"Uma criança é como o cristal e como a cera. Qualquer choque, por mais brando, a abala e comove, e a faz vibrar de molécula em molécula, de átomo em átomo; e qualquer impressão, boa ou má, nela se grava de modo profundo e indelével." (Olavo Bilac)

"Un bambino è come il cristallo e come la cera. Qualsiasi shock, per quanto morbido sia
lo scuote e lo smuove, vibra di molecola in molecola, di atomo in atomo, e qualsiasi impressione,
buona o cattiva, si registra in lui in modo profondo e indelebile." (Olavo Bilac, giornalista e poeta brasiliano)

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

História 2

Foto: Google Imagens

Revista Veja São Paulo


"Tenho muita vontade de conhecer o mar..." – Keila

Desde quando era bebê, há onze anos, Keila Suzana Carvalho de Andrade vive no rígido ambiente religioso da Casa de Maria, um abrigo com 150 crianças que mantém a austera disciplina de antigos orfanatos católicos.

Keila acorda às 5h30, toma banho e veste o uniforme da instituição — calça de moletom cinza, camiseta e tênis brancos. Vai para a escola e, na volta, assiste ao capítulo da novela Chiquititas gravado na noite anterior. Às 19h, recolhe-se ao quarto. É hora de conversar com as amigas. Nada de TV. Nos poucos domingos em que ficou diante da telinha até mais tarde acabou dormindo na oração matinal.

Em meio a tal rotina, Keila não encontrou espaço para acreditar em Papai Noel. Quando era pequena, alguém disse que ele havia subido em um avião, saltado e morrido. Para ela, pareceu convincente.

Keila aprendeu a não sentir falta da mãe biológica. Só sabe que ela a deixou no orfanato e nunca mais voltou. "Não me interesso porque nem a conheci", diz, com a naturalidade de quem se habituou a ausências, rigidez e renúncias. Alegra-se com coisas simples.

Como sua roupa predileta, a de domingo: saia comprida, listrada de branco e azul, e camisa de algodão branca com a imagem de Nossa Senhora e o Menino Jesus. Sabe que na ceia de Natal todos estarão comendo na imensa mesa do quintal, onde serão distribuídos os presentes doados à Casa de Maria. Não faz pedidos, mas tem lá suas preferências. "Seria bom ganhar um fichário com uma estampa do gato Frajola", sonha. "Também tenho muita vontade de conhecer o mar..."

Publicação - Revista Veja São Paulo
Circulação - São Paulo – SP
Data - 23/12/98
Edição – 1578
Assunto - Abandono – Institucionalização
Título - Sete Histórias de Natal de Meninos e Meninas Carentes
Autora - Mirian Scavone


Postado Por Cintia Liana

Um comentário:

susana disse...

Bom o que eu posso dizer da minha estoria, nem tudo é verdade, tem coisa a mas ai...mas realmente fui deixada pela minha mãe e como vou quere saber de alguem que ate onde eu sei me deixou logo que nasci não tem como né! Mas hoje estou com 23 anos e tentor ser para minha filha que esta com apenas 29 dias o que minha mãe biologica não foi para mim...Bom é isso, se a senhora quiser saber mas sobre a minha vida me mande um e-mal que eu te conto o que realmente passei e sinti no orfonate que morrei e frequento lá ate hoje. keila_susana@hotmail.com. Um abraço!