"Uma criança é como o cristal e como a cera. Qualquer choque, por mais brando, a abala e comove, e a faz vibrar de molécula em molécula, de átomo em átomo; e qualquer impressão, boa ou má, nela se grava de modo profundo e indelével." (Olavo Bilac)

"Un bambino è come il cristallo e come la cera. Qualsiasi shock, per quanto morbido sia
lo scuote e lo smuove, vibra di molecola in molecola, di atomo in atomo, e qualsiasi impressione,
buona o cattiva, si registra in lui in modo profondo e indelebile." (Olavo Bilac, giornalista e poeta brasiliano)

domingo, 12 de setembro de 2010

História 3


Foto: Irene Lamprakou

Revista Veja São Paulo


"A gente só ganha se alguém der dinheiro para comprar" – Alaíde

Este Natal promete ser bem melhor para Alaíde Marques Miranda, de 8 anos, uma das 85 crianças que vivem na Aldeia SOS de Rio Bonito, no Jardim Colonial. Há dois meses, ela ganhou uma madrinha dinamarquesa. A mulher de falar estranho veio ao Brasil só para conhecê-la, passou horas a seu lado, tirou fotos e deixou na afilhada a esperança de receber um presente até o dia 25.

No Natal passado, sem madrinha, Alaíde ficou de mãos vazias. "Acho que vai chegar dinheiro para minha mãe social comprar uma Barbie", acredita. A mãe social, no caso, é Adelaide Tonon da Silva, de 52 anos. Funcionária da organização não governamental criada na Áustria em 1949 e presente em diversos países,

Adelaide é encarregada de administrar uma das onze casas de três quartos, sala, cozinha e banheiro. Mora lá, cuidando de Alaíde e de outras sete crianças. Como se fosse uma família, sem pai. Recebe mensalmente 800 reais. Com essa quantia deve garantir aos pequenos comida, roupa, educação e higiene. Para brinquedos, dificilmente sobra algum.

É o segundo final de ano que Alaíde passa com a família social. "Natal é um dia legal, com uma festa bonita em salão e comida diferente", define. "Eu como muita uva e melancia."

Quando tinha 3 anos, Alaíde perdeu a mãe biológica. Sem parentes, foi encaminhada à adoção. Quatro anos depois, em 1997, alegando dificuldades para cuidar da menina, os pais adotivos a entregaram à instituição. Entre as poucas lembranças desse passado conturbado que ela comenta, fala de um certo Papai Noel que viu na escola, antes de chegar à Aldeia. "Ele é bom, traz presentes, mas sei que é um homem disfarçado", diz. Pela própria experiência, ela não tem ilusões quanto à origem dos brinquedos que chegam. "A gente só ganha se alguém der o dinheiro para comprar", descobriu.

Publicação - Revista Veja São Paulo
Circulação - São Paulo – SP
Data - 23/12/98
Edição – 1578
Assunto - Abandono – Institucionalização
Título - Sete Histórias de Natal de Meninos e Meninas Carentes
Autora - Mirian Scavone


Postado Por Cintia Liana

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