Mandy Lynne
1ª parte, na íntegra, da entrevista de Cintia Liana, cedida ao Diário de Pernambuco
Qual a importância da família para uma pessoa?
A família é a principal fonte de afeto e cuidados, fornece base para o contato com o mundo, ela fortalece e ensina. No futuro, o comportamento do jovem dependará, em boa parte, deste contato saudável com as primeiras figuras de apego, assim como será o reflexo do funcionamento do lar, esse funcionamento pode ser saudável ou adoecido. Depende como os pais se comportam, dos padrões familiares, intergeracionais. Se deve buscar crescer emocionalmente antes de se ter um filho e não se tornar pai e mãe com o objetivo de se transformar num adulto, um filho não merece esse fardo, de nascer para fazer um outro crescer.
Uma família tradicional, formada por pai, mãe e irmãos, seria a ideal?
" O modelo de família conjugal, homem, mulher e filhos biológicos, difundido e imposto como o ideal não é o real, o mais forte e nem o principal modelo existente, nem hoje, nem no passado. Havia uma época em que as mulheres eram as chefes de família, separadas, trabalhavam dentro e fora de casa, mas mesmo assim, a literatura da elite dominante insiste em dizer que eram famílias chefiadas e sustentadas por seus homens, neste sentido, tudo indica que os homens também fizeram um pacto de poder." (SILVA, 2011, p. 43)
"De acordo com Corrêa (1981), não seria possível a predominação de um só modelo familiar na sociedade brasileira, tendo em vista a riqueza dos processos sociais, econômicos, políticos e diferentes áreas de ocupação e momentos na história. É um grave equívoco colocar um modelo de família numa obra literária como um modelo absoluto. Dizer que o modelo patriarcal de família era o mais comum entre todas as pessoas não é só negar os fatos históricos, é também esconder a verdade e, mais que isso, é contribuir para uma marginalização das outras formas de família." (apud SILVA, 2011, p. 43 e 44)
Filhos adotados por casais gays poderiam apresentar problemas futuros ou isso é mito?
É um grande mito. As pesquisas mostram que filhos adotados e filhos de homossexuais não têm mais problemas ou dificuldades que os outros. O que gera problemas é o abandono, a rejeição, a indiferença, a falta de compreenção, de amor e isso é algo que vemos também nos lares constituídos por pais biológicos e heterossexuais.
"Quando um filho de pais biológicos comete um crime, ninguém aponta e diz que é porque ele é filho biológico, mas se ele foi adotado o fazem. Nos dois casos ninguém vai investigar as causas daquele desequilíbrio. Vivemos em uma sociedade onde o mais fácil é rotular e encontrar culpados e não sabedoria para seguir por um caminho desvendando a subjetivdade. As pessoas têm preguiça de olhar para dentro. Quando olhamos para dentro com verdade, lidamos melhor com quem está fora, com o mundo.
Se as pessoas enfrentam os preconceitos, as outras ganham força para se mostrarem e é isso que ocorre hoje, a homossexualidade não é algo novo, nem surgiu no século passado e a adoção é uma prática milenar, as outras conquistas vêem com a evolução da ciência. O que ocorre hoje é que se tem uma maior liberdade para mostrar o que sempre existiu." (apud SILVA, 2011, p. 45)
"Algumas escolas estão acompanhando esta evolução, isso tem que acontecer porque as pessoas estão se mostrando, se arriscando, exigindo respeito e serem ouvidas, elas querem o seu espaço merecido. As escolas que não o fizeram estarão atrasadas e farão como muitos outros grupos, esconderão o que é socialmente menos aceito embaixo do tapete. Como não falar de adoção e homossexualidade nas escolas? Medo? Falta de preparo? Então vamos estudar e nos abrir para o novo! Como não incluir os pais neste discurso? O peso do segredo só traz incômodo, ignorância, intolerância e mais preconceitos." (apud SILVA, 2011, p. 45)
Como manter a união familiar, seja ela qual for?
Olhando para a necessidade de construção de conhecimento e não de manutenção de preconceitos. É preciso diálogo com sinceridade, transparência e se trabalhar o orgulho, lançando mão de uma terapia famíliar, se necessário.
O autoconhecimento é fundamental e proporciona uma base muito forte para enfrentar e vida e lidar com o mundo. Conhecendo a si mesmo se tem como fazer progressos, melhorar a própria realidade e se educar, como isso o relacionamento com os outros muda também e tudo fica mais fácil. Educar a si mesmo é difícil, por isso se cobra sempre mais do outro. As respostas estão dentro de nós, nós somos os responssáveis pala vida que temos e o que faz ela mudar é a tomada de consciência aliada a atitude.
Referência:
SILVA, Cintia Liana Reis de. Filhos da Esperança: Os Caminhos da Adoção e da Família e seus Aspectos Psicológicos. Agbook: Rio de Janeiro, 2011.
Por Cintia Liana