"Uma criança é como o cristal e como a cera. Qualquer choque, por mais brando, a abala e comove, e a faz vibrar de molécula em molécula, de átomo em átomo; e qualquer impressão, boa ou má, nela se grava de modo profundo e indelével." (Olavo Bilac)

"Un bambino è come il cristallo e come la cera. Qualsiasi shock, per quanto morbido sia
lo scuote e lo smuove, vibra di molecola in molecola, di atomo in atomo, e qualsiasi impressione,
buona o cattiva, si registra in lui in modo profondo e indelebile." (Olavo Bilac, giornalista e poeta brasiliano)

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Os direitos de Victória

Victoria, Bia e Esther. Fina Estampa.

Aproveitando novamente, falo de direitos da criança. Mais uma confusão promovida pela novela "Fina Estampa", quando coloca em discussão o direito de duas pessoas adultas na frente daquele que é mais importante no processo, a criança.

A justiça prevê acima de tudo que sejam respeitados os direitos da criança, para isso levanta a situação em seus aspectos psicológicos, sociais, de manutenção das necessidades básicas do menor, entre outros.

A criança foi gerada e criada até certa idade por uma pessoa, isso quer dizer que existe relação de apego. A mãe que gerou e cuidou quer ficar com a filha e tem totais condições de assistí-la e dar-lhe uma vida digna, sendo também uma pessoa equilibrada. Tudo isso deve ser analisado pelos tecnicos da vara da infância ou de família na hora de um possível processo.

A mãe que doou o óvulo, não há vínculos concretos com a menor. Ser mãe está na experiência da maternagem. O que a impulsiona psicologicamente de início é ver na criança a continuidade do seu vínculo com o homem que amava, Victória é a personificação deste e a possibilidade de estar perto daquele ser que ela não conhece, mas acredita que por ter sua herança genética, assim como do homem que amava, é sua filha. A velha crença e fantasia na força dos vínculos consanguíneos.

A personagem Esther deu vida a menina, foi ela quem a alimentou através do cordão umbilical, sentiu seus movimentos dentro da barriga, a desejou, sentiu a dor do parto, "deu a luz" e cuidou dela por todos aqueles meses. Ou seja, as duas têm uma história concreta e a vivência de um sentimento recíproco de pertencimento.

De todo modo, a Justiça defende os direitos daquele ser indefeso, com o olhar da ciência, sobretudo da psicologia. Retirá-la da mãe que cuidou e deu toda a subsistência seria crueldade. Já é provado o tamanho do sofrimento e dos prejuísos emocionais que sente uma criança ao ser afastada daquele que sente amor.

Enfim, não teria a necessidade em se discutir tanto na novela, promovendo e instaurando dúvidas no cotidiano das pessoas, com diálogos e reafirmação medíocres e errôneas sobre maternidade. Colocando a herança genética, que traz um simples óvulo, como algo tão grandioso.

Vitória fica com Esther, para que não sofra com o corte do vínculo saudável materno e com quem já desenvolveu plena relação de apego.

Por Cintia Liana


domingo, 26 de fevereiro de 2012

A experiência da maternidade não se dá só no ventre

Mandy Lynne

A adoção dá a mulher a experiência da maternidade, não é algo dado só pela experiência da gestação no ventre como disse a personagem de Esther ontem na novela Fina Estampa.

A gestação pode ser uma experiência ímpar, mas não é a única forma de ser mãe e nem será algo decivivo para que a mulher sinta amor pela criança que gera.

A experiência da maternidade se dá pelo desenvolvimento do amor no cotidiano, é um processo subjetivo, único, de cuidar, proteger e desejar e o filho adotivo também é desejado e sentido como filho mesmo antes de acontecer o encontro. Esse não é só um fenômeno biológico, é antes de tudo um fenômeno psicológico.

O amor que gesta o filho se passa pelo coração em sintonia com o cérebro, com as células do corpo, é um dialética com a alma, não é algo somente oferecido pelo ventre.

Uma mãe adotiva não é menos mãe que uma mulher que gerou seu filho. A única via para ser mãe é adotar seu filho, seja ele vindo do seu corpo ou de outro.

Não há nada mais importante que o desejo e o amor. Herança genérica, memórias, nada é mais forte que o vínculo entre aqueles que se amam.

