"Uma criança é como o cristal e como a cera. Qualquer choque, por mais brando, a abala e comove, e a faz vibrar de molécula em molécula, de átomo em átomo; e qualquer impressão, boa ou má, nela se grava de modo profundo e indelével." (Olavo Bilac)

"Un bambino è come il cristallo e come la cera. Qualsiasi shock, per quanto morbido sia
lo scuote e lo smuove, vibra di molecola in molecola, di atomo in atomo, e qualsiasi impressione,
buona o cattiva, si registra in lui in modo profondo e indelebile." (Olavo Bilac, giornalista e poeta brasiliano)

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Entrevista sobre Adoção

Entrevista com a psicóloga Cintia Liana
Cedida a alunos do curso de Jornalismo da UNIVERSO em setembro de 2007
Foto: A Psicóloga Cintia Liana Reis em entrevista

Quais são os motivos que levam uma mãe a abandonar um filho?

Essa resposta é bem complicada, mas vou simplificar ao máximo.
Falta de interesse em ter o filho, gravidez não planejada acompanhada de sérias dificuldades financeiras, falta de apoio do genitor da criança e/ou da família, falta de amor pelo filho, etc.
As pessoas pensam muito pouco neste “personagem” das histórias de adoção. Essas pessoas também devem ser "respeitadas", pois geralmente também são vítimas de pais omissos e de famílias desestruturadas. E fazendo essa colocação, não estou justificando atos de agressão e muito menos desculpando pessoas que colocam em risco a vida de nossas crianças.

Quais são os sentimentos das crianças que vivem em abrigo, sobre famílias?

Se sentem abandonadas, rejeitadas, carentes, menos favorecidas e diferentes (às vezes falam que são “crianças de creche”).

Quais são os sonhos e esperanças dessas crianças?

Se tiverem boas lembranças, voltar par a família de origem, para a mãe. Quem não se lembra da família ou não tem boas lembranças, sonha em ser adotada e ter uma família feliz, como qualquer outra criança.

E quais as expectativas, medos e desejos?

Expectativas de saírem do abrigo, voltarem para a família ou serem adotadas, como exposto acima. Medo de crescerem e não terem uma família, de não serem amadas e queridas. Desejam ter segurança na vida, nas pessoas.

Filhos adotivos tem o mesmo rendimento escolar que os filhos naturais?

Sim. Qualquer criança pode apresentar dificuldades escolares, mas quando a criança é adotiva isso nos chama a atenção, pois queremos culpar algo e encontrar respostas fáceis, objetivas e simplistas, então dizemos que todos os problemas moram e se resumem na adoção.

Crianças que vivem em abrigos tem o mesmo rendimento e aprendizado que as crianças adotivas?

Sim. Isso depende do interesse da criança e não somente da condição ou onde vive, apesar disto também contar muito

Filhos adotados por homossexuais tem os mesmos rendimentos escolares que os filhos adotados por heterossexuais? Os primeiros podem vir a ter maiores dificuldades que os segundos?

Tem o mesmo rendimento e os primeiros podem aprender a se defender, a colocar limites e a terem uma postura que demande respeito às diferenças. Se os pais educarem a criança de uma forma madura e consciente esta pode ser uma pessoa que tenha um senso de auto respeito ainda maior e mais apurado que outras crianças criadas em famílias tradicionais.

Nós sabemos que o preconceito prejudica e muito a adoção no Brasil. Quais são os mitos e preconceitos enfrentados?

São muitos. Alguns deles são:
preconceito sobre caráter (índole), se é hereditário; medo do filho sofrer se tiver uma cor de pele diferente dos pais, de se sentir diferente da família; filhos de pais homossexuais também terão inclinação para ser homossexual; preconceito com crianças maiores, de virem com vícios do abrigos e não aceitarem ou absorverem a nova educação, de ter hábitos que não serão retirados; medo de sofrer futuramente com o preconceito dos outras; medo de não ser amado pelo filho adotivo assim como poderia com um filho biológico; achar que sentirá mais o amor pela criança se ela chegar na família ainda bebê, etc.

Quais são os sentimentos de pais e filhos, e o que desejam com a adoção?

Desejam EXATAMENTE a mesma coisa que qualquer outra pessoa que busca um filho, formar uma família, ser pai, mãe e filho.

Qual o perfil da criança mais solicitado para adoção?

Hoje o perfil está mais aberto, mas ainda a preferência maior é por bebê, branco e do sexo feminino. Mas tem gente que quer crianças de 2 a 6 anos e até maiores e não têm preferência por sexo ou etnia.
Há pessoas muito bem preparadas e que têm em mente um perfil mais flexível, já há outras que ainda alimentam muitos medos. Os candidatos a adoção precisam ter um comprometimento antes de tudo com sua preparação emocional.

Em uma pesquisa feita em 1999 mostra que 55% das adoções são ilegais. O que seriam essas adoções? Esse índice mudou?

Não tenho números que comprovem, mas por experiência acredito que esse índice vem mudando, pois as leis também estão mudando, em paralelo a isso há um grande número de informações que está sendo veiculado na mídia. A adoção ilegal é aquela onde alguém registra o filho de outrem como se fosse seu filho biológico.

Qual é a análise de stress e otimismo em crianças que vivem em abrigos?

Stress? Esse termo pode dizer muitas coisas. Nos abrigos há crianças diferentes entre elas e iguais a qualquer outra fora dele, crianças com vários tipos de ritmo, sentimentos, reações, frustrações, memórias, desejos, mas todas elas sonham em ter uma vida em uma família, como propõe nossa cultura, sonham em ter uma mãe e/ou um pais, seja como for.

O que é feito dos adolescentes quando saem do abrigo? Quais os sentimentos deles?

Alguns abrigos têm propostas e parcerias que fazem com que os adolescentes, antes de completarem 18 anos, façam acompanhamento psicológico e que sejam encaminhados para cursos profissionalizantes com chances de emprego.
Há casos de adolescentes que são reinseridos em suas famílias de origem ou encaminhados para os cuidados e educação algum parente, mesmo que distante, que se interesse por ele. Tudo irá depender do trabalho que a instituição tem e da situação e do histórico do jovem.
Eles sentem medo e insegurança da nova vida, alguns nem se permitem enxergar o que sentem, principalmente quando não têm o apoio da família ou quando são muito revoltados, mas muitas vezes encontram no abrigo um apoio muito grande e continuam com os vínculos de amizade, afinal muitos cresceram ali, e para eles aquele lugar e aquelas pessoas são seu ponto de referência.

Quais são as principais marcas de quem passa muitos anos da vida num abrigo?

“Marcas?” Antes de tudo é importante observar que todos nós temos “marcas”. Esses jovens falam muito sobre o desejo de ter uma figura parental e sobre essa falta, fala sobre o sentimento de rejeição, desamparo e insegurança, mas outros se acostumam com a visão de que as pessoas do abrigo são sua família e estabelecem com elas relações muito estreitas e familiares.
Não há marcas que não possam ser reelaboradas, trabalhadas e faltas que possam ser supridas. Ninguém pode estar fadada a não ter uma família só por que alguém acredita que essas crianças tenham traumas. Esses “traumas” não fazem delas seres não dignos de amor, ou pessoas mais difíceis de lidar, só comprovam o quanto são humanas, se ferem, mas têm a chance de se reerguer, como todos os outros seres humanos da Terra.

Quais são as realidades por trás dos muros dos orfanatos?

Essa resposta é bem ampla mas, no geral, os orfanatos são instituições que lutam para se manterem e para dar uma vida digna as crianças. Como qualquer instituição, passam por dificuldades financeiras, tentam passar bons valores para essas crianças viverem bem em comunidade e têm regras estabelecidas para atuarem, dentro deles há empregados que se dedicam mais ao trabalho com as crianças de forma mais humana e outros que não têm essa preocupação e consciência.

Li em uma entrevista da desembargadora Maria Berenice Dias (RS) que não existe registro de abuso sexual de crianças por casais homoafetivos. Em compensação, entre os pais heterossexuais o índice é assustador, chegando a 23%. Esses abusos acontecem mais com pais biológicos ou adotivos? Tem algum estudo que demonstre estatísticas desses abusos?

Nunca vi um estudo desses, mas dentre todos os casos que já atendi (uma boa amostra no caso de um de estudo) eram com pais biológicos ou padrastos, mas sempre com pais heterossexuais, nunca com um homossexual.

Li em um artigo seu que uma criança foi adotada por um casal, e por medo de ser rejeitada novamente, iniciou um processo de agressividade intensa, só que o casal soube ter paciência e passar confiança para que ela não tivesse medo de ser abandonada outra vez. Qual o efeito no psicológico da criança que vai e volta de um lar?

Para cada criança pode ser um pouco diferente, mas geralmente e resumindo bastante, o medo intenso de ser de abandono mais uma vez, a fantasia de que não é tão boa o bastante para ser digna de amor. Mas nada que não possa ser recuperado com dedicação e paciência.

Como prevenir adoções traumáticas e evitar a devolução de crianças e adolescentes adotivos?

A séria preparação dos candidatos a adoção, fazendo com que entendam que pode ser uma experiência maravilhosa, mas toda experiência pode ser difícil e toda dificuldade pode servir para amadurecer, só basta estar aberto para isso.

Qual a diferença de auto-estima dos abrigados e os que têm família?

Geralmente (não todas) as crianças abrigadas se sentem desvalorizadas por não estarem em família, mas isso não as afeta num grau a comprometer totalmente sua interação com o mundo, mas afeta sim sua auto-estima.
Algumas crianças sofrem mais, outras menos, vai depender de como cada uma lida com o mundo e com seus sentimentos. Contudo, sabemos que uma criança que cresce ouvindo da mãe que ela é linda, que é amada e cresce meio a abraços e cercada do calor parental se sente mais forte que outra eu nunca teve isso.

Qual é o futuro das crianças que vivem em abrigos e o futuro das crianças que tem famílias? E quem morou em um orfanato e hoje tem família, sofre alguma influência?

Também somos feitos de influências, referências... Todos nós levamos para a vida o que passamos, mas tudo pode ser trabalhado e resignificado, o importante é estarmos atentos às nossas emoções e percepções e termos pessoas ao nosso redor para nos fortalecermos.

O privilégio é que a criança viva num meio familiar, o abrigamento é uma exceção. Por que o Estado ainda dificulta o que deveria priorizar?

Pelo que vejo não é uma questão de dificultar simplesmente, acho que têm que ser contratados mais profissionais para o trabalho crescer. O número de processos é alto e o número de pessoas que lidam com eles não. Tem que ser feita uma verdadeira reforma no Estado, no Judiciário, mas têm pessoas trabalhando para essa melhora e humanização.

O que mais faz falta para uma criança ou adolescente que passa anos da vida num abrigo?

Família, pai e/ou mãe e o que eles podem lhe proporcionar de bom, como amor, proteção, amparo e apoio emocional.

Quanto tempo dura um processo de adoção, depois de já iniciado?

Do início até conclusão, depende de uma série de coisas, da idade da criança (pois o estágio de convivência com uma criança maior é um pouco mais longo), do perfil pretendido (um bebê dura mais tempo para encontrar)...
Depende do tipo de adoção, pois têm aquelas em que a criança já vive com a família e os “pais afetivos” só vão regularizar a situação.
Num caso onde começa com habilitação e a criança pretendida, por exemplo, é de dois anos de idade, dura mais ou menos 1 ano e meio, mais vai depender muito do tamanho da fila de espera e da disponibilidade de crianças com essa faixa etária. É muito relativo esse tempo.

Por Cintia Liana

Entrevista sobre Adoção Homoafetiva

Entrevista com a psicóloga Cintia Liana
Cedida a alunos do curso de Jornalismo da Faculdade UNIVERSO em setembro de 2007

Foto: A Psicóloga Cintia Liana Reis em entrevista

Qual é a importância dos pais por perto? É necessário que os pais sejam de sexo diferentes?

É essencial a presença de um ser responsável que dê amor a uma criança.
Sobre ser necessário os pais serem de sexo oposto, acredito que absolutamente não! Quem impõe isso é a cultura, criada e escrita por uma elite dominante. A criança abrigada quer ter pai e/ou mãe, se sentir amada, respeitada e protegida, não importa o sexo, a cor, a idade, a nacionalidade e a orientação sexual.
É claro que uma família nuclear é mais aceita pela sociedade e assim é um pouco mais fácil da criança entender essa família e seu impacto social, mas isso é um modelo, e os outros modelos? Têm que sofrer por serem diferentes do convencional?
Temos que colocar os pés no chão e aceitar a realidade. Que existem pessoas diferentes, com escolhas diferentes e que podemos fechar os olhos para as pessoas que têm o direito de serem como quiserem. Por que isso dói? Por que choca? Por que é difícil de entender? Temos que entender, a evolução do mundo está aí para quem quiser acompanhar. Por que tanta dificuldade em aceitar o novo ou entender como necessário e não prejudicial?
Imagine a criança que nunca teve ninguém para protegê-la ou chamar de pai e/ou mãe. Se tiver isso agora, para quem nunca teve nada, o que mais importa?

