreender e principalmente não repetir o mesmo “erro”. Devo lembrar que fazer terapia é algo magnífico que pode libertá-lo de muitas dúvidas e dores emocionais.
Pode ser proveitoso que o adolecente procure por seus pais biológicos, caso sinta vontade. É aconselhável que procure, mas se existir o real desejo e a preparação emocional para esse contato. Conhecer e fazer as pazes com a própria história é sempre importante, encarar e desenvolver a própria identidade também, e essa primeira família sempre fará parte dessa história.
Mas se deve sempre estar atento ao modo de reagir, caso haja uma resposta de indiferença da família de origem ou que se descubra uma informação difícil de aceitar. Sentir raiva, se assustar, se desiludir e sofrer podem fazer parte, mas se deve ter um tempo para refletir sem reagir abruptamente, é preciso digerir e superar essa realidade. Todas essas descobertas podem ser administradas e superadas. Com o auxílio de uma terapeuta pode ser bem mais fácil e seguro, assim como com o apoio e o suporte dos pais adotivos.
O adolescente deve entender que se ele foi rejeitado, não é porque há algo de errado com ele, mas sim com o grau de maturidade dos pais de origem. Poderia ser qualquer outro bebê, que aconteceria a mesma coisa. O problema não está com quem foi rejeitado e sim com quem rejeitou, que não teve condições de seguir adiante e realizar o “projeto” de ter um filho, que é o maior projeto de vida que alguém pode ousar sonhar. É necessário falar sobre essa dor com pessoas de confiança, desabafar, falar com algum profissional, pois só assim essa dor poderá ser devidamente curada.
Se o adolescente for alvo de preconceitos por ser adotado o ideal é pedir ajuda a um adulto, pois ele terá alguma autoridade para conduzir a situação com maturidade. Ninguém merece ser vítima de humilhação por nenhum motivo. Quem passa por esse tipo de situação deve compreender que não há vergonha em ter sido adotado, ao contrário, se teve outra oportunidade, se foi escolhido por novos pais e que não existem pais falsos ou verdadeiros, existem pais.
Caso haja necessidade, o adolescente deve pedir ajuda para que se equilibre e se oriente no sentido de dar respostas claras e curtas aos insistentes, ou simplesmente ignorar as provocações. E lembrem-se, quem tem preconceito com a adoção é quem há problemas. Quem sente que ser adotado é a única forma de se tornar filho está redondamente certo, pois até o filho biológico precisa ser adotado para ser filho.
Se o restante da família (tios, primos, irmãos, etc.) o tratam diferente pelo fato de ser adotado é necessário recorrer aos pais. Mas nas família onde os pais não tratam a adoção como uma filiação de segunda categoria, não há motivos para os demais tratem a adoção de modo preconceituoso. A criança acaba sendo sentida e tratada como “nascida” ali, pois não há diferença no amor. Mas se isso acontecer, é preciso repensar as relações e a postura de todos, inclusive das “vítimas” do preconceito, que deve ter o cuidado para não se marginalizar e sim informar e tratar os preconceitos.
O adolescente pode dividir a sua história da adoção com as pessoas que preferir. Tudo vai depender de como a pessoa sente a sua história. Se ela tem orgulho, não há motivos para esconder. Em todo caso, não é preciso sair dizendo a todos que foi adotado, pois esse fato não faz dela mais ou menos filho, ele é filho.
Se ele quer manter segredo, é bom que reavalie os motivos, por que adoção é um tema muito bonito e quem melhor de quem foi adotado para segurar essa “bandeira” e defender a causa das crianças que ainda estão esperando por uma família? Não é se escondendo que trabalharemos os preconceitos e sim ensinando a quem ainda é ignorante, é falando sobre. Mas cada um faz o que pode e como pode.
O adolescente deve se indagar, se trabalhar e falar sobre o tema com os pais e as pessoas de confiança, para se fortalecer, assim estará em grau de falar sobre o assunto de um modo natural. Não há nada de extremo na adoção. Deve passar a certeza de que a adoção é o único modo de constituir família e que todos precisam ser adotados para ocupar um lugar importante na vida do outro e que ele, o adolescente, tem o seu lugar todo especial na vida dos pais, o lugar especialíssimo de filho.

Cintia Liana Reis de Silva

Fonte: http://indikabem.com.br/filhos/adolescencia-adocao-e-autoestima

Filhos adolescentes adotados e suas dificuldades emcionais

We Heart it

Por Cintia Liana Reis de Silva
Publicado dia 12 de fevereiro de 2015 no Guia Indika Bem

Não é verdade que filhos adotivos possuem quase o dobro da possibilidade de, durante a adolescência, desenvolverem problemas comportamentais ou emocionais.

Não é verdade porque todas as pessoas podem vir a ter problemas existenciais e comportamentais na infância, adolescência e ao longo da vida.

De onde vêm os problemas emocionais? Eles têm origem nas feridas emocionais. Todo ser humano tem seus traumas e pode, em algum momento, passar por situações difíceis, turbulentas,  viver histórias de incerteza, que lhe rendam ansioso, inseguro, infeliz, como por exemplo, se sentir rejeitado, não aceito, muito criticado, presenciar brigas na família, ter um pai muito autoritário, uma mãe super controladora ou a separação dos pais, mas cada pessoa pode reagir de um modo diferente, alguns de um modo mais rebelde e difícil, outros de um modo mais maduro, expressando sua raiva em palavras. É normal sentir raiva, a questão é saber como expressá-la e usá-la para a mudança. Isso também vai depender do modelo de conduta que se tem no lar, do espaço de escuta e aceitação que têm para expressar os seus medos e dificuldades, da segurança que sentem nas figuras paterna e materna.

O adolescente também pode criar um modo de convidar os pais a refletirem sobre o comportamento deles e em como esses comportamentos refletem no sentimento do adolescente diante da vida.
No caso de quem tem uma história de adoção, pode alimentar muitas fantasias, como a de ter sido rejeitado, abandonado. Ninguém gosta de se sentir assim, isso dói, mas tudo vai depender do temperamento do adolescente, do desejo de compreender a situação e do suporte afetivo que os pais adotivos lhe dão, e esse suporte e atenção curam feridas e podem fazer com que o adolescente supere suas dores e até as use a seu favor, se tornando mais forte.

Fazer terapia também ao longo da vida é bom para todos.

Cintia Liana Reis de Silva

Fonte: http://indikabem.com.br/filhos/filhos-adolescentes-adotados-e-suas-dificuldades-emocionais