Por Cintia Liana

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Olhando as necessidades da criança

Teodora e Quinzinho

Por Cintia Liana Reis de Silva

Muito perigoso o modo como uma novela forma a opinião de um povo. Quem não tem consciência disso cai em um erro irreversível.

Já que falamos tanto em como a novela "Fina Estampa" está tratando o tema adoção de maneira errada e preconceiutosa e confundindo doença mental com crueldade e psicopatia, resolvi aproveitar o ensejo e falar do modo como tratam a figura materna do pequeno Quinzinho.

Mesmo quem não assiste novelas não tem como, em algum momento, não se deparar com alguma cena chocante. Em nenhum momento eu vi a família do pai do menino olhar para ele como um ser humano que merece ser visto com respeito e observar como a presença da mãe o deixa feliz.

O autor surpreende mais quando constrói uma personagem pseudo perfeita e ao mesmo tempo a faz chamar a ex-nora de "piriguete" e de outros tantos piores nomes pejorativos na frente do neto e dizer que a opinião dela não vale nada. De querer pagar para que ela fique longe dele, sem antes disso pensar em como essa ausência o faria mal.

Se alguém tivesse a consciência do quão devastador é ser abandonado era mais fácil pagar para ela ficar. Porque analisando bem, ela trata bem o menino e é uma mãe amorosa, apesar de ter seus tantos defeitos. O contato com a criança é o momento onde ela deixa sua sombra de lado e é somente luz para ele.

Ela é xingada na frente do menor, ridicularizada, agredida, rejeitada e o tal Quinzé a olha com repulsivo e forte sentimento de ódio e depois dizem que isso é amor. Tudo isso como um espetáculo de horrores para o pequeno que nunca esquecerá estas cenas e bem no momento em que está absorvendo conceitos para toda a vida, assim como os conceitos de mãe e mulher (podemos aproveitar e pensar também no pequeno ator, não só no personagem). Do mesmo modo falam se sexo na frente dele. Tudo bem que dificulta o fato do pequeno não atuar bem, então não passa nenhum sentimento. O problema é que o povo vê isso na novela e entende como uma permissão para fazer igual. Porque mesmo sabendo que é errado, se isso ocorre numa novela da Globo, em horário nobre, e por uma família que ficou milionária, se torna no mínimo permitido e perdoado os olhos do inconsciente social.

Não se fala em terapia, em auto conhecimento, em diálogo franco, só se vê reações raivosas. Claro que nisso também se inclui a personagem Teodora, que é imatura e interesseira.

A protagonista flexibiliza para a própria "inimiga" a vilã psicopata, mas não para a ex-nora. Talvez porque esta primeira não queira roubar o seu tão precioso dinheiro? Enfim, críticas ao roteiro, porque tudo ali é falso, são personagens, invenções de um autor que é humano e não deve ter nenhum conhecimento de psicologia.
Voltando para a responsabilidade de educar um povo e até fortalecer uma cultura, é construir dois personagens, como Quinzé e Teodora, que se agridem fisicamente, em nada se admiram, se xingam dos nomes mais pesados e preconceituosos, e chamar isso de amor. Eles se desejam, sentem uma atração neurótica um pelo outro, atração física, se identificam na raiva, mas chamar isso de amor é até ofensa. As pessoas precisam questionar mais e estudar conceitos subjetivos, história, filosofia, psicologia. Digo e reafirmo, isso não é e nem nunca será amor.

É, Aguinaldo Silva, isso tudo é de fato uma agressão à inteligência alheia. Talvez seja por isso que hoje em dia uma das coisas mais bregas é dizer que assiste novela e a maioria das pessoas que assiste tem vergonha de admitir. Ela está impregnada do que vulgarmente chamamos de burrice.

Por Cintia Liana

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Uma jornada de compromissos

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*Por Cintia Liana Reis de Silva

Criança que cresce escutando música muita alta, que sente a luz acender em seu rosto enquanto dorme, que cresce ouvindo gritos, agressões verbais e presenciando brigas acaba achando isso muito natural. Sim, os detalhes também contam.

Criança que cresce vendo bons exemplos, sendo escultada, com seus medos validados, que é motivada a falar o que sente e que aprende a reconhecer suas sensações terá muito mais chances de ser um adulto emocionalmente sadio e maduro.


