"Uma criança é como o cristal e como a cera. Qualquer choque, por mais brando, a abala e comove, e a faz vibrar de molécula em molécula, de átomo em átomo; e qualquer impressão, boa ou má, nela se grava de modo profundo e indelével." (Olavo Bilac)

"Un bambino è come il cristallo e come la cera. Qualsiasi shock, per quanto morbido sia
lo scuote e lo smuove, vibra di molecola in molecola, di atomo in atomo, e qualsiasi impressione,
buona o cattiva, si registra in lui in modo profondo e indelebile." (Olavo Bilac, giornalista e poeta brasiliano)

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Norte concentra maior proporção de crianças com até cinco anos

Mandy Lynne

15/10/2012 - 07h33

Por Mariana Braga
Agência CNJ de Notícias

Pesquisa inédita feita pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) detalha o perfil dos pais que desejam adotar e das crianças aptas à adoção por região brasileira. Segundo o estudo, as regiões Norte e Nordeste concentram proporcionalmente a maior quantidade de crianças com até cinco anos aptas à adoção, a faixa etária requerida por nove em cada dez pais que desejam adotar no Brasil. Enquanto no Norte 26,5% das crianças inscritas no Cadastro Nacional de Adoção estão nessa faixa de idade e no Nordeste são 16,9%, nas demais regiões esse índice não chega a 10%. Essa preferência dos pretendentes é o principal empecilho à adoção no País, confirma a pesquisa, já que apenas 9 em cada 100 crianças aptas à adoção têm menos de cinco anos.

O estudo elaborado pelo Departamento de Pesquisas Judiciárias (DPJ) do CNJ analisou o universo de pessoas inscritas no Cadastro Nacional de Adoção, coordenado pela Corregedoria Nacional de Justiça, referente a agosto deste ano. Segundo o sistema, há no Brasil 28.151 homens e mulheres que desejam adotar um filho. A maior parte deles (85%) está das regiões Sudeste e Sul, que respondem por 56,5% da população brasileira, de acordo com o Censo 2010. Quatro em cada dez pretendentes brasileiros possuem entre 40 e 49 anos e a maior parte deles (79,1%) está casada. Entre os solteiros, divorciados, separados judicialmente e viúvos, as mulheres são a grande maioria (80%).

O número de pais que querem adotar é cinco vezes maior do que a quantidade de crianças e adolescentes aptos à adoção – 5.281 em todo o Brasil. Quase 80% deles também são das regiões Sul e Sudeste. O grande empecilho para as adoções é a exigência de idade por parte dos pretendentes, principalmente entre aqueles que têm preferência por crianças brancas. Segundo os pesquisadores, os pais que buscam exclusivamente esse perfil racial, em geral, não aceitam crianças que têm mais de três anos.

Já os que aceitam unicamente crianças pretas, pardas ou indígenas costumam ser mais flexíveis e, em geral, não fazem outros tipos de restrição como de idade ou sexo. O percentual de pretendentes que buscam essas raças na hora de adotar é maior nas regiões Norte e Centro-Oeste (cerca de 50%), enquanto a média nacional é de aproximadamente 35%. Quem busca crianças mais velhas, com mais de seis anos, tampouco costuma fazer restrições quanto às demais características do futuro filho.  

Norte – A região Norte responde por 2,3% do total de pessoas que desejam adotar inscritas no Cadastro Nacional de Adoção. Nesse universo, o percentual de casados (64,1%) é o menor quando comparado às demais regiões brasileiras. Por outro lado, os pretendentes solteiros (16,1%) e em união estável (15,3%) apresentam os percentuais mais expressivos em relação às outras partes do Brasil. De acordo com o estudo, também está no Norte a maior proporção de pessoas entre 18 e 39 anos que querem se tornar pais adotivos (38,2%), sendo, proporcionalmente, a região com pretendentes mais jovens.

Nordeste – O Nordeste chamou a atenção dos pesquisadores pelo percentual de pretendentes divorciados – 3,2% dos candidatos –, o mais expressivo do País. Os viúvos também correspondem ao dobro da média nacional. Embora o Nordeste seja a região brasileira cuja população apresenta a menor expectativa de vida – 70,4 anos, segundo dados de 2009 do IBGE –, 23% dos pretendentes nordestinos inscritos no cadastro têm mais de 50 anos. Esse percentual é superior ao aferido nas regiões Sudeste (22,8%), Norte (20,9%) e Centro-Oeste (20,2%

Centro-Oeste – Embora no Centro-Oeste os casados sejam maioria entre os que desejam adotar (70%), no universo de mulheres, as pretendentes à adoção que são divorciadas (7,3%) apresentam o maior índice regional. Em relação à faixa etária, assim como no Nordeste, é elevado o número de pessoas com mais de 50 anos que querem adotar (20,2%). O Centro-Oeste é a região do país que possui o percentual mais expressivo de pretendentes na faixa de 30 a 49 anos de idade (75,4%).

Sudeste – A região mais populosa do Brasil é responsável por aproximadamente 50% dos pretendentes registrados no Cadastro Nacional de Adoção, grande parte deles (43,9%) com idade entre 40 e 49 anos – o maior percentual registrado nessa faixa etária. No tocante às mulheres que buscam um filho adotivo, o Sudeste apresenta o maior percentual de casadas (54,2%), enquanto os índices de solteiras (26,4%) e em união estável (8,4%) são menores em relação às demais regiões analisadas.

Sul – O Sul apresenta o maior percentual de pretendentes casados (82,3%) do País. Por outro lado, os índices relativos aos futuros pais em união estável (7,9%), solteiros (7,5%), divorciados (1%) e viúvos (0,5%) são os menos significativos quando comparados às demais regiões político-administrativas brasileiras. A região também apresenta o maior percentual de homens (81,2%) inscritos no Cadastro Nacional de Adoção. O número de pessoas maiores de 60 anos que querem adotar no Sul (10,4%) também é proporcionalmente o maior do País.

sábado, 6 de outubro de 2012

Novo livro Fina Presença da psicóloga Cintia Liana

Capa do livro Fina Presença, da psicóloga Cintia Liana

Agradeço a quem pediu! Aí está o novo livro do blog Fina Presença. Disponível para compra no link: https://www.agbook.com.br/book/134081--Fina_Presenca

Fina Presença. Psicologia, Consciência e Arte
Autora: Cintia Liana Reis de Silva

Este livro traz a coletânia dos textos, frases e pensamentos mais lidos do blog Fina Presença (www.finapresenca.blogspot.com).

Se trata de uma adaptação para que os leitores do blog possam levar as doces e lúcidas palavras da psicóloga Cintia Liana aonde quer que seja e ainda presentear como modo de motivar quem se gosta a refletir sobre os aspectos apresentados, como a importância e o caminho do autoconhecimento, a consciência, a arte, o amor, a felicidade e a vida.

Após tantos pedidos, os textos foram todos organizados, revisados e reunidos neste livro.

Aproveitem a fina leitura.


quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Doar o filho para adoção

Google Imagens
Para quem me escreve, querendo saber o que fazer no caso de querer doar o filho em adoção:
Não se desespere, a coisa mais certa e seguríssima a fazer neste momento é procurar a Vara da Infância e Juventude (VIJ) de sua cidade e falar com uma assistente social. A Vara da Infância é órgão responsável por isso e por fazer a ponte com a pessoa interessada em adotar, que já está devidamente preparada e à espera do filho tão sonhado. Será bom para o teu filho esse percurso, é seguro e correto.
A assistente social irá te acompanhar e te dará todas as informações necessárias. Você não será julgada, condenada, nem muito menos sofrerá danos, ao contrário, todos lá sabem que você quer o melhor para o bebê.
Depois do parto você será entrevistada novamente e, se for o caso, sua família questionada sobre a vontade de obter a guarda da criança, que ela tem por direito ficar na família onde nasceu. Se não existir outra possibilidade a criança será doada para o primeiro da fila de espera a adoção, pessoas capazes, já avaliadas e que estão ansiosas por ter um filho nos braços.
Faça isso, procure a VIJ (Vara da Infância e Juventude), lá você será ajudada, pois sabemos que quando uma mãe faz um "plano de adoção" para um filho é porque não tem outras alternativas.
Não entregue a qualquer um, não faça isso, a VIJ está preparada para dar em adoção plena o teu bebê ao casal ou pessoa solteira preparada, com todas as condições materiais e psicológicas necessárias para que ela cresça saudável e segura. E deve ser feita uma adoção depois de você registrar (depois a 1ª certidão que você, mãe, tiver feito será anulada), não dê a criança para um "desconhecido" para que ele faça uma "adoção ilegal". Por mais que existam muitas pessoas boas e honestas querendo um bebê, que fazem adoção direta dos braços da genitora, você sabe quantos casos existem de tráfico de órgaõs e de bebês? Nós não temos ideia desses números e o que facilita isso é as pessoas fazerem adoções sem o intermédio da lei e isso vai tomando uma proporção que não conhecemos.
Seu bebê merece ser registado com dignidade, como manda a lei, através de uma adoção mediada por profissionais qualificados e um juiz. Pense nisso.
Cintia Liana

domingo, 30 de setembro de 2012

"O que esperar quando você está esperando"

Filme "O que esperar quando você está esperando"
 
Ontem fomos assistir aquele filme novo americano com Rodrigo Santoro e Jennifer Lopez, "O que esperar quando você está esperando". No Brasil estreou no início do mês passado, aqui na Itália este mês.

É um bom filme para rir e chorar. São uns 5 casais que esperam filhos, quatro biológicos e um pela adoção.
 
O filme trata da postura de cada um, a preparação, as expectativas e ensiedades, a cumplicidade estabelecida na relação de casal, a competição entre as mães, as formas de viver a gestação e outros detalhes. Tem algumas partes mais bobas e discursos não tão aprofundados, mas no geral é bem tocante, sobretudo a parte em que fala da espera na adoção e quando a personagem toma seu filho etíope em seus braços. Esse momento me emocionou muito. Vale a pena assistir.
 
Cintia Liana

sábado, 22 de setembro de 2012

A importância do bichinho de pelúcia nos primeiros anos de vida

[Foto: Cintia Liana em Saint Paul de Vence, França]
O uso do bichinho de pelúcia na França faz parte da cultura

Texto original: "O amigo paninho"

Na turma do Snoopy existe um personagem chamado Linus, um menino de camisa vermelha que carrega para todos os cantos aonde vai um amigo inseparável: O paninho azul, que Snoopy volta e meia tenta roubar. Não são poucas as tirinhas em que Linus abre o berreiro ou derruba tudo que pode aparecer pelo caminho no esforço de manter-se firmemente agarrado ao seu paninho. Assim como ele, muitas crianças cultivam essa amizade. Seja o paninho ou um bichinho de pelúcia o apego a este objeto é uma imagem muito comum de se ver nos primeiros anos de vida.

O apego ao paninho ou qualquer objeto de escolha da criança está diretamente ligado às fases do desenvolvimento infantil. A primeira forma de comunicação encontrada, por exemplo, é o choro, que serve para avisar que estão com fome, com dor ou em busca de carinho. No entanto à medida que vão evoluindo os pequenos fazem novas descobertas e, juntamente com elas, novos dramas e conflitos lhes são apresentados. Entre eles está a descoberta de que nem sempre a mãe estará disponível no exato momento em que necessitam o que gera certa insegurança. “Quando a criança é muito pequena e não consegue estabelecer uma linguagem verbal, ela cria estratégias para se manter neste mundo, a princípio, confuso e até assustador. Por isso o choro é uma ferramenta eficaz na hora da dor, do desconforto ou como meio de se estabelecer uma comunicação. O alento, por sua vez, virá na forma do carinho da mãe (se esta estiver disponível), ou pode vir através do paninho ou bichinho, enfim, em algo que ela estabeleça um vínculo capaz de amenizar seu sofrimento no momento”, explica a psicóloga, especializada em Terapia de Família, Cíntia Souza Neto. Antes que o sentimento de culpa tome conta da mãe que estiver lendo essa matéria, vale lembrar que esse apego não necessariamente advém de uma carência afetiva, ou seja, não significa que a mãe é distante, indiferente ou falta com amor ao filho. Essa indisponibilidade é momentânea, às vezes a criança sabe que a mãe está ali, mas por alguma razão não pode largar tudo porque o filho requer atenção naquele momento.

Os objetos de apego são usados pela criança como um suporte na conquista da autonomia, uma vez que funcionam como uma espécie de substituto materno auxiliando à criança organizar-se na ausência das figuras de referência. Cada criança tem seu tempo em termos de amadurecimento emocional. Algumas necessitam de mais, outras de menos para se adaptar ao ambiente, às pessoas e é necessário que os pais tenham sensibilidade para respeitar o que ela pensa, sente e faz. As crianças, ao se sentirem sozinhas na cama, na creche ou no jardim-de-infância, usam estes objetos para se sentirem mais confortadas e até mesmo confiantes.

Nem todas as crianças sentem essa necessidade do apego por um objeto. No entanto, não significa, exatamente, que esta criança atingiu um grau de maturidade ideal, mas que talvez, ela possui outro foco de atenção emocional. Pode ser uma chupeta, uma brincadeira, um esporte. “A escolha não acontece aleatoriamente, ou seja, tem um significado emocional pra essa criança,” ressalta a terapeuta.

Ao longo do tempo, a criança percebe que sua mãe não pode estar 24 horas ao seu dispor, ela precisa se afastar por alguns momentos e essa distância faz com que a criança se apegue a algo que, emocionalmente, preencha essa lacuna. Por isso que, na hora de dormir, seu objeto de apego se torna tão indispensável. “Anninha sempre teve um soninho, chamado de cote, não dormia sem ele e a chupeta. Era o denguinho dela para dormir”, conta a engenheira carioca Renata Cardoso de 32 anos, mãe de Anna Luiza de 6. Na hora do sono, a criança vai à busca de algo que a conforte que lhe traga tranqüilidade e, freqüentemente, procura por aquele objeto que ela elegeu como fonte de consolo justamente por que lhe transmite a sensação de que continua “ligada” à mãe ou ao pai. E acredite, essa ligação vem através do cheiro. De alguma maneira remete a lembrança do cheiro da mãe. Por isso não gosta que ele seja lavado. Essa suposta dependência assusta aos pais. Mas para o amadurecimento emocional da criança é preciso estabelecer nesse momento um diálogo entre pais e filhos. “Conversar com seu filho sobre a importância de se manter a higiene de seu “amigo paninho” faz parte dos laços de confiança que se deve estabelecer entre os familiares. Muitas crianças têm a ilusão de que algo terrível possa acontecer (furar, molhar, estragar) ou até mesmo pela mudança de aroma que o mesmo irá adquirir”, esclarece Cíntia.

A medida que vai ganhando autonomia emocional a criança vai se desprendendo do objeto de apego. Entretanto, se ele persiste de forma exagerada ou se a criança tem muita dificuldade em separar-se do mesmo, vale lembrar o que já foi dito, este objeto é eficaz como forma de consolo e não algo substituto. Aceite este momento como uma etapa natural do desenvolvimento e não o valorize demasiado. Não existe uma idade certa para a criança deixar de precisar destes objetos pois isso depende da maturação de cada criança. Se ela já possui um bom nível de interação verbal, a comunicação entre os familiares deve ser valorizada e este desapego deve ser gradativo e sem sofrimento. Sempre que deixar de precisar do seu amigo paninho valorize-a perante o seus amiguinhos, aumentando a sua auto-estima pelo fato de já ser “crescida”, funcionando simultaneamente como modelo para as outras crianças.


domingo, 16 de setembro de 2012

Existe filho predileto?

Mandy Lynne

Por Cintia Liana Reis de Silva

Sim, existe filho predileto, e porque não?

Estudos da Universidade da Califórnia comprovam que existe filho predileto. Para 70% dos pais e 60% das mães esta predileção seria em relação ao filho primogênito. Mas nem sempre é assim, às vezes se prefere o mais novo por ser o mais frágil. Outras vezes a mãe prefere o filho mais velho e o pai a filha mais nova. (CRIPPA, 2012) 

Mas independente de quem seja o predileto uma coisa é certa, isso gera ansiedade e expectativas em todos, desorganiza a família e satura o sistema familiar. Por exemplo, o filho mais velho preferido e protegido se sente potente e o mais novo subjulgado e agressivo, ou o filho mais velho sente pena do mais novo que se torna frágil e fraco. Também pode ocorrer do protegido se tornar dependente por toda a vida e não conseguir assumir responsabilidades.

Pai ou mãe, antes de assumirem esses papéis são humanos como qualquer outro. Filhos são diferentes entre si e os pais reagem de acordo com isso e o tratamento que cada um recebe, em parte, também depende desses fatores. Nestas relações do sistema familiar, muitas vezes emaranhado, pode existir naturalmente mais identificação e afinidade com um filho que com um outro, é natural. Um filho pode se identificar mais com o pai ou com a mãe, seria impossível estabelecer relações iguais já que se tratam que seres humanos diferentes, que carregam singularidades, especificidades e as relações se baseiam nestas configurações do encontro entre duas psiquês diferentes, que dialogam multuamente e inconscientemente.

Pode ser que a mãe estabeleça uma relação mais difícil com a primeira filha porque esta carrega muitas características da avó, características essas que eram portadoras de dificuldades na relação com a sua filha, mãe desta última a chegar. Pode ser que, ainda que tenha dificuldades com a mãe seja a preferida por ser mais parecida e, por isso, aparecem também as dificuldades. É uma via de mão dupla, ou poderia dizer de "mãe dupla"?

As relações também são recheadas do que Freud chamou de "transferência e contratransferência", um dos mecanismos de defesa do ego, ou seja, estabelecemos relação com novas pessoas baseadas em relação antigas, já consolidadas, e as repetimos de acordo com o que a nova pessoa nos demonstra. Às vezes até lembramos muito de uma pessoa que já conhecemos há muito tempo quando conversamos com alguém que acabamos de conhecer, sem que essas duas pessoas se pareçam fisicamente, mas se parecem na personalidade, então tendemos a repetir a nossa mesma maneira de ser com esta também e este alguém pode contratansferir, reagindo de modo como esperamos. Algumas vezes, se a pessoa não constratransfere, nos sentimos "perdidos" em como podemos nos relacionar com ela. Se trata de um repertório, usamos a mesma márcara social que usamos com aquela outra.

Sobre a máscara, nada tem a ver com falsidade, Jung, o pai da psicologia analítica, usou este termo para explicar de que modo nos reportamos e nos relacionamos com alguém, a nossa figura social, munida de autocensura, algo necessário para sobrevivermos em sociedade, é a parte do aparelho psíquico que organiza o nosso material inconsciente, o que pode vir a tona e como pode vir, de acordo com quem está a nossa frente ou que situação estamos vivendo.

Mas voltando para a relação com os filhos e se existe um filho preferido, observamos que só em falar sobre o assunto nos parece impróprio ou feio, pois parece algo vergonhoso desejar mais bem ou amar mais a um filho que ao outro. Ocorre que pode nem ter a ver com amar e sim simplesmente se relacionar e se identificar.

Existem modos diferentes de estar no mundo, de viver e sentir as relações e pais e mães não estão acima do bem e do mal, que não podem se identificar mais com um ou com outra pessoa, mesmo que esses sejam os próprios filhos. Se pais e mães fossem perfeitos e não fossem humanos não existiriam tantos pais egoístas, chantagistas, cruéis e esquizofrenizantes, que sufocam e fazem seus filhos sofrerem, sem terem a mímima consciência disso.

Amar e torcer para a felicidade de todos os filhos igualmente é algo que uma pessoa que se trabalha pode desenvolver, mas nada tem de errado em ficar mais animado e feliz com a presença de um dos filhos, frente ao fato deste ser mais nutritivo, otimista e saber levantar mais a auto estima dos pais e valorizá-los mais.

Algo importante a se fazer é, desde o início, trabalhar as dificuldades que aparecem nestas relações, que normalmente são dificuldades já trazidas na relação com os pais dos pais; é buscar ser pessoas mais conscientes com todos e isso se refletirá na educação que se passa dentro de casa. A partir daí, refletir que o filho sempre é um reflexo do que damos a ele, misturado a outras variáveis bem complexas do que nem temos consciência de nós e dele. Mas sabemos que podemos ter uma relação positiva e justa com toda a prole, sem precisar nos sentirmos culpados porque estamos mais próximos afetivamente de um ou de outro.

O importante é se livrar da culpa de sermos humanos e falhos e procurar sermos justos de verdade, corrigindo possíveis erros, verbalizar nossas dificuldades, dividir dúvidas, assumir equívocos com os filhos para fazer a família se fortalecer, dar este bom exemplo, derrubando tabus, independente de interesses pessoais ou orgulhos herdados. E sobretudo se unir e ter humildade para desenvolver uma boa relação justamente com os filhos que se tem mais dificuldades, pois são aqueles que mais se parecem com os pais.

Cintia Liana Reis de Silva, é psicóloga e psicoterapeuta, especialista em psicologia conjugal e familiar, trabalha com casos de família e adoção desde 2002.

Referência:
Crippa, Vania. Esiste il figlio prediletto? Revista Psychologies Magazine. Italia: Giugno, 2012.

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Relação fusional do recém nascido e sua relação com aspectos ocultos da psiquê materna



Por Cintia Liana Reis de Silva

O que seria de fato mais importante para se preocupar quando se espera um filho no ventre e na fila de adoção? Os horários mais corretos para dar de comer e para dormir ou a própria preparação emocional para sustentar as necessidades psicológicas mais profundas da criança?

Um recém nascido resta em estado fusional com a mãe por nove meses depois do seu nascimento, sua existência psíquica sadia depende da existência dela, se ela desaparece é uma espécie de morte para ele, que sente o sofrimento desta perda como algo “esmagador” (JOHNSON, 1985).

Isso também quer dizer que perto ou longe do seu corpo físico o neonato apresenta todos os sintomas de tudo o que ela sente, ele é seu termômetro, que não sente o espaço de separação entre eles, a mãe é uma extensão do seu pequeno corpo, do seu "eu", ele depende diretamente dela para viver emocionalmente e fisicamente. Se após suas necessidades básicas serem atendidas a criança se mostra agitada, chora muito, é depressiva, apresenta problemas de pele e tem pesadelos, certamente pode estar manifestando algo oculto da psiquê da mãe, aspectos de sua "sombra", aquilo que ela esconde dela mesma, seus pensamentos negativos, sua ansiedade, aquilo que teme apresentar aos outros, aquilo que quer esquecer ou que pertence ao seu passado. Nesta hora, a mãe deve mergulhar e perguntar-se o que ela de fato sente, pois está sendo manifestado em seu filho, pois o neonato representa um vulcão em erupção, algo que nem a mãe está reconhecendo ou trabalhando em si de modo maduro (GUTMAN, 2008).

Por isso, a tarefa mais importante antes de se ter uma filho é se perguntar: “Estou pronta?”, “Tenho uma vida emocional bastante madura e tranquila capaz de proporcionar a meus filhos paz e segurança?”, “Que tipo de relação tenho com meus pais e que coisas devo trabalhar para não repetir o mesmo tipo de relação adoecida?”, "Como poderei proporcionar algo que não tive a meus filhos? E o que me falta?". Ter filhos somente com o objetivo de proporcionar prazer a si próprio ou completar-se chega a ser cruel de tão egoísta, eles não podem dar segurança a alguém que não a tem, eles precisam de segurança de completude para crescerem bem e desenvolverem bem o seu próprio ego (SILVA, 2012).

O ser humano é o único que demora mais tempo para adquirir um certo grau de autonomia, mais de 9 meses, o que outros mamíferos conseguem em apenas poucos dias depois de seu nascimento. A fusão do neonato é uma modalidade de relacionamento necessária para desenvolver o seu ego, precisa do outro, primeiro da mãe, e está enredado em suas mais profundas emoções, sentimentos, sensações, as positivas e as negativas, mesmo que isso fuja do controle desta e sempre foge. Depois a criança vai reconhecendo os outros como fazendo parte do seu mundo, criando novos vínculos fusionais e isso inclue os objetos que o cercam, como um bichinho de pelúcia. Todos também se tornam uma extensão do seu "eu" e sua vida emocional vai se ampliando. Para reconhecer esse espaço leva mais tempo que um adulto, por isso, precisam de tempo para acostumar-se com presenças de pessoas e lugares novos, para se sentirem seguros e explorarem o ambiente, como uma festinha de aniversário, por exemplo, quando é hora de ir embora é justamente o momento em que começam a se soltar e eles obviamente querem ficar. Por isso, muitas coisas não são meras birras, de acordo com alguns julgamentos comuns.

Crianças pequenas que tiveram que suportar importante separações ou são filhos de pessoas que sofrem de "ansiedade de separação" tenderão a estender um pouco este período fusional e a suportar menos rompimentos de vínculos e quando adultos correrão o risco a estabelecerem relações possessivas, baseadas no ciúme ou na falta de confiança, que são manifestações desesperadas do medo da solidão. Os pais devem estar atentos e a lançarem mão de ajuda psicológica sempre que necessário, para eles e para os filhos.

As crianças crescem e a tarefa de todas é ganhar independência física e emocional, amadurecer mas, ainda assim, nesta estrada, até um certo ponto somos o reflexo dos nossos pais, da parte luz e da parte sombra, oculta, que eles escondem até deles mesmos. A mais importante tarefa enquanto pais é desvendar esses mistérios pessoais, olhar para a parte mais dolorida e trabalhá-la sem tabus, não só para crescermos e sermos mais felizes, mas também porque significa um pacto de amor para com os filhos, que serão sempre um pouco de nós.

Cintia Liana Reis de Silva, é psicóloga e psicoterapeuta, especialista em psicologia conjugal e familiar, trabalha com casos de família e adoção desde 2002.

Referência:
GUTMAN, Laura. La maternità y el incuentro con la propria ombra. Buenos Aires: Editorial Del Nuevo Estremo, 2008.
JOHNSON, Stephen M.. Characterological Transformation: The hard work miracle. New York: Ed. Norton, 1985.
SILVA, Cintia Liana Reis de Silva. Filhos da Esperança: Os Caminhos da Adoção e da Família e seus Aspectos Psicológicos. Salvador: Edição do Autor, 2012.

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Meninas também usam azul

Cintia Liana

Minha filha vai usar só azul, claro! Brincadeira, ela vai usar todas as cores do arco íris e muito mais, ela vai nascer com esse direito, de conhecer tudo.

Mas quem se chocou com a afirmação deve se perguntar se ainda está vivendo na mesma época em que a mulher não usava calças, não podia votar e não trabalhava fora de casa.

Sinceramente, por segundos eu fico achando que as pessoas estão brincando comigo quando fazem cara de crítica, de deboche e de superioridade quando compro uma pecinha azul clara para minha filha. Será que na cabeça fantasiosa de quem pensa assim ela vai se tornar menino só por isso? Ou vai querer ser gay? Não sei de onde vem essa mentalidade. Isso é algum tipo de religião ou superstição? Isso ainda existe no Brasil? Porque aqui na Itália falam isso com naturalidade.

Gente, eu estudo teorias sistêmicas super difíceis de compreender, tento organizar adoções internacionais super complicadas e uma pessoa vem me dizer que menina não pode usar azul? É subestimar muitíssimo a inteligência alheia.

Enquanto eu me preocupo em como introduzir de maneira justa de uma só vez três idiomas em sua educação ou em como usar os florais certos deste cedo para despertar seus potenciais mais criativos as pessoas me questionam porque eu compro azul para ela. Pode? Culturazinha atrasada de merda, viu?
Não dou palpite na vida de ninguém, muito menos por uma palhaçada dessas. Me preocupo é com as crianças que vivem em situação de miséria e que devemos fazer algo, encontrar famílias adotivas, mudar as leis, acabar com os preconceitos.

Eu luto justamente pelo contrário, para minha mente se limpar dessas idiotices que não têm fundamentação teórica nenhuma. Cansada! Tem gente que critica tudo! Então penso em quem só me faz bem.

Não tem como não imaginar as mães adotivas, o que não sofrem com as críticas mais desumanas e ignorantes.
Minha filha vai usar sim a cor do “poder divino”, que é o azul, assim como vai usar todas as outras. Ela será educada para respeitar as diferenças e saber amar, estando ela com uma camisetinha bem chic azul ou rosa. Aí sim, a camisetinha é que não pode ser brega ou cafona. E mesmo assim não critico ninguém que seja brega por natureza. Mas mesmo assim, minha filha vai aprender a ter bom gosto desde cedo e saber identificar o que é de qualidade em tudo, começando pelos conceitos.

Por Cintia Liana

Pai usa saias para apoiar filho de 5 anos que gosta de usar vestidos


Por | Vi na Internet – qua, 29 de ago de 2012

Um pai alemão começou a usar saias porque o filho de cinco anos gosta de usar vestidos. A história mexeu com um vilarejo tradicional no sul da Alemanha. Niels Pickert percebeu que seu filho gostava de usar vestidos e era ridicularizado por isso no jardim de infância. Segundo Pickert, "usar saia era a única maneira de oferecer apoio ao meu filho".

Em uma carta, Pickert explica: "Sim, eu sou um daqueles pais que tentam criar seus filhos de maneira igual. Eu não sou um daqueles pais acadêmicos que divagam sobre a igualdade de gênero durante os seus estudos e, depois, assim que a criança está em casa, se volta para o seu papel convencional: ele está se realizando na carreira profissional enquanto sua mulher cuida do resto".

De acordo com o pai, ele não podia simplesmente abandonar o filho ao preconceito alheio. "É absurdo esperar que uma criança de cinco anos consiga se defender sozinha, sem um modelo para guiá-la. Então eu decidi ser esse modelo". Um dia eles resolveram sair pela cidade vestindo saias. Chamaram tanto a atenção de uma moça na rua que ela, literalmente, deu com a cara em um poste.

E o que aconteceu então? O guri resolveu pintar as unhas. Às vezes, ele pinta também as unhas do pai. Quando os outros garotos começam a zombar dele, a resposta é imediata: "Vocês só não usam saias porque os pais de vocês não usam".

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Biológico X Adotivo: Tem diferença?

Google Imagens

Por Kelma - "Adoção do lado de cá"

Uma coisa que sempre ouvimos dizer é que ser mãe adotiva é totalmente diferente de ser mãe biológica. Normalmente se prega que o filho adotivo já vem “pronto”, que não acontece a fase da barriga (a gestação) ou da amamentação que tudo isso faz com que haja diferença entre adotar e gerar. Quando eu ouvia isso ficava apavorada, pois achava que essa diferença era na emoção, no sentimento e na afetividade.
Da minha experiência, atualmente, afirmo que não há diferença alguma entre ser mãe adotiva e mãe biológica. Há todo um mistério e mistificação em torno da gestação, do processo de gravidez, que nem sempre faz sentido. É claro que é lindo e muito bacana a gravidez (não pretendo criticar a gravidez, claro). Mas é importante dizer que não é esse processo que transformará a mulher em mãe. Tanto que, se fosse assim, não teriam milhares de crianças disponíveis para adoção! Bastaria engravidar para virar mãe e entender o processo da maternidade. Não é? Não. Nada disso. A gestação, a gravidez, a barriga, a amamentação não são fatores determinantes. Eu tive barriga, tive uma gravidez tranquilíssima, amamentei mais de 1 ana... tudo como “manda o figurino”. Contando toda aquela loucura de se tornar mãe, administrar as visitas, manter o casamento, cuidar do filho, lidar com hormônios e tudo o que envolve a maternidade, os sentimentos para gerar e adotar são idênticos. Na verdade não são idênticos para todo mundo, mas podem se tornar idênticos se a pessoa quiser. Meu marido, inclusive, costuma dizer que meu “pós-parto” foi igual quando tivemos meu primeiro filho e quando adotamos a segunda.
O sentimento de se tornar mãe, cuidar de um ser humano, formar alguém, ser responsável por esse alguém e ver a vida transformada radicalmente é o mesmo. As lágrimas, o medo, os receios, as dúvidas são iguais. E o amor também. Não há a menor diferença. Digo isso porque se tivesse como garantir às mães adotivas que elas são mães como qualquer outra eu garantiria sem a menor dúvida. Vivo as duas vias. E são iguais em amor e em doação.
Porém, como todo parto, a chegada de um filho (seja biológico ou adotivo) vira nossa vida de cabeça para baixo. Quando temos um filho biológico não temos escolha: é levar pra casa depois da Maternidade e se virar com a situação. Contudo, quando temos um filho adotivo, há a (maldita) possibilidade de “desistir”. E, assustados com o processo cruel e real que é sair da condição de filhos para nos tornarmos mãe/pai, achamos que por ser o filho adotado não estamos dando conta de aceitar e adaptarmo-nos à ele. E não é assim. Como disse anteriormente, os medos, receios, pavores, dúvidas, questionamentos estarão tanto no filho da barriga quanto no filho do coração (não gosto dos termos, mas vá lá!).
Portanto, que esse primeiro post oficial deixe claro -antes de falar noutros temas- que ser mãe é uma atividade única e não tem distinção nos “formatos”. Transformar sua vida - que antes era autossuficiente e independente - em doação, entrega e responsabilidade dói à beça. Seja para filho biológico ou adotado. Vai mexer profundamente com você, independente de ter adotado ou gerado. E se não causar todo esse rebuliço dentro de você e de suas vidas, aí sim, será sinal de que tem coisa errada! Porque toda mudança dói. E sem dor não haverá a mudança. E sem mudar, não tem maternidade.
O melhor conselho nesses casos é: siga seu instinto. Aceite suas imperfeições. Viva a mudança sem querer ser perfeita. Saia dos protótipos de perfeição que a mídia vende, dizendo que é tudo um mar de rosas (porque não é). Dê a sua cara em sua história, faça a diferença. Isso mostrará as cores reais da maternidade, e não o processo que trouxe um ser humano à vida e para dentro de sua existência.
Um Grande Abraço
Kelma (Artigo escrito e publicado em 16/01/2009)

terça-feira, 21 de agosto de 2012

E sobre barrigas cansadas, novelas ruins e minha adoção


07/08/2012 | 08:16
Margarida Telles
Atualidades, família | Adoção, história, preconceito
  
Ao ler o texto de Germana Costa Moura, publicado aqui no Mulher 7×7 na semana passada, me emocionei. E a emoção veio por causa da identificação que senti. Sou uma “filha adotiva”, termo que odeio tanto.
 
Quando perguntavam para a minha mãe na minha frente se eu era a sua filha adotiva, ela rebatia “é minha filha querida”. E depois me explicava que o “querida” vem do “querer”. Ela quis tanto ser mãe daquele bebezinho prematuro que precisou convencer um monte de gente e superar uma montanha de burocracias.
 
De onde veio esse querer, ela nunca soube verbalizar. Minha mãe biológica era prima do meu pai adotivo. Quando ela estava lá pelos seus cinco meses de gravidez, descobriu que tinha câncer. Era um tumor no cérebro, já em fase avançada, e logo ela perdeu a consciência. Minha mãe adotiva foi ao hospital fazer uma visita e PAM, sentiu que aquele bebê dentro da barriga da prima doente era dela.
 
Muita gente chamou a minha mãe de louca. Ela já tinha seus 51 anos, três filhas criadas, havia chegado finalmente naquela fase de voltar a curtir o marido em paz, sair à noite para ouvir jazz, viajar quando desse na telha. Mas estava ali, disposta a começar tudo novamente, trocar fraldas, não dormir, passar vinte anos em função de uma criança. Pra completar, ninguém sabia em quais condições eu nasceria, se teria algum tipo de sequela por conta dos remédios administrados durante a gravidez. Mas minha mãe é teimosa. Decidiu, e convenceu todo mundo.
 
Eu nasci prematura, mas saudável. Minha mãe biológica morreu poucos dias depois. Mas a vida tira e depois dá (brega, porém verdadeiro). Ganhei uma família enorme. Minha irmã mais velha morava na Europa e veio de surpresa me conhecer. Minha mãe perguntou pra ela se acreditava que eu teria no futuro muitos complexos por ser adotada. Com o humor de sempre, minha irmã respondeu que todo adolescente é problemático, eu pelo menos não precisaria inventar os tais “problemas”.
 
Sempre soube que fui adotada, até mesmo porque convivo com minha família biológica. No começo, minha mãe não sabia se eu deveria chamá-la dessa forma. Afinal, ela conheceu minha mãe biológica, não sabia se estaria de algum modo roubando a cena. Mas a decisão foi minha. Antes mesmo de fazer um ano, me segurei na grade do berço, olhei pra ela e disse minha primeira palavra: mamãe. Pronto, foi decretado. Eu a escolhi como mãe, embora carregue sempre um grande carinho pela mulher que lutou contra o câncer para me dar tempo de nascer saudável, aos sete meses.
 
Quando criança, o fato em si de ser adotada não me chateava. Como minhas irmãs eram adultas, nunca teve nenhum tipo de provocação. Teve é proteção, assim como tem até hoje. Se eu perguntava por que não nasci da barriga de minha mãe, ela respondia que já tinha carregado no ventre três filhas, a barriga estava cansada e pediu outra emprestada. Simples. Na escola, me lembro de ter preguiça de explicar toooooda a história para os amiguinhos, então contava só as partes que queria. Algumas vezes até desenhava para facilitar. E nunca ouvi ninguém me chamar de “adotada” – só de “magrela” e “girafa”, é a vida.
 
O que me deixava pra baixo era justamente o modo como a adoção era explorada na mídia. Em toda novela mexicana, até mesmo nos programas infantis, tinha uma ÓRFÃ. A criança mal tratada, abandonada, infeliz. Se a trama fosse feliz, no final o órfão encontrava seus pais “verdadeiros”. Acho que isso em parte criava (e ainda cria) aquele mito do adotado. O irmão mais velho que tenta convencer o mais novo que não é filho “verdadeiro”. Uma vez chorei porque era órfã em termos biológicos, e minha mãe disse “e daí, eu também sou, seus avós já morreram”. Entendi então que a maior parte das pessoas provavelmente vai perder seus pais, se a vida seguir seu rumo natural. Eu tive a sorte de ganhar pais novinhos em folha, olha só!
 
Acho importante abordar o tema da adoção na mídia. Os entraves burocráticos para quem deseja adotar, as condições em que as crianças sob a tutela do estado vivem, a licença maternidade e paternidade igual para qualquer pai que tem a sorte de ganhar um filho. Mas acho fundamental o cuidado com os termos preconceituosos, muitas vezes tidos como algo corriqueiro para quem não pensou no assunto a fundo. Não é preciosismo, discussão semiótica ou linguística. É respeito por pais e seus filhos, todos eles de verdade, com amor real, problemas rotineiros e sentimentos verdadeiros. Não importa de qual barriga vieram.
Margarida Telles é repórter de ÉPOCA em São Paulo.
 
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quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Entrevista: Quero adotar, por onde começo?


Entrevista: Site Mamatraca
Respostas: Cintia Liana
08 de agosto de 2012

Se hoje eu e meu marido decidirmos que vamos adotar uma criança, por onde devemos começar? Qual é o passo a passo legal no Brasil?

A primeira coisa a ser feita é procurar a vara da infância e juventude da cidade de residência dos adotantes. Lá o setor de adoção dará todas as informações necessárias para iniciar o “processo de habilitação para adoção”. Primeiro será dito que sejam levados todos os documentos necessários para dar entrada no pedido. Com os documentos reunidos, será marcada a entrevista social, depois chamarão para a avaliação psicológica, receberão uma visita domiciliar da assitente social e, terminada essa parte, que não tem tempo determinado e nem número de encontros para avalições e nem visitas, o processo será enviado para o Ministéroios Público e o Juiz, para que eles dêem seus pareceres favoráveis ou não ao pleito, que deve ser fundamentado no motivo legítivo do desejo de se ter um filho.
Será pedido também nesse tempo que os requerentes ao pleito se engajem em um grupo de apoio a adoção, que participem de algumas reuniões para completar a preparação necessária, mas algumas varas de infância hoje realizam encontros de habilitandos, o que pode vir a substituir a participação nos grupos de apoio, segundo algumas varas da infância, pois cada vara impõe suas próprias regras. 

Existem cerca de quatro mil crianças disponibilizadas à adoção no nosso país, mas a fila de espera pode demorar anos. Onde está o nó dessa questão?

Está na falta de pessoal para trabalhar e se dedicar às necessidades específicas dos casos, das crianças, dos adotantes, das famílias. Precisa de mais gente empenhada, de comunicação entre os setores, entre os profissionais. Alguns procedimentos, por exemplo, duram semanas para serem finalizados, porque só tem um juiz, que também sai de férias, tem os feriados prolongados, carnaval, tudo isso demanda tempo, enquanto isso são mais alguns meses em abrigos, sentindo na pele a dor do abandono.

Quais são as principais dificuldades que os casais dispostos a adotar enfrentam?

A falta de entendimento de todo o processo, das necessidades dos passos a serem feitos,  a parte subjetiva, que muitas vezes não são explicadas muito claramente no ambiente jurídico. A ansiedade, a espera que muitas vezes é longa, principalmente se a criança esperada tiver menos de 3 anos, tudo isso reunido traz muitas dúvidas, desânimo, indignação e falta de esperança aos adotantes.

Os grupos de apoio à adoção são formados por voluntários que já são pais adotivos. Como eles podem ajudar às pessoas que ainda estão vivendo esse processo? 

Podem ajudar não só passando segurança, mas sobretudo ajudando a desvendar os mistérios deste processo tão subjetivo e transformador, pois eles não só experimentaram todos os passos, como também se preparam de todas as formas (jurídica, psicológica) e  viveram situações reais, assim podem ajudar quem agora está iniciando o que eles já fizeram, travando uma relação de identificação positiva.

A Nova Cultura da Adoção divulgada pelo Movimento Nacional de Apoio à Adoção tem como pressuposto que "a criança tem que ser tratada como um sujeito de direitos e não como objeto de propriedade de determinada família, devendo-se encarar a adoção como um instrumento de concretização do direito de viver em família". É o que realmente tem acontecido?

É muito fácil cair no entendimento de que os direitos de quem está adotando é que têm que ser assegurandos, mas a lei mostra claramente que as crianças é que são seres a serem protegidos e a adoção é uma medida que vem assegurar o direito a convivência familiar.
É claro na lei que a adoção não é uma medida para se dar um filho a uma pessoa que não pôde tê-los ou que deseja ter mais, e sim é uma medida para se dar pais a uma criança que não os têm, pois foi abandonado pelos seus familiares, ou sofreu maus tratos.
A ansiedade da espera, as dúvidas sobre o que está acontecedo enquanto se aguarda faz muitas pessoas olharem mais para suas necessidades e esquecerem de que o menor é o X da questão, são os direitos dele que têm que ser protegidos e não os de atender aos dos requerentes como forma de dar-lhes filhos de acordo com os seus interesses, por mais que todos nesse cenários tenham que ser respeitados e mereçam explicações.
No último século a criança se tornou uma jóia preciosa na sociedade, aquela que traz alegrias para uma família que a deseja, muito diferente do que conta o ínício da história social da criança onde ela era tratada como um mini aldulto e até trabalhava, condividindo os mesmos espaços e conversas de conteúdo inapropriado para o seu desenvolvimento. Sendo assim, temos visto o desejo desenfreado de se ter um filho, sem muitas vezes olhar para a criança como um ser de direitos e que muitas vezes não pode se defender e nem dizer o que é melhor para ela.

Mesmo que não se tenha a intenção de adotar uma criança, como as pessoas podem ajudar a causa?

Podem ajudar muito falando sobre ela, desmistificando os proconceitos, trazendo o conteúdo a tona, falando da naturalidade do vínculo e repetindo que adoção é a única maneira de fazernos parte da vida de alguém. Contar casos de sucesso também é muito importante, já que a maioria das pessoas sempre deseja ter um caso ruim para falar e colocar a responsabilidade no fato da criança ter sido adotada.
O mais importante também é falar sobre a necessidade da preparação para ser pai e mãe, não só na adoção, mas na hora de fazê-los também, fazendo uma real auto análise e perguntando o que se pode dar de melhor a um filho e não o que ele pode proporcionar aos pais, nesse sentido faz-se necessários uma análise também da relação que se tem com os pais, pois certamente as dificuldade são passadas de geração em geração, de acordo com as teorias das terapias familiares e sistêmicas. É preciso transformação, é preciso confrontar-se consigo mesmo e, sobretudo, é preciso verdade.

Fonte: http://www.mamatraca.com.br/?id=322&entrevista:-quero-adotar-por-onde-eu-comeco#replt

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Impondo limites na adoção

Google Imagens

Ao adotar uma criança, o adotante deve impor limites desde o início da convivência ou isso pode prejudicar o processo de adaptação? E após a adoção, concretizada deve-se oferecer um tratamento diferenciado em razão de seu histórico de abandono?

Por Cintia Liana Reis de Silva

Primeiro os adotantes devem entender que quem está sendo adotado é uma criança como qualquer outra e que naquele momento o que ela menos precisa é ser “moldada” ou vista somente como um produto de seus prováveis traumas e maus hábitos da família de origem e da instituição. Ela precisa de tempo para elaborar suas perdas e sua nova vida.

É preciso tempo para enteder aquela realidade, é preciso amor para olhar com delicadeza cada criança e perceber como ela sente o seu próprio mundo, o mundo externo, qual é o seu histórico, começar a descobrí-la, entendendo suas necessidades existenciais e as necessidades daquele momento, sem precisar sentir a ansiedade do controle parental sobre todos os passos que ela dá. Ela não precisa de rigidez, ela urge por alguém que a entenda, que seja cúmplice até na hora de dar limites e que a ajude a começar o caminho de cura de suas feridas. Que a ensine a ser filha, que a ajude a sentir que pode confiar nas pessosa, que pode confiar na vida.

Ela precisa sentir que é aceita sem pré requisitos para ser amada, assim ela entenderá que está em "casa", que pertence àquele ambiente, e assim colaborará com ele e com os pais, caso contrário, ela entende que ganhou inimigos, pessoas que colocam condições para amá-la e todos nós sabemos que quem coloca condição não sente amor verdadeiro, isso é conveniência, pois a disponibilidade de amar é incondicional.

Cada semana os adotantes descobrirão muitas coisas novas sobre eles mesmos e um Universo totalmente novo. Eles também estarão em um processo subjetivo de adaptação, estarão construindo uma nova e forte relação de amor, construindo uma nova identidade, a pessoa pai e mãe, e precisam reconhecer isso, estarão entrando em contato com suas memórias de infância, com seus medos, feridas e incertezas e estarão escolhendo consciente e inconscientemente se irão repetir seus modelos parentais, entrarão em conflito consigo mesmo, rejeitarão algum comportamento do filho por algum motivo pessoal, se verão nele, então é preciso ter humildade para se “REconhecer” e “REpensar” seus valores, educação e relação consigo mesmo.

Outras fases poderão vir, como uma fase de revolta da criança, mas todo o cuidado e entendimento fazem-se necessários para que ela entenda que pisa em um terreno sólido, fértil e seguro e assim esta fase passará, se tiver um espaço onde é educada a falar sobre o que sente, a reconhecer suas dores e assim poderá entender que pode se expressar de um modo mais consciente, pois tem pais que são bons modelos e podem arcar com este seu processo de cura, fortalecimento e o aprendizado do amor. Porque ninguém nasce amando, isso se chama apego, amar se aprende.

Cintia Liana Reis de Silva é psicóloga e psicoterapeuta, especialista em casal e família, trabalha com adoção há 10 anos. Vive na Itália.

segunda-feira, 30 de julho de 2012

Preparação e preconceitos: adotando crianças de outra etnia

Mandy Lynne

No caso de candidatos de etnia branca, o ideal seria que eles adotassem uma criança da mesma etnia para evitar que ela sofra descriminação da família extensa, e de outros segmentos da sociedade?

Por Cintia Liana Reis de Silva

É claro que aparentemente seria bem mais fácil a adoção de uma criança com características semelhantes as dos pais adotivos, para que diminuissem as chances de comparação e que não se evidenciasse tanto o elo não consaguíneo, porém só este pensamento já seria negar implicitamente ou esconder o elo puramente de amor e escolha consciente feitas no ato de se ter um filho através da adoção.

As pessoas não devem deixar de adotar filhos de etnias diferentes para não sofrerem com o preconceito, isso seria eceitá-lo, seria compactuar com ele, acatar a sua eterna existência. Quem alimenta preconceitos é que deve ser questionado e reeducado a entender de modo mais maduro o que chamamos de “diferente”.

No Brasil existem muitas crianças negras e pardas para serem adotadas e seria muita injustiça fazê-las crescer sem pais pelo simples motivo de não poderem ter pais brancos. Devemos lutar contra o preconceito, e uma das formas de fazer isso é não vivendo de acordo com ele, é enfrentá-lo no dia a dia de modo leve e seguro e não tomar outras estradas, se moldando de acordo com seus princípios, isso seria empobrecer demais a vida.

Pesquisas mostram que crianças sofrem preconceito por terem sido adotadas e não por terem uma cor de pele diferente da dos pais.

Os pais devem dar uma base muito segura para que a criança encare essa diferença como algo natural, é um processo cotidiano. Existem sim outros pontos neste cenário, como o modo como esta criança lida com essas diferenças, mas a segurança dos pais é passada de modo sutil ao filho dentro do lar, nos mínimso detalhes, como na postura e no olhar.

Quanto mais preparados, seguros e bem resolvidos são os pais mais eles estarão protegidos por este clima de certeza deste amor e desta coesão familiar. Quando é desenvolvido a  certeza e tranquilidade frente as facetas da adoção nada pode abalar o núcleo familiar, no máximo pode ser motivo de diálogo e maiores descobertas desses fenômenos sociais.

Cintia Liana Reis de Silva é psicóloga e psicoterapeuta, especialista em casal e família, trabalha com adoção há 10 anos. Vive na Itália.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Adoção na mídia

Google Imagens

Por Alexandre Rocha

Noticia no site "Globo.com": "Idosa era maltratada por filha adotiva de 11 anos em Santa Maria, RS".

Primeira questão: Existe algum selo ou tatuagem, quem sabe uma pequena marca que exponha que uma pessoa é adotada?
Na certidão de nascimento, após o término do processo não tem qualquer referência a essa informação. 

Próxima pergunta: O que importa para sociedade que está lendo essa reportagem se a filha é ou não adotiva?

Acompanhem meu raciocínio, temos muitos abrigos e pessoas competentes em um esforço hercúleo para fazer com que os processos caminhem e essas crianças estejam finalmente disponíveis para adoção.
A grande maioria das pessoas que se propõe a adotar buscam um bebê. Com isso, temos várias crianças que vão crescendo e suas esperanças diminuindo.

Uma simples notícia dessa tem um impacto implícito na sociedade. 
Leia a chamada da reportagem e reflita quais são as informações que mais chamam a atenção:
1. Uma senhora maltratada por uma criança de 11 anos;
2. Essa criança é adotiva.

Agora continuem acompanhando meu raciocínio. Qual é a motivação dessa reportagem:
1. Uma criança de 11 anos usando a aposentadoria da mãe para gastar com supérfluos e deixando a própria mãe a merce da sorte, com problemas de saúde e higiene.

A pergunta mais importante até agora: "FAZ DIFERENÇA SE ELA É ADOTIVA?"

Qual o resultado disso: "Uma boa parte da sociedade é levada sem nem saber direito a um preconceito absurdo para com as crianças adotivas.

Qual a consequência direta: "Os casais que em algum momento pensaram que poderiam adotar crianças maiores, sem nem saber porque, desistem. E com isso, voltando ao que falei no início do texto, essas crianças ficam sem esperanças e vão crescendo até que completam 18 anos e são retiradas dos abrigos e não tem qualquer suporte para viver. Advinha como elas conseguem dinheiro para comer? Advinha onde elas vão viver?"

Sei que parece teoria da conspiração, mas não faz algum sentido pra vc?

APENAS REFLITAM.

Quando lerem uma outra reportagem dessas, mentalmente coloquem uma tarja na informação: "ADOTIVA" e descubram que não faz qualquer diferença. Pode parecer incrível, mas filhos biológicos também cometem erros.

domingo, 8 de julho de 2012

O ser humano adoecido

  Google Imagens

 

Por Marilena Henriques Teixeira Netto

 

Muitas são as perguntas sobre a causa de crianças e adolescentes que apresentam doenças “de adultos”.


O que acontece com eles, atualmente, que antes, não acontecia?
Nas décadas de 50, 60 e 70 as crianças eram ainda “crianças” com brincadeiras de crianças, cercadas por familiares e, principalmente, pelas mães que as mandavam para a escola somente aos 6 ou até 7 anos de idade. A diversão era na rua (na época, segura) ou mesmo dentro de casa. O apoio dos pais (onde a permanência mais duradoura dos casamentos existia) dava a essas crianças o suporte necessário para que crescessem sentindo-se seguras e amparadas.

As mudanças, já as conhecemos bem:
- no tempo dessa mãe que passa a maior parte de seu dia no trabalho;
- no casamento, onde pais separados tiveram de se dividir na atenção dos filhos e, também,
- na pessoa daquele que antes educava e que agora, passa o bastão para professores, babás. creches, etc…

O abandono se instala na percepção dessa criança que, na tentativa de se adaptar satisfatoriamente, inicia seus processos de somatização, ansiedade, angústia e autoestima fragilizada. Nesse processo, ainda, o isolamento transforma-se em “egoísmo” onde esse ser precisa pensar e focar em si mesmo nessa tentativa de adaptação.

Como consequência, no início dos relacionamentos que essa criança irá desenvolver, passa a existir a dificuldade de construir vínculos fortes e permanentes, onde a incapacidade de pensar no outro deixa de existir. Pois, afinal, aquele que passou tanto tempo investindo em si mesmo e tentando emocionalmente adaptar-se de maneira mais saudável, agora, desenvolver bons relacionamentos significa dar “tempo ao outro” e “pensar no outro”. Sacrifício demais exigido por alguém desacostumado a viver esse intercâmbio até dentro da própria casa, onde se sentia abandonado ou percebido como tal.

A prova e resultado disso são os relacionamentos desses jovens oriundos daquela geração que mal se sustentam e inviáveis de permanecerem por muito tempo. Jovens que apresentam as mais diversas consequências dessa dinâmica familiar, adoecidos, com síndrome do pânico, fobias as mais diversas, depressão, transtornos obsessivos, etc… etc…

O jovem perdido de hoje, infeliz, doente e solitário, pede socorro a esses pais que repensem seu comportamento e expectativa diante da vida e diante do o que é ser pai e mãe. Pais que aceitam a imposição moderna e o formato do mundo atual da imposição do “ter mais”, “ser mais” deixando de lado esses filhos abandonados e perdidos à procura de uma resposta para suas vidas.


segunda-feira, 2 de julho de 2012

"Chegaram a falar que eu faria isso para me promover", diz Vanessa da Mata

A cantora, que adotou três crianças, conta que sofreu preconceito
28/06/2012 às 11h59
Atualizado em 28/06/2012 às 14h53
 
Vanessa da Mata fala sobre preconceito que sofreu ao fazer adoção (Foto: Encontro / TV Globo)

Vanessa da Mata e o marido aumentaram a família por meio da adoção. O casal optou por adotar três irmãos, e conta que não costuma falar muito sobre o assunto. “Eu nunca falei sobre isso porque as pessoas gostam muito de fofoca e eu tenho o dever de proteger os meus filhos”, disse.

A cantora conta que as pessoas ainda têm muito preconceito em relação ao assunto. “Eu estava nos Estados Unidos e contei para os meus amigos de lá que ia adotar e eles fizeram um jantar para brindar. No Brasil, as pessoas diziam para eu não fazer isso, pelo amor de Deus. Foi decepcionante ver o preconceito. Algumas pessoas chegaram a falar que eu ia fazer isso para me promover, até por esse motivo eu prefiro não falar muito sobre o assunto”, disse.

Apesar de poder ter filhos biológicos, Vanessa revelou que optou pela adoção por causa da avó. “A minha avó tem sete filhos biológicos e, ao longo da vida, cuidou de quase 20 filhos adotivos com um salário mínimo. Ela é uma mulher muito digna e humilde que criou os filhos ensinando o que é certo. Isso para mim sempre foi impressionante e ficou marcado. Eu nunca tive preconceito nem medo. Nunca achei que criança puxa o sangue, ela segue o exemplo dos pais”.


quarta-feira, 27 de junho de 2012

Adaptação, memórias e processo de luto na adoção

No mês de março fui convidada para integrar o grupo de profissionais psicólogos brasileiros que iriam responder às perguntas do novo Manual sobre adoção do Tribunal de Justiça de Pernambuco que foi lançado este mês de junho.
Desta vez, as perguntas são mais aprofundadas, com respostas mais completas que no primeiro manual, feitas por pais e por pretendentes a pais adotivos.Abaixo uma das respostas.

As crianças e/ou adolescentes, que passaram muito tempo em casas de acolhimento, é mais difícil de se adaptar-se a uma família substituta do que aquela que não teve esta experiência?

O fenômeno da adaptação é algo complexo e exige de qualquer ser humano tempo e é melhor que aja um espaço que possibilite reflexão e reconhecimento das mudanças.

As mudanças na adoção são bastantes significativas tanto para um bebê, uma criança pequena que não passou por um abrigo, como para uma criança grande que viveu por alguns anos nele.

Claro que quanto mais cedo uma criança for adotada melhor, por ter vivido menos tempo de perto o sentimento de desamparo e abandono, mas o que vai de fato diferenciar este processo não é a idade, é como cada criança vivencia seu próprio processo, porque a dor do abandono existe em todas.

Não podemos esquecer que no processo de adoção não existe somente o sentido de ganhar uma família, existe também o sentimento de perder uma outra, a de origem. O momento da adoção deixa claro o desligamento com aqueles que um dia foram vistos e sentidos como pais, como parentes, mesmo os que não tenham sido bons, e com as figuras do abrigo que, de qualquer modo, existia uma relação de apego e afeto da criança. É preciso entender que a criança passa por uma espécie de luto, que pode ser vivida mais fortemente no momento da adoção ou mais tarde, quando ocorre o entendimento mais cognitivo da situação de perda e rejeição.

O pai da teoria do apego, John Bowlby, descreve as fases de luto, que são entorpecimento e negação, anseio e protestos, desorganização e desespero, recuperação e restituição. Nessas fases toda a ansiedade também podem ser manisfestadas através de sonhos e agitação noturna, muito comum também em bebês. Após esse período, a criança passa a entender melhor as mudanças, a aceitar as perdas e a estar mais atentas aos ganhos.

Nesse aspecto também entram variáveis, como seu temperamento, seu modo de sentir e lidar com seu histórico, suas memórias, “fantasmas” e medos, a base que os novos pais proporcionam a esta criança, a sensação de segurança que desenvolve de acordo com os estímulos e respostas desses novos pais, o senso de otimismo e resiliência que ela tem, a possibilidade de se expressar livremente neste novo espaço que deve ser de acolhimento pleno de suas necessidades emocionais e afetivas. Todos esses aspectos contam mais que a idade e a vida vivida num abrigo.

Quem adota um bebê, por exemplo, não saberá exatamente como ele viverá mais tarde estas memórias, isso também ocorre com os filhos biológicos, que quando mais velhos podem reagir de modo negativo a um evento amargo que viveu em seus primeiros anos de vida.

O entendimento destes fenômenos é bem subjetivo, mas aguçar o olhar nos ajuda a desenvolver uma análise crítica e proporcionar uma vida sã aos filhos, mostrando a eles um espaço seguro para se viver, com amor, segurança e limites.

Cintia Liana Reis de Silva é psicóloga é psicoterapeuta, especialista em psicologia conjugal e familiar. Ela vive e trabalha na Itália.