A falta de referência de um pai ou de uma mãe faz falta? Afeta alguma coisa no psicológico da criança ter dois pais ou duas mães?

Sim, todos nós desejamos pai e mãe e com eles aprendemos a nos comportar, são nossos modelos. Na falta desses pais elegemos outras pessoas. Às vezes, mesmo tendo um pai e uma mãe, pode-se acabar elegendo os tios como pontos de referência, pois esses podem nos parecer mais agradáveis.
No caso de pares homoafetivos, eles também “imitam” as relações heterossexuais, um é mais masculino e outro é mais feminino, paternal e maternal, mas fora do núcleo mais íntimo a criança pode eleger a parte que te falta, um tio ou uma tia para ser sua referência de masculino ou feminino.
Ter dois pais ou duas mães não precisa ser negativo, tudo pode ser conversado. Para a criança acaba sendo natural e isso não faz dela problemática.
Sabemos que muitas avós fazem juntamente com a mãe tal papel e até competem pelo amor da criança e pela autoridade perante ela, isso e mais aceitável porquê? Isso é complicado e totalmente negativo para o crescimento da criança e para a sua educação. Mãe é mãe, avó é avó, se fossem a mesma coisa não chamaríamos por nomes deferentes.

Como é feita a preparação de crianças e famílias adotivas? E para ser adotada por homossexuais, como é feita essa preparação?

Normalmente, a criança está preparada para a adoção, é isso o que quer quando não tem vínculos positivos com a família de origem. Mas ela precisa ser avisada que será adotada e ajudada a dar conta de sua ansiedade e medos.
A criança quer adotada, ela não pergunta por quem, qual o sexo, que cor de pele tem, idade, nacionalidade. Essas informações são detalhes para ela.
Quanto a família, precisa ser avaliada é convidada a entrar no verdadeiro mundo da adoção, da maternidade e paternidade, desconstruindo os mitos, fantasias e preconceitos. Desconstruindo também a criança idealizada e construindo a criança possível, que pode ser bem melhor.
A criança real acaba sendo a melhor para quem se libera de suas exigências construídas ao longo do tempo, desde a época em que brincava de bonecas.
Existe o período de visitas e o de convivência antes de ser dada a sentença final.

Há algum estudo científico que comprove que a adoção por homossexuais não interfere na escolha da sexualidade da criança?

Que eu conheça não, mas vemos naturalmente que homossexuais sempre são filhos de heterossexuais. Façamos uma retrospectiva das pessoas que conhecemos e chegaremos a esse resultado.
No mais, hoje há muita literatura sobre o assunto, de muitos bons escritores da área do direito e da psicologia.

Quais são as conseqüências de crianças adotadas por homoafetivos?

Como em qualquer família, a criança é também fruto dos referenciais familiares, mas isso não implica a escolha sexual. O que pode acontecer é a criança enxergar a escolha sexual das pessoas de uma forma mais tolerante ou o contrário, mas isso não é uma regra.

Como contar, ou mostrar a uma criança que ela não tem uma mãe e um pai, mas sim, dois pais ou duas mães?

Ela crescerá vendo a realidade. Aos poucos isso deverá ser conversado no lar. Ela verá que isso não é um tabu para a família e em algum momento poderá fazer perguntas. A criança absorve muitas informações também através de “historinhas”.

Qual é o número de homossexuais (casais) que se candidatam à adoção?

Não tenho um número fechado mas, pessoas solteiras homossexuais que adotaram em quase três anos que participo de adoções em Salvador, foram umas 30 (trinta) mais ou menos. Mesmo tendo parceiros elas ainda buscam a adoção sozinhas.
Algumas pessoas solteiras heterossexuais também ainda acham que só pessoas casadas heterossexuais podem adotar.

Você é a favor de lei que regulamente a adoção por casais homoafetivos? Por quê?

Falando por mim e não por nenhuma instituição, eu sou a favor, pois percebo que a identidade sexual não faz da pessoa ser humano melhor ou pior que ninguém. Isso não compromete sua índole, seu caráter, não faz dela pessoa diferente de ninguém. Assim como a formação da identidade e escolha sexual da crianças não vai depender exclusivamente da orientação sexual dos pais e sim da maneira em que vivem essa sexualidade, sejam esses pais hetero ou homossexuais.

Você acha que esse tipo de adoção seria um problema a mais para a criança?

Não. Como já disse, a sociedade, mesmo que lentamente, terá que evoluir. Se não começarmos a mudar, a sociedade nunca irá mudar, é um erro não viver algo com medo dos preconceitos sociais. Os pais só precisam estar muito atentos para fortalecer a criança. As pessoas não estão erradas em tentarem ser felizes, o que é errado é o preconceito.

Os homossexuais têm capacidade de constituir uma família e têm plenas condições de criar, educar, proteger e amar uma criança. Por qual motivo essa adoção ainda não é aceita?

Claro que têm! A homossexualidade não é uma patologia! A legislação ainda está pautada em alguns preconceitos trazidos ao longo dos séculos, em uma mentalidade ultrapassada, em crenças antigas, mas isso vai ter que ser revisado. Tem que ser, afinal temos que evoluir e a lei também!

Há algum problema em crianças presenciarem cenas de afeto dos pais?

Não, para ela isso será natural, assim como com pais heterossexuais. É claro que existe um limite para a expressão afetivo sexual na frente da criança, como em qualquer família.

Por Cintia Liana

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Adoção Tardia é Tudo de Bom!

Foto: Google Imagens

Uma cara amiga, que conheci nessa luta pelas crianças e pela adoção, nos cedeu sua história de adoção tardia, encontrou há pouco tempo sua filha de 12 anos.
Os nomes foram omitidos para preservar a identidade das pessoas envolvidas.
Quero parabenizá-la por toda sua maturidade e doação.
É para essas pessoas que temos que olhar e aprender, nessas pessoa que doam amor e que ao invés de alimentar o preconceito preferem pensar sobre possibilidades e transcender qualquer tipo de obstáculo, deixando prevalecer sempre o sentimento e o desejo de ter um filho. Para essas pessoas não existem barreiras.
Amiga, muita saúde para vocês e sua linda filha, que ela cresça em paz e se torne um adulto responsivo, responsável, diferenciado, feliz e que com certeza fará e já está fazendo outras pessoas muito felizes. Sei que com uma mãe como você “será tudo de bom”! Um abraço.


*Por uma mãe de verdade

Quem busca um filho busca a construção de um amor incondicional. E quanto mais idealizações forem construídas sobre a imagem desse filho, mais barreiras à satisfação haverá, ou seja, a idealização sobre o filho desejado limita as possibilidades de felicidade surpreendentes e espontâneas da vida. O que quero dizer é que, mesmo reconhecendo a naturalidade que há em se idealizar um filho, trabalhar nossas emoções para não tentar determinar como ele será abre um colorido leque de satisfação pessoal tanto nos pais quanto na criança. Um pouco de abnegação não faz mal a ninguém; pelo contrário, torna melhores as pessoas, e libertar-se do narcisismo ajuda a ser mais feliz.


Mas o que desejo, aqui, neste momento, é contar minha história de adoção.
Sou professora, tenho 34 anos de idade, e vivo uma relação conjugal muito boa há 12 anos. Eu e meu marido sempre gostamos de crianças e nosso desejo por filhos existiu desde o início do casamento, mas adiamos essa nossa felicidade por medo das dificuldades que enfrentaríamos como, por exemplo, falta de dinheiro para o sustento da criança e falta de tempo para nos dedicarmos à educação dela. Mas os anos se passaram tão rapidamente que, quando nos demos conta, já havia passado uma década de casamento. Nós continuávamos com dificuldades financeiras, porém já com um pouco mais de tempo livre. Decidimos, então, que eu tentaria engravidar. O bebê não veio. Fizemos exames, mas nenhum problema de infertilidade foi detectado. Mesmo assim, o bebê não veio. Não houve desespero por isso, até porque a ideia de adoção já era certa nos nossos planos mesmo se tivéssemos filho biológico.
Nós nos inscrevemos no Cadastro Nacional de Adoção, fomos nos informando sobre adoção através de literatura especializada e em grupos de apoio à adoção. Isso nos ajudou muito.
Decidimos que a idade da criança não deveria ser uma barreira para adoção, pois importaria que houvesse identificação entre nós e ela. Decidimos dar preferência para menina, pois ter uma filhinha já era um sonho antigo do meu marido. Mas a espera na “fila de adoção” é sempre angustiante. Em algumas comarcas, mesmo hoje sob a nova lei, a espera é muito demorada! Durante a espera, é comum que nos abata profunda tristeza. Parece uma gravidez sem fim e incerta.
É claro que os medos apareceram, medos diversos: pela idade da criança, pelo temperamento, pelas observações erradas que muitos fazem, pela aceitação da família, os preconceitos, os tabus, medo de ser infeliz, etc. Não nos permitíamos abater pelos medos, mas tivemos que conviver com eles até o dia em que decidimos adotar a nossa princesinha.
Viajamos mais de 2.000 km para conhecer nossa filhinha! Isso mesmo: mais de dois mil quilômetros. Tivemos essa indicação por meio de uma amiga muito querida que mantivera contato com a assistente social da comarca em que se encontrava nosso bebê de 12 anos.
Viajamos com a cara, a coragem, o amor e a fé. Prevaleceram o amor e a fé. Estamos muito felizes por isso!
Antes de chegarmos até a comarca, tivemos informações acerca da menina: 11 anos de idade (até então), magrinha, tímida, estava abrigada havia 3 anos aproximadamente e, a pior notícia, era vítima de abuso sexual. Depois, ainda soubemos que ela precisava fazer uso de antidepressivo. Claro, se um adulto faria uso desse tipo de medicamento, quanto mais uma criança naquela situação!
Ficamos temerosos principalmente por causa dos comentários preconceituosos de outrora que já povoavam nossas mentes. Mesmo assim, sabíamos que não seria certo desistir com base em ideias distorcidas de outras pessoas. Precisávamos entender o que Deus havia preparado para nós. Então viajamos.
Já no Fórum da cidade onde estava abrigada a nossa filha, nosso primeiro encontro foi especial, mas não houve sinos tocando, nem estrelinhas piscando, nem trombetas soando. Foi especial porque estavam ali pessoas que selariam destinos. Havia, na sala, uma criança frágil (já com 12 anos de idade), com mãozinhas geladas e tremidas e um semblante de profunda tristeza. O olhar triste e temeroso dela não dá para esquecer.
Se, para nós, aquela circunstância era difícil, para a menina era ainda pior. Isso é o que todos sempre deveriam lembrar. A criança é sempre mais frágil. É a criança quem mais sofre.
Saíamos os três todos os dias durante o período que estivemos lá. Conversávamos, passeávamos, e víamos nela uma menina normal, bastante meiga, inteligente, mas com falta de estímulos para aprendizagem e profunda carência afetiva. Víamos nela, também, as respostas positivas através do comportamento para as situações que provocávamos. Era uma criança sedenta por um referencial. Era o que precisávamos. Havíamos encontrado nossa filhinha!
Foi com lágrimas nos olhos e o coração aliviado que pedimos a guarda da nossa princesa de 12 anos.
Estamos muito felizes que a decisão foi tomada com base no amor e na fé.
Nossa filha não precisa mais dos antidepressivos, pois vive feliz e sorridente; ela não tem mais o semblante triste; já nos abraça e nos enche de beijinhos; corresponde aos nossos carinhos com desenvoltura e se relaciona muito bem com as pessoas; aprendeu muitas coisas e gosta de tudo que ensinamos. Alimenta-se bem, dorme bem, brinca bastante. Ela ficou mais bonita, mais educada, engordou mais de 4 quilos em apenas 1 mês. É muito meiga! O passado triste está se distanciando dela bem depressa.
Nós, os pais, sentimo-nos tão plenos e tão realizados que parece um sonho! As dificuldades que passamos são mínimas e as felicidades são imensas. A adaptação dela à nova vida foi mais simples do que imaginávamos.
Sentimos como se ela sempre estivera conosco, não conseguimos imaginar nossas vidas sem ela. Não nos fazem falta as fraldas que não trocamos, pois nos preenche totalmente o amor do hoje, do agora. A voz dela é música para meus ouvidos, a risadinha dela alegra a minha alma, o cheirinho dela me faz bem, vê-la dormindo tão serena é a mais doce visão. É minha filha, minha princesa meu bebê, e assim será pelo futuro. É alta, tem quase a minha altura, mas é meu meigo bebê, meu amorzinho, minha flor. O presente e o futuro são nossos, o passado não atrapalha nossa alegria.
Só há um adjetivo para resumir a experiência pela qual estamos passando: sublime.
Adoção tardia é tudo de bom! É preciso que o amor vença o medo ainda no coração de muitas pessoas.

Obrigada, meu Deus, pela vida dela em minha vida!

*C. S.


Foto: Google Imagens


Por Cintia Liana

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Terapia Floral uma riqueza de legado

Este texto é de minha linda e maravilhosa mãe! É verdade, tenho o maior orgulho dela, por tudo! Por ter me dado a vida, por ser uma excelente mãe, por ser um ser humano lindo, singelo e ao mesmo tempo forte. Por ser exemplo de profissional, escolheu um excelente pai para mim, me deu um irmão maravilhoso, do qual também tenho muito orgulho, me deu um ótimo padrasto, é boa filha, irmã no melhor sentido da palavra e pessoa sensível, na qual me espelho.
É minha mãe biológica, mas não deixa de ser adotiva, pois todas as mães que desejam e acolhem seus filhos são também adotivas. Como diz Schettini, todos os filhos são biológicos e adotivos, biológicos por que é a única forma de vir ao mundo, e adotivos por que a única forma de se tornarem filhos é ser acolhido verdadeiramente pelos pais como tal, sejam eles de origem ou do coração.
Mãe, obrigada por tudo!
Foto: Google Imagens
*Por Walkíria de Andrade Reis Freitas

Até o momento, não existe explicação alguma sobre o modo de ação das essências florais capazes de satisfazer aos critérios científicos atuais. Têm sido oferecidas hipóteses baseadas na química molecular, na cibernética e na física para explicar outros sintomas sutis de cura. É possível que elas também se apliquem aos florais. Considerando-se a expansão extremamente rápida do conhecimento nesses campos, será uma questão de tempo poder também as mudanças de energia produzidas por tais métodos sutis serem medidas e demonstradas por processos científicos.

Em 1934, Dr. Bach, criador do método Floral, escreveu o seguinte em relação ao modo como operam as Essências Florais:
“A ação desses remédios consiste em elevar nossas vibrações e abrir nosso canal para a recepção do eu espiritual; em inundar nossa natureza com a virtude particular, e em expurgar de nós o erro que causa o mal.. Elas nos curam, não atacando a moléstia, mas inundando-nos o corpo com as formosas vibrações da nossa natureza superior, na presença das quais a moléstia se derrete, qual neve ao calor do sol.”

“Não haverá cura verdadeira se não houver mudança na aparência, paz de espírito, e felicidade interior.” A princípio, isso pode parecer improvável a muita gente, mas tornar-se-á perfeitamente claro se, se compreender e aceitar a premissa em que o médico, homeopata Eduard Bach baseou sua linha de pensamento – semelhante a Hipócrates, Hahnemann e Paracelso, grandes homens que tinham o mesmo espírito.

Como terapeuta floral, e com experiência de alguns anos atendendo em consultório, sinto-me a vontade para dizer o quanto é importante e maravilhoso sentir e perceber a grande mudança que ocorre em todos os aspectos do ser humano em tão pouco tempo dentro do trabalho de terapia floral. Falo importante, pela necessidade urgente da integração cada vez maior da energia dos florais em nossa vida como veículo em potencial de saúde mental e física. Pessoas com síndrome do pânico, sentimento de rejeição, inadequação, situações de perda em qualquer nível, traumas, magoas, intolerância, transição de fases que representam mudanças, em fim, o floral transforma a realidade interna do ser. Casais que se encontram em processo de adoção, por exemplo, estes geralmente, lidam com crianças na maioria das vezes com comportamentos atípicos e dificuldade de relacionamento que são naturalmente oriundos de sentimento de profunda solidão, angustia baixa auto-estima. No entanto, ainda existe muita resistência por parte das pessoas a esse tipo de terapia, na maioria das vezes a falta de conhecimento contribui bastante, noutras a preguiça de tentar um jeito mais saudável de viver, sem levar em consideração que, qualquer veículo que nos ajude no processo de autoconhecimento, facilitará a nossa passagem aqui na terra de forma mais amorosa e integrada a vida.

Atendi há pouco tempo, uma criança que se encontrava em processo de adoção por um casal de italianos. A menina de 6 anos carregava um profundo sentimento de carência afetiva, vazio interno, sentimento de separatividade, dissimulação, grande falta de energia da entrega e da confiança, principalmente em relação ao sexo feminino. Os florais administrados, em pouco tempo, não só acionaram e desbloquearam a energia que a princípio era a causa da dificuldade na relação filho-mãe, como também, despertou- a para qualidades como amorosidade, confiança e compreensão. Concluindo: A criança passou a conviver e relacionar-se principalmente com mais harmonia, com a mãe adotiva que a princípio, era a pessoa que mais rejeitava.

Acredito ser as essências florais um dos poucos meios que tornará a humanidade mais justa, solidária, humana, equilibrada, menos doente. Emocionalmente mais educada. Compreender que devemos e podemos administrar nossas emoções, reconhecer que somos os únicos responsáveis por tudo que nos acontece, torna-se necessário para que possamos ter mais saúde mental e conseqüentemente física.

O floral busca Integrar todos os níveis da existência humana: o corpo físico, o emocional e o mental, conseqüentemente trabalham os sentimentos, as emoções, os pensamentos e a vontade.

A ação do floral resulta num processo cumulativo poderoso. Através do profundo trabalho de expansão da consciência, atua na transformação e dissolução, tais como bloqueios energéticos e seus correspondentes sentimentos distorcidos que limitam a verdadeira expressão da essência, fonte de toda cura, sabedoria, criatividade e alegria.

As essências florais nos permitem responder a esses modernos desafios da alma. Elas nos ajudam a manter a nossa sensibilidade e nos trazem a força para trabalhar as adversidades do mundo.

Muita Paz!

Walkíria de Andrade Reis Freitas é Educadora, bacharel em Artes Plásticas pela UFBa, Terapeuta Floral a mais de 15 anos, credenciada pelo CRTH – Ba, especialista em Arteterapia pelo Instituto Junguiano da Bahia e Faculdade Baiana de Medicina.
Contato: walkiriaandrade@gmail.com

Referência:
SCHEFFER, Mechthild.Terapia floral do Dr. Bach: Teoria e prática. 12 ed.S.Paulo: Pensamento, 1997.
LAMBERT, Eduardo. Os estados afetivos e os remédios florais de Dr. Bach: um repertório completo para usar na terapia floral. 10 ed. São Paulo: Pensamento, 1997.
MUNDIM, Marcos de Oliveira e outros. Tratado de saúde Holística: Os florais de Bach na medicina da nova era. S. Paulo: Ground, 1994

Foto: Google Imagens

Por Cintia Liana

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Os Orfãos Sociais do Brasil

Tenho a honra de apresentar aqui um texto de Jotacê Freitas, marido de minha mãe e grande amigo meu, pessoa com quem eu aprendo muito.

Foto: Google Imagens

*Por Jotacê Freitas

Escrito em março de 2007

“(...)Não aceiteis o que é de hábito como coisa natural, pois em tempo de desordem sangrenta, de confusão organizada, de arbitrariedade consciente, de humanidade desumanizada, nada deve parecer natural, nada deve parecer impossível de mudar."
Bertold Brecht

País dos contrastes, o Brasil acaba de pôr em jogo mais uma lei de adoção. Até então só podiam ser adotadas crianças que os pais tivessem morrido e fossem doentes terminais. Com a nova mudança na lei as crianças abrigadas em orfanantos poderão ser adotadas também por estrangeiros, desde que os pais dêem uma permissão aos interessados.Isso tem causado uma polêmica entre duas correntes de ‘compreensão’ dos direitos das crianças. Por um lado um grupo acha que é melhor que as crianças que têm família possam também ser adotadas, enquanto o outro grupo, teme que essa adoção venha causar mais danos a essas crianças, como o caso de venda de órgãos, trabalho escravo, abuso sexual e, que seria obrigação do Estado dar a essas famílias, aliás, a todos os cidadãos, condições para se manterem com honradez e dignidade. É o que está na Constituição Federal que ironicamente garante esse direito apenas com um salário mínimo.

Enquanto o tempo passa e as discussões seguem estéreis as crianças vão crescendo nos orfanatos e a idade avançada torna-se um fato negativo para sua adoção por uma família adotante.

Os centros das nossas cidades estão cheias de crianças nas sinaleiras e nenhuma medida é tomada para acabar com isso. O estatuto da criança e do adolescente com sua ‘proteção’ aos direitos da criança não admite que elas sejam ressocializadas em instituições de reclusão, pois estas acabaram se tornando faculdades para a marginalidade. Os maus tratos por parte dos órgãos públicos e a promiscuidade com que eram agrupados não foi positiva para educá-las e transformá-las em cidadãs. As escolas atualmente não passam de meros depósitos de crianças para o aumento da verba educacional e o desestímulo escolar, provocado por esse descaso, leva a criança para a rua e mesmo professores “comprometidos” não têm poder de influência sobre elas que vêem na rua uma solução imediata para solução dos seus problemas mais básicos e emergentes: comida e lazer.

Governo nada faz e as crianças vão crescendo nas sinaleiras, sob viadutos, em bancos de praças, exércitos do tráfico, órfãos sociais do Brasil, terra do Carnaval e do Futebol, até virarem índice de vítimas dos grupos de extermínio.

Os Juizados de Menores estão abarrotados de meninos e meninas que sofreram maus tratos dos pais e/ou familiares e, por não verem condições neles de criarem essas crianças, mantêm-nas sob sua guarda, enquanto os pais e os filhos são acompanhados psicologicamente até o momento do retorno ao lar. Raramente isso ocorre, as condições socioculturais dessas pessoas são precários e há pouca probabilidade deles se estabelecerem moral, social, afetiva e economicamente bem. A falta de oportunidades é gritante e a tendência é que esse abismo que separa os poucos abastados dos muitos despossuídos aumente cada vez mais.

Talvez o planejamento familiar seja a solução, mas tem encontrado barreira entre os grupos mais conservadores, principalmente os religiosos. E apenas o planejamento, sem uma mudança na escala social, não resolveria a questão, senão estaríamos apenas reduzindo o número de miseráveis de maneira controlada e científica, assim como se faz com as cobaias nos laboratórios.

Para o cidadão comum, o menor, o pivete, o moleque de rua, não passa de um marginal que tem que ser eliminado do convívio social, a qualquer custo. Ele espera a segurança pela qual paga com seus impostos. Não percebe o quanto essas crianças são vítimas do seu egoísmo, da sua alienação e insensibilidade social.

Os especialistas nos orientam a não dar esmolas a essas crianças para que elas não fiquem ‘viciadas’ na vadiagem e mendicância, mas até o momento nenhuma sugestão foi dada ou exigida do Governo para solucionar o problema. Dinheiro é o que não falta em nosso país, vemos constantemente na imprensa casos de desvios de verbas milionárias feitas pelos políticos e nada acontece, ninguém é preso e quando isso ocorre o dinheiro não volta mais aos cofres públicos pois já foi pulverizado em plantações de ‘laranjas’.

É óbvio que apenas a campanha do ‘não à esmola’ não resolverá o problema, o buraco é bem mais embaixo, precisamos de uma atitude contra a desonestidade reinante em nossa nação que tanto tem sangrado as veias dos pobres e honestos trabalhadores e desempregados das periferias.

*Jotacê Freitas, poeta e professor do Ensino Fundamental.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Filhos Adotivos, Pais Verdadeiros

Foto: Google Imagens

Mais um ótimo texto que compartilho com vocês!

Um abraço a todos.


Nair de Oliveira Pontes [1]
Revista Viver – Janeiro/2001

É possível observar, na dinâmica de alguns casais com seus filhos adotivos, alguns comportamentos repetitivos. Tais comportamentos referem-se aos sistemas emocionais provenientes das famílias de origem de ambos os cônjuges e funcionam como modelos na criação dos filhos adotivos. Embora muitos rejeitem a maneira como foram criados pelos próprios pais, acabam repetindo esses padrões.

Então, vemos se frustrar uma das expectativas que carregam muitos dos casais que resolvem adotar uma criança. Alguns deles poderiam ter tido os próprios filhos, mas vislumbram na adoção a possibilidade de rompimento de padrões trazidos das famílias de origem e que são tidos como se já estivessem no “sangue” da família.

Ao longo do ciclo vital, os jovens pais tendem a reproduzir com seus filhos modelos de comportamento dos próprios pais, podendo trazer antigos conflitos para as relações presentes.
Num artigo publicado na revista Science, de 5/11/1999, sobre um estudo feito por pesquisadores canadenses da Universidade McGill, em Montreal, no Canadá, a respeito do relacionamento entre pais e filhos, afirma-se que “o amor da mãe não é algo que já se nasça sabendo;é algo que se aprende pelo exemplo e que passa de geração em geração não porque está escrito no material genético dos seres vivos, mas sim pela experiência.
O estudo dos pesquisadores canadenses salienta, portanto, que o que mais influencia o comportamento do ser humano não são as características genéticas herdadas, pois o genes nada tem a ver com tal situação, mas sim a relação do indivíduo com o meio ambiente e com a cultura. O núcleo da aprendizagem, do condicionamento, da experiência emocional, da vivência dos desejos e das expectativas diante da realidade, todos esses contextos, tanto social, emocional, quanto econômico, influenciam a qualidade do relacionamento entre pais e filhos e podem mostrar continuidade através das gerações, mesmo com os filhos adotivos.
A pesquisa feita pelos canadenses corrobora os estudos de Elisabeth Banditer, nos quais ela afirma: “O amor materno não constitui um sentimento inerente à condição de mulher, ele não é um determinismo, mas algo que se adquire”. Para a autora, os sentimentos humanos da mãe variam de acordo com suas ambições ou frustrações, com a cultura e as flutuações socioeconômicas da história. O amor materno pode existir ou não, aparecer e desaparecer, se forte ou ser frágil, ter preferência por determinado filho ou não. Ele “é apenas um sentimento humano como outro qualquer e, como tal, incerto, frágil e imperfeito”, acrescenta Banditer.
O mundo da paternidade está cheio de fantasias. Cada casal cria mitos, como, por exemplo, o de ser pais perfeitos e ter uma família feliz. E essa mitologia agrava-se ao entrar em contato com um sistema de percepções muitas vezes sufocado pela ansiedade, por sentimentos de culpa e pela rejeição (rejeição de si mesmo como filhos e o desejo de ter tido outros pais, outra família). Ou seja: as percepções acabam germinando a fantasia de pais ideais, determinante que busca sua expressão num modelo de amor irrestrito, inacabado, infinito. São os pais por excelência, os pais que tudo sabem, donos da verdade, do afeto dos filhos e do futuro deles. São os pais que dizem: “Eu sei o que é melhor para você”.
Hoje há uma excessiva preocupação com o relacionamento e com o que se deve fazer para garantir o bom desenvolvimento emocional nas relações entre pais e filhos. Muitas vezes, essa atitude embota a espontaneidade, a intuição, a criatividade e o bom senso dos envolvidos no sistema relacional.
Acreditamos que ser desejado é o primeiro anseio a ser realizado no universo afetivo do ser humano. Toda criança quer ser desejada. Quem não quer ser amado? É de se esperar que a criança necessite de demonstração de amor. Partindo desse pressuposto – o desejo de ser acariciada e tocada com amor -, ela, provavelmente, não quer ser cuidada de forma mecânica e automatizada. Só que, por não ter o domínio da linguagem, não consegue expressar em palavras essa insatisfação. Estamos falando de um período emocional, um período de impressões marcantes, aquele que Freud chama de período de molde, que se dá na primeira infância. Ou seja, tudo o que a criança vivencia nos primeiros anos de vida será tão marcante que poderá influenciá-la por toda a existência, pois já estará impresso no modelo recebido. Esse cenário da infância nos deixa numerosas lições afetivas e precisamos contar com elas, sejam positivas ou negativas.
Cabe dizer, também, que o fato de ser filho, independentemente de ser ou não biológico, não garante necessariamente que a criança seja bem-vinda, pois tudo dependerá do que essa relação e do que a criança poderá despertar nos pais. É preciso saber de que maneira esses pais aprenderam a amar no contato com os próprios pais. Elizabeth Banditer comenta que o discurso psicanalítico contribui muito para tornar a mãe o personagem central da família, embora a psicanálise jamais tenha afirmado ser a mãe a única responsável pelo inconsciente do filho. A autora explica: “Para que uma mulher possa ser a “boa mãe”, é preferível que ela tenha experimentado, em sua infância, uma evolução sexual e psicológica satisfatória, junto de uma mãe também relativamente equilibrada. Mas, se uma mulher foi educada por uma mãe perturbada, há grande probabilidade de que sinta dificuldade em assumir a sua feminilidade e maternidade. Quando for mãe, reproduzirá, diz-se, as atitudes inadequadas que foram as da sua própria mãe.”
Como nossos pais – Nossa sociedade valoriza autonomia, individualidade e independência. Mas por que umas pessoas conseguem desenvolver essas características e outras não? Muitos dos nossos comportamentos resultam do que aprendemos com os modelos que vemos. Nosso primeiro modelo é a mãe, ou a figura substituta; depois vem a família e por fim a sociedade. O modelo da primeira infância, considerado importante e marcante, acaba sendo reproduzido de modo tanto positivo quanto negativo. Quando positivo, poderá favorecer o indivíduo a obter autonomia, individualidade, identidade e independência. Mas, quando negativo, a pessoa terá dificuldades de se adaptar à sociedade. Isso não significa, no entanto, que seja impossível ultrapassar os obstáculos. Nesse caso, é necessário que ela se conscientize das próprias atitudes e perceba os comportamentos repetitivos inadequados, que prejudicam seus relacionamentos.
A partir do momento em que o casal começa a perceber suas dificuldades em se organizar diante da educação recebida de seus ancestrais, vêm à tona conflitos nascidos das percepções de cada um deles. Uma das tarefas do terapeuta tem como objetivo perceber e compreender como eles podem se tornar verdadeiros pais buscando cada um deles um modelo adequado a suas necessidades, isto é, sem dar continuidade ao modelo rígido recebido dos pais verdadeiros, muitas vezes, sentidos como adotivos. Só assim os filhos, mesmo os adotivos, poderão sentir-se verdadeiros e autênticos com os pais.
O trabalho do terapeuta com os casais é mostrar quais são os padrões recorrentes, por meio das lembranças e memórias vivenciais e emocionais acionadas durante o processo terapêutico. E, assim, trabalhar a história pessoal de cada um, levando-os a perceber seus papéis e funções nesse contexto, como forma de diferenciarem-se não só entre eles, mas também de diferenciar em seu ego do de seus pais.

[1] Nair de Oliveira Pontes é psicóloga clínica e psicoterapeuta de família e de grupos.
Por Cintia Liana

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Família e seus complexos laços afetivos

Foto: Google Imagens

Por Cintia Liana Reis de Silva

Boadella (1974, p. 8) diz que o direito básico da criança é de existir no mundo, de sentir a sua própria identidade. Ele afirma que a criança necessita do contato íntimo com a pele da mãe, e que isso é que vai formar a base do seu contato com o mundo. O sentimento de identidade madura é desenvolvida também através da sensação de se sentir cuidado, que pode ser pelo reconhecimento do toque e do olhar. Essa troca da mãe com a criança, esses contatos-aproximação são a base da personalização e promove a capacidade da criança relacionar-se de forma mais amorosa com o adulto. Esse contato com a mãe é muito rico e é importante que as duas se experimentem tendo uma alegria recíproca Nesse contexto de envolvimento nos braços e no olhar da mãe, a criança irá aprender a “definir seus próprios limites, aprende a encarar-se e a outros seres humanos, e adquire seu sentimento de pertencer o mundo”.
No caso da família substituta, quando falamos de estabelecimento de novos vínculos parentais, nos remetemos a construção de laços afetivos e, posteriormente, não podemos deixar de fazer uma ligação com a idéia de formação do apego.

É neste sentido que Bowlby (1989) reforça a importância dos pais fornecerem uma base segura a partir da qual uma criança ou um adolescente pode explorar o mundo exterior e a ele retornar, certos de que serão bem-vindos, nutridos física e emocionalmente, confortados se houver um sofrimento e encorajados se estiverem ameaçados. A conseqüência dessa relação de apego é a construção, por volta da metade do terceiro ano de idade, de um sentimento de confiança e segurança da criança em relação a si mesma e, principalmente, em relação àqueles que a rodeiam, sejam estes suas figuras parentais ou outros integrantes de seu círculo de relações sociais”. (MONDARDO e VANLENTINA, 1998)

Mondardo e Valentina (1998) também expõem que as contribuições de Margareth Mahler ao desenvolvimento infantil fortalecem as idéias desenvolvidas por Bowlby em relação a construção de uma base segura aos filhos através dos cuidados parentais. Essas contribuições dizem respeito “à importância fornecida às relações de objeto precoces, ou seja, ao vínculo com a mãe, às angústias de separação e aos processos de luto nas etapas evolutivas”.

Na adoção a criança passa a ter um sentimento de pertencimento com os novos pais, figuras substitutivas, pois são pessoas que vão passar a apoiá-la a acolhendo na sua totalidade e lhe dando afeto. Ela irá ter uma oportunidade de desenvolver um apego seguro com esses novos pais, ao contrário do que possivelmente tinha com seus progenitores, que talvez pudessem ter nutrido por ela um sentimento de raiva e rejeição. (ANDOLFI, 2002)

Esses progenitores podem ter cumprido um mandato familiar na forma de uma tradição ou de um padrão intergeracional, no qual podem ter passado, como sua mãe, a avó da criança, um padrão de rejeição e falta de acolhimento. Essa genitora pode ter sofrido um processo de projeção familiar transmitido pela imaturidade e baixo nível de diferenciação do self da sua mãe. Diferenciação esta que significa adquirir autonomia “com habilidade de pensar, sentir e agir por si mesmo”, como um adulto responsivo. (ANDOLFI, 2002, p. 2)

Elizabeth Banditer (apud PONTES, 2001) diz sobre “o mito do amor materno”, que o apego é inerente à mãe. Tem que existir um contexto positivo, um solo fértil para alimentar a criança e criar uma relação de apego saudável.

Ela acredita que para que uma mulher possa ser a “boa mãe”, é preferível que ela tenha experimentado, em sua infância, uma evolução sexual e psicológica satisfatória, junto de uma mãe também relativamente equilibrada. Mas, se uma mulher foi educada por uma mãe perturbada, há grande probabilidade de que sinta dificuldade em assumir a sua feminilidade e maternidade. Quando for mãe, reproduzirá, diz-se, as atitudes inadequadas que foram as da sua própria mãe.

Para Bowen o indivíduo quando passa da condição de filho para a condição de genitor usará o mesmo modelo que foi aprendido com os pais. Ou seja, quando esse contexto social está modificado, quando esses papéis se invertem, o filho passa a ser pai, e se faz necessário algumas respostas efetivas, abrem-se feridas intergeracionais e vem a tona uma questão de base: “como se pode dar aos filhos aquele afeto verdadeiro e tangível que se pensa nunca ter recebido dos genitores, quando crianças ou adolescentes?”. (ANDOLFI, 2002, p. 5)

Banditer (apud PONTES, 2001) aponta que o amor materno não é um sentimento inerente à condição de mulher, não é algo determinante, mas algo que se adquire e esses sentimentos humanos de mãe podem variar de acordo com suas ambições ou frustrações, com a cultura e as flutuações sócio-econômicas da história. Banditer também explica que “o amor materno pode existir ou não, aparecer e desaparecer, se forte ou ser frágil, ter preferência por determinado filho ou não”. O amor materno acaba por ser “apenas um sentimento humano como outro qualquer e, como tal, incerto, frágil e imperfeito”
No que se refere a necessidade de afeição, Schettini (1997) afirma que sua satisfação é fundamental e indispensável para a harmonia do desenvolvimento. Durante o início da vida da criança é de extrema importância construir um ambiente de afeição, porque, desse modo, estaremos dando a estimulação sensorial, atenção e carinho adequados.
O autor completa afirmando que a qualidade desta freqüência, desse contato da criança com o adulto, refletirá em sua sobrevivência, pois crianças pequenas morrem por falta de afeição adequada. Figuras parentais é que proporcionam um lastro firme para o desenvolvimento sadio de um ser humano.
Assim mesmo não devemos esquecer que nunca é tarde para se ter uma família, qualquer criança abandonada é “adotável”. Ela se torna não adotável quando nos deparamos com o preconceito e a cultura de adoção somente de bebês. Ou seja, a responsabilidade do inchaço de crianças maiores nos abrigos é do preconceito, que reforça que bebês são os melhores para serem adotados, ao contrário do que diz a literatura científica, que explica que não existem dados que provem que uma criança maior tenha mais problemas na adoção que as menores.

Este é mais um trecho extraído da minha monografia de pós-graduação finalizada e 2008. Divido com vocês. Para citar:
Silva, Cintia L. R. de. Filhos da esperança: Reflexões sobre família, adoção e crianças. Monografia do curso de Especialização em Psicologia Conjugal e Familiar. Faculdade Ruy Barbosa: Salvador, Bahia, 2008.

A referência se encontra na barra de indicação de livros e artigos. Vocês podem achar pelo nome do autor, que está em ordem alfabética.

Por Cintia Liana

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Linda família

Foto: Tirada por Cintia Liana. Família de Léo e Fabiana, com o filho Leozinho, após a sua adoção, que hoje já está com 2 anos de idade.

O casal teve a felicidade de receber esta semana Isabelle, que veio pela via biológica. O casal hoje pode experimentar as duas vias diferentes de serem pais, a adoção (foto acima com Leozinho) e agora a biológica, mas que, com certeza, no amor não há diferença em relação a intensidade.

Tive o prazer de acompanhar a adoção do casal, quando eu era psicóloga do Juizado de Menores.

Parabéns, linda família!




Foto: Léo, Leozinho, Fabiana e Bel.

Fabi, obrigada pelas fotos!

Por Cintia Liana