Interessante é entender que o filho repete mais o que os seus pais fazem quando acham que ninguém está observando. Criança "pega no ar" o que não é dito, ela entende olhares, se incomoda com segredos, se ressente com rejeição velada.

Lembre-se, teu filho está aprendendo a ser hoje a pessoa de amanhã, se você não romper com os padrões familiares negativos que permeiam a sua família há séculos, se não tiver sensibilidade, desapego, coragem e disponibilidade interna para enxergá-los, muito provavelmente, durante mais outros séculos seus descendentes venham a sofrer dos mesmos males.

Você não é responsável pelos que já passaram, mas se torna responsável pelos que estão vindo e pelo que você é.
Ter filhos é uma jornada de compromissos, reconhecimentos e amadurecimento.

*Cintia Liana é psicóloga e psicoterapeuta, especialista em psicologia conjugal e familiar.

sábado, 18 de fevereiro de 2012

Atitude adotiva: pai e mãe de verdade

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Publicado em 15.02.2012, à 16h16


Por Guilherme Lima Moura

É comum ouvirmos por aí expressões do tipo “Não é seu pai (ou mãe) verdadeiro”, numa referência à filiação adotiva. Estimulados por afirmativas como esta, colocamo-nos em atitude reflexiva sobre a verdade da paternidade e da maternidade. Onde estará tal verdade? Em que consistirá uma mãe ou um pai de mentira? Tais questionamentos nos fizeram recordar um episódio que vivemos.

Há algum tempo eu estava com um dos meus filhos caminhando na praia quando encontramos com um de seus amiguinhos. Na ocasião, ambos estavam com seis anos. Após o início de uma breve conversa, enquanto brincávamos na areia, o menino saiu-se com esta: “Meu pai nunca me visita!”. Ante o inesperado da revelação, pude notar na sua espontânea expressão de tristeza o efeito devastador da inexistência paterna na vida de uma criança.

Não que ele − o dito “pai verdadeiro” − seja desconhecido, não esteja mais “entre nós” ou resida em lugar incerto e não sabido. Nada disso. Ele existe, sim. Tal existência, porém, é apenas a do indivíduo. No máximo, a do responsável financeiro. A palavra “pai”, no caso em questão (como em tantos outros), é usada em substituição a “genitor”, ou seja, o provedor do material genético necessário à gestação de outro indivíduo.

Pai de verdade?

Como esclarece o psicólogo e querido amigo da adoção Luiz Schettini, “a filiação é uma experiência ética, não genética”. Acostumamo-nos a chamar de pai ou mãe aqueles que, embora tenham nos premiado com a existência física, não puderam nos oferecer a coexistência afetiva. São indivíduos que geraram outros indivíduos. Permitiram a vivência, mas não proporcionaram a convivência. Aquela é o ponto de partida biológico, a produção de um potencial humano que só chega a realizar-se nesta, o espaço relacional e afetivo em que se desenvolve.

Na vida do coleguinha do meu filho, existe um genitor, mas não existe um pai. Embora às vezes confundamos um com o outro, as crianças vivem dramaticamente essa diferença. Naquele momento, ele se sentiu provocado pela presença do meu filho que ali se encontrava agarrado com o pai, sem entender porque ele próprio também não podia ter ao seu lado a presença paterna tão desejada.

“Onde estará meu pai?”, indagava-se intimamente mais uma vez o menino infeliz. “Mas por que não me ama?! O que eu fiz de errado?!”, concluía novamente cheio de tristeza e, certamente, de uma culpa que não lhe pertence.

Alheio aos vínculos biológicos que inexistem entre meu filho e eu, enxergou com clareza que entre nós dois a filiação era viva e verdadeira porque estabelecida em profundo afeto. Isso o que lhe importava. Isso o que lhe faltava.

Pai de verdade!

O garoto, cujo relato nunca esquecerei, é mais uma criança que vive o pior tipo de orfandade: a que surge na expectativa frustrada de um potencial de pai que, embora exista sempre, não chega a se realizar nunca. Que surge no contrário do amor: o abandono afetivo.

Estará a verdade da paternidade e da maternidade, então, no laço biológico? Ela ocorre simplesmente (e necessariamente) no encontro de amorosidade entre aqueles que decidem tornarem-se pais e filhos uns dos outros, havendo ou não o vínculo genético. Ela ocorre na ADOÇÃO.

Mentira? Verdade! Qualquer criança sabe disso.



Postado Por Cintia Liana

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Adoção internacional garante família a crianças brasileiras

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     Adoção internacional tem garantido o direito à convivência familiar a crianças brasileiras acima de 3 anos de idade e com irmãos
    
    Fonte | TJDFT - Quinta Feira, 16 de Fevereiro de 2012

    Diante da realidade do cadastro de adoção no Distrito Federal, em que 98% dos habilitados querem acolher apenas uma criança de 0 a 3 anos, a adoção internacional tem garantido o direito à convivência familiar a crianças brasileiras acima dessa faixa etária e com irmãos.

Foi por meio dessa possibilidade legal que três irmãos foram adotados recentemente por dois casais italianos, após trabalho realizado pela Comissão Distrital Judiciária de Adoção (CDJA), responsável pelas adoções internacionais no DF.


     Os irmãos - uma menina de 11 anos e dois meninos, um de 5 e um de 9 anos - ficaram na instituição de acolhimento por quase 4 anos. Uma das famílias da Itália ficará com a criança de 9 anos; a outra, com a menina e o irmão mais novo.

Segundo a secretária executiva da CDJA, Thaís Botelho Corrêa, a adoção por dois casais só foi possível por causa do compromisso obrigatório das famílias em manter o vínculo entre os irmãos. "A prerrogativa para a adoção é não separar os irmãos", explica.

Os adotantes assinaram termo de compromisso para garantir o contato frequente entre os irmãos. O cumprimento do acordo será acompanhado pela Senza Frontiere Onlus, organismo internacional da Itália credenciado no Brasil para atuar nas adoções.

Nos primeiros dois meses no novo país, as crianças vão se encontrar todo fim de semana. De acordo com a CDJA, a orientação é para não prejudicar o convívio entre os irmãos. "As famílias são sensibilizadas para isso; é algo maior que a própria lei", afirma Thaís Botelho.

O processo de adoção exige muito empenho dos envolvidos para se vencer as dificuldades. Quando se trata de adoção internacional, ainda há a questão da diferença de idioma e de cultura. As crianças e as famílias têm de ser bem preparadas para as mudanças.

A secretária executiva da CDJA conta que, nessa última adoção, o mais difícil foi a menina aceitar a desvinculação de sua família natural. Ela exercia o papel de mãe dos irmãos e tinha forte vínculo com os pais. "Agora, poderá voltar a ser criança e filha", ressalta Thaís.

Thaís Botelho diz que o nível de desesperança dos meninos e meninas que vivem nas instituições é grande. Por isso, concretizar uma adoção é uma felicidade. "A gente vive a alegria das crianças", compartilha Thaís, ao dizer que valeu a pena todo o trabalho.

Números

Em 2010, foram efetivadas duas adoções internacionais de crianças no Distrito Federal. Em 2011, foram iniciados sete casos. Em 2012, já foi concretizada a adoção de três crianças por casais estrangeiros.

Cadastro



   Atualmente no Distrito Federal, há 64 crianças e 83 adolescentes cadastrados para adoção - sendo que 59% fazem parte de grupos de irmãos - e 407 famílias habilitadas.
    

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     Bons resultados de uma trabalho feito com amor!

    
       Postado Por Cintia Liana

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Carta de Bárbara Toledo à Aguinaldo Silva

Novela Fina Estampa. Cristiane Tornoli.
CARTA ABERTA
À Rede Globo de Televisão
Ao Escritor Aguinaldo Silva
Ref.: Novela Fina Estampa

Prezados Senhores:

Meu nome é Bárbara Toledo, sou fundadora do Grupo de Apoio à Adoção QUINTAL DA CASA DE ANA (
www.quintaldeana.org.br), que trabalha em prol da garantia do direito à convivência familiar de crianças e adolescentes que vivem em instituições de abrigo, "varridos para debaixo do tapete da sociedade", apoiando as famí­lias adotivas, orientando os pretendentes à adoção, justamente para que essa decisão em suas vidas seja muito bem sucedida.

Presido a ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS GRUPOS DE APOIO À ADOