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Por Cintia Liana Reis de Silva
Muitos pais e filhos levam relações conflituosas adiante por anos a fio, passando por fases mais complicadas e outras mais tranquilas, mas a problemática está alí, criando uma atmosfera familiar sempre saturada. Mas será que as pessoas estão, de fato, preocupadas em olhar com cuidado para essas dificuldades a fim de restaurar suas relações com os filhos e com o mundo?
Restaurar relações familiares acaba por ser uma tarefa de muita coragem, sobretudo com os filhos, pois para travar e reconstruir uma relação de afeto com eles se deve reconciliar antes de tudo com a figura internalizada dos pais, com a própria criança ferida, com a imagem interna e regredida que temos das nossas figuras de base. Esse é o único caminho para a transformação de nossas relações atuais, afinal nós somos o produto do tipo de relação que tivemos com nossos pais nos primeiros anos de vida, num meio que é foco de neuroses para todos nós seres humanos que é a família, isso já é científico há muito tempo. E que estamos fortemente propensos e repetir os mesmos erros dos nossos genitores também é fato, Bowlby já provou há muito tempo, e o único jeito de mudar isso é fazendo um trabalho psicoterapêutico, nada adianta forçar de fora pra dentro, o trabalho é de dentro pra fora.
Algumas teorias mostram que muitos homens e mulheres quando não conseguem procriar e não encontram nenhuma explicação médica, orgânica, é pelo fato de inconscientemente terem muito medo do desconhecido que mora dentro deles, do que trazem da relação mal resolvida com seus pais e na relação atual com o parceiro. Como diz Bowlby, “é na hora de tornar-se genitor que abrem-se feridas intergeracionais e como dar o que não se teve?”.
Na hora de gerar, o corpo reage de acordo com o conteúdo da mente e é importante que emerjam perguntas como, “como posso ser mãe se não ‘aceito’ e não sei lidar com a mãe que tenho e, consequentemente, com a minha mãe internalizada? Como posso me tornar mãe se não conheço bem os conflitos que tenho com o modelo de mãe que me foi dado?” Muitas mulheres conseguem gerar depois que iniciam suas terapias, algumas também depois de provarem ser mães através da adoção e de enfrentarem seus medos e fantasias a respeito da maternidade.
Todos nós podemos nos beneficiar com um bom trabalho psicoterapêutico, olhar para a necessidade de mudanças, de paradigmas existenciais, tocar em crenças guardadas, responder de modo mais responsivo, diferenciado e maduro às demandas da vida, aprender, reaprender, romper com tabus familiares, afinal nenhuma família é perfeita. Vamos lá, coragem, força, todos podem buscar mudanças e ajuda, por amor aos nossos filhos, por amor a nós mesmos e para descobrirmos um amor maior ainda que podemos sentir pelos nossos pais.
Cintia Liana Reis de Silva é psicóloga e psicoterapeuta, especialista em psicologia de casal e família. Ela vive e trabalha na Itália.
Artigo publicado no site Indika Bem no dia 07 de fevereiro de 2013.