"Uma criança é como o cristal e como a cera. Qualquer choque, por mais brando, a abala e comove, e a faz vibrar de molécula em molécula, de átomo em átomo; e qualquer impressão, boa ou má, nela se grava de modo profundo e indelével." (Olavo Bilac)

"Un bambino è come il cristallo e come la cera. Qualsiasi shock, per quanto morbido sia
lo scuote e lo smuove, vibra di molecola in molecola, di atomo in atomo, e qualsiasi impressione,
buona o cattiva, si registra in lui in modo profondo e indelebile." (Olavo Bilac, giornalista e poeta brasiliano)

terça-feira, 21 de setembro de 2010

História 7

Foto: Google Imagens

Revista Veja São Paulo

"O bom é que tem bastante festa de natal por aqui." – Fernando

Rosto miúdo, sorriso generoso, Fernando Tobias Vitório de Oliveira, de 9 anos, é um menino que já fabula. Basta dar atenção e ele emenda uma história atrás da outra. Sempre com a fantasia pintando cores que sua realidade não tem. "Eu tinha um cachorro doberman chamado 'Snoopy'", começa a narrar. "Ele era bonzinho, aí veio um bêbado e deu uma paulada na cabeça dele. Encontrei ele morto quando fui comprar pão e leite, enterrei e nunca mais quis outro cachorro." Depois vem com lembranças da mãe: "Ela contava histórias para mim e meus irmãos na hora de dormir, e a gente ouvia uma caixinha de música". Isso tudo foi antes de ele e seus três irmãos menores irem para o Solar da Alegria, no bairro do Belém, uma das três unidades de abrigo e encaminhamento que a Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor, Febem, mantém na cidade. A mãe perdeu a guarda dos quatro meninos por não ter condições de sustentá-los.

O Solar é um abrigo temporário para menores de 0 a 6 anos. Eles podem ficar lá até três meses. Depois disso, retornam às famílias ou são encaminhados para uma entidade que admita permanência longa. Pela idade, Fernando não poderia estar no Solar. No início ficou lá para não se separar dos irmãos. Depois, por estar cursando uma escola vizinha — apesar de os irmãos terem seguido para outra instituição.

"O bom é que tem bastante festa de Natal por aqui", diz, falando dos eventos agendados com antecedência por benfeitores. "Perdi algumas porque vou visitar meus irmãos no domingo." Nesses dias, ele se reúne com a mãe e os irmãos por algumas horas. Não é o bastante. Por isso, pede duas coisas ao velhinho de barbas brancas, desenhado com capricho em seu caderno: uma bicicleta e poder festejar o Natal com a família. Um pouco do que ele quer deve tornar-se realidade. Nesta semana ele se juntará aos irmãos na outra instituição.

Publicação - Revista Veja São Paulo
Circulação - São Paulo – SP
Data - 23/12/98
Edição – 1578
Assunto - Abandono – Institucionalização
Título - Sete Histórias de Natal de Meninos e Meninas Carentes
Autora - Mirian Scavone


Postado Por Cintia Liana

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