"Uma criança é como o cristal e como a cera. Qualquer choque, por mais brando, a abala e comove, e a faz vibrar de molécula em molécula, de átomo em átomo; e qualquer impressão, boa ou má, nela se grava de modo profundo e indelével." (Olavo Bilac)

"Un bambino è come il cristallo e come la cera. Qualsiasi shock, per quanto morbido sia
lo scuote e lo smuove, vibra di molecola in molecola, di atomo in atomo, e qualsiasi impressione,
buona o cattiva, si registra in lui in modo profondo e indelebile." (Olavo Bilac, giornalista e poeta brasiliano)

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Adotar crianças maiores é mais difícil?

Foto: Getty Images

A relação com os pais adotivos será tão importante para a formação do caráter quanto o que aconteceu no passado difícil da criança, observo que até mais, pois estes é que irão conduzir a relação que esta criança terá com esse passado, a relação com o presente e a auxiliará no seu futuro.
Cintia Liana


Pais e futuros pais, fiquem atentos! Ao invés de viverem numa ansiedade infinita tentando entender até que ponto uma criança maior trás ou não traumas do seu passado e do abrigo e os vive na família, pensem antes de tudo em amadurecer, em trabalhar seus medos e dúvidas porque, em minha experiência, vejo que a base que os pais adotivos darão ao filho é mais forte que tudo.

Um filho com problemas é alguém que depende de seres humanos, de pais adotivos, que possivelmente não estão sendo capazes de lhe dar uma base suportiva eficaz, suficiente para dar conta de suas inseguranças, assim também acontece na paternidade biológica.
A criança pode vir com uma gama de problemas enormes da instituição e ser altamente otimista e resiliente mas, mesmo que não seja assim, e reaja com violência, se ela encontrar futuros pais preparados tudo será mudado.

Em meu trabalho posso perceber que a responsabilidade dos pais adotivos é imensa, pois as crianças esperam deles a base, a segurança que terão para se expressar, se fortalecer e crescer.

Adotar uma criança maior não é mais difícil, ao contrário, pode ser muito tranquilo, ela já vem sabendo de muitas coisas e com o desejo consciente de se tornar filho. Se ela tiver algum problema depois porque tem que ser atribuído a adoção? Toda criança, em algum momento, tem problemas de comportamento, de obediência, dificuldade com autoridade a depender do momento e da forma que lhe é colocada, mas se é adotiva é somente por conta disso?
Já ouvi de uma professora infantil que a única criança adotada na escola era muito carente, pegajosa e desobediente e que ela achava que era por "culpa" da adoção. Daí eu perguntei se esta criança era a única com problemas de comportamento na escola, se havia outras com comportamento parecido e ela falou que sim, com comportamento até pior, então perguntei: e se estas não são adotivas, era por responsabilidade de quê o problema de comportamento? Ela não soube me responder. No final, concordou que estava "culpando" a adoção por tudo.

Engraçado que quando um adolescente, filho biológico, apresenta problemas com drogas, é algo normal, mas se um adolescente, filho adotivo, tem o mesmo problema a "culpa" é da adoção. 
Entendo que há uma série de fatores na vida que nos levam a seguir caminhos, é uma dilética eterna entre o meio e a nossa personalidade, temperamento, caráter, livre arbítrio, oportunidades, mas a relação com os pais é fundamentalíssima neste processo, sejam eles adotivos ou biológicos.
Suzane Richthofen não era filha adotiva, mas se o fosse todos diriam que fez tudo aquilo por ser filha adotiva, por não ser "filha de verdade". Interessante foi que ninguém tentou entender como essa criatura foi criada pelos pais, como foi educada, encaminhada para a vida e para as relações. As pessoas só querem culpar e não entender para crescer.

A nossa cultura ainda é respaldada no paradigma da simplicidade e que vem acompanhada do preconceito. Não devemos ter medo de pensar, complicar, descomplicar, perguntar, conversar, ler, estudar, temos que entender o processo das coisas e não errar por preguiça ou medo do saber. Lembrem também que exsite terapia. 
Quero dizer que não adianta culpar a adoção ou a inexistência de laços biológicos, no final das contas o ser humano é uma soma do que vemos e do invisível, a subjetividade é infinita, mas a relação com os pais adotivos irá seguramente ser crucial na vida do adotado, as mensagens subliminares, entendimentos subliminares, além do desejo próprio de cada pessoa.
Em todo caso, o adotante é que passará a conduzir toda a relação que a criança terá com seu passado, que tem com o presente e que terá com seu futuro e isso é mais forte que tudo.


Por Cintia Liana

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