Foto: Google Imagens
Jornal O Dia - RJ
Uma pesquisa do Juizado da Infância e da Juventude montou, durante três meses, uma pequena radiografia da situação de 932 menores que foram recolhidos na cidade e encaminhados para 32 instituições: 100% das crianças têm família. Foram largadas pelos pais ou fugiram de casa devido aos maus-tratos. O mais assustador é que 12% foram abandonados antes de completarem um ano de vida. Somente nesta semana, o juizado registrou o abandono de seis bebês nas ruas do Rio.
O caso mais recente pegou de surpresa a moradora da Rua Maria Amália, na Tijuca. Anésia Santiago da Silva, 42 anos, levou um susto em casa ao ouvir o choro estridente de um bebê, por volta das 21 h de quinta-feira. Nervosa, abriu a porta e encontrou, enrolado numa manta branca, um bebê moreninho de aproximadamente 20 dias, ao lado de uma bolsa de roupas.
Apanhou o bebê e o levou para dentro, constatando logo que estava com diarréia. Ela chamou a vizinha Lúcia Veiga de Lima, 40 anos, e as duas deram banho e mamadeira. Preocupada com a possibilidade de que o bebê tivesse sido roubado, dona Anésia decidiu levá-lo à 19ª DP (Tijuca), onde o caso foi registrado.
"Fiquei com muita pena de ver o bebê abandonado, mas não queria que ele ficasse na delegacia", disse Anésia. Casada e com uma filha de 13 anos, Anésia gostaria de adotá-lo, mas confessou que tem problemas de saúde que a impede de ficar com a guarda dele. Ela encontrou o bebê vestido com um macacão azul e os remédios Nistatina (para o intestino) e Sulfato Ferroso gotas (vitaminas) na bolsa.
O bebê foi levado para o abrigo do Cemasi Ayrton Senna, na Tijuca onde recebeu o nome provisório de Ricardo Senna. Ontem, Ricardinho foi adotado por uma das 120 famílias cadastradas no programa de adoção da 1ª Vara da Infância e da Juventude, e ganhou o nome Caio.
5 Minutos com Siro Darlan
"Não vamos prejudicar nossas crianças".
Em apenas uma semana, seis bebês foram abandonados pelos pais nas ruas do Rio e encaminhados para a 1ª Vara da Infância e da Juventude. Além de ajudar na procura de um novo lar, o juizado prepara um curso para tentar reeducar as famílias que mendigam e exploram o trabalho de seus filhos. De acordo com o juiz Siro Darlam os pais que não aproveitaram a chance e reincidirem serão responsabilizados com base no Estatuto da Criança e no Código Penal. A punição pode chegar a três anos de detenção.
l - O que mais chamou a atenção do senhor nessa pesquisa?
Foi descobrir que em 100% dos casos as crianças que foram recolhidas nas ruas têm famílias; em 12%, têm menos de 1 ano de vida e em 70%, são menores explorados pelos próprios pais.
2 - Por que o Juizado resolveu fazer esse estudo?
Para fazer com que a criança seja reintegrada a sua família. Elas não são órfãs.
3 - O Juizado estará dando uma chance a esses pais?
Exato. Vamos primeiro dar uma oportunidade, oferecendo bolsas de alimento, roupas e vale-transporte durante o curso. Depois vamos buscar pessoas que desejem apadrinhar uma família, pagando um salário mínimo por mês para que a criança fique na escola.
4 - O que pode acontecer, caso o trabalho do Juizado não dê o resultado esperado?
Os que voltarem para as ruas para mendigar poderão perder a guarda dos filhos, que serão levados para abrigos públicos, e ainda terão que responder ao Estatuto da Criança e ao Código Penal, por exploração da criança e abandono material, por exemplo, podendo pegar até dois anos de detenção.
5 - Nesse caso, o afastamento de pais e filhos não acabará sendo uma punição para a criança, que será privada do convívio familiar?
Quer punição maior do que ser maltratado e negligenciado? Se a família é capaz de explorar o filho, ela não merece ficar com a criança, que deve ser encaminhada a instituições. De forma alguma queremos prejudicar a criança, nossa intenção é protegê-la.
Publicação - O Dia
Circulação - Rio de Janeiro – RJ
Data - 10/10/98
Assunto – Abandono
Título - As Vítimas da Inconseqüência
Postado Por Cintia Liana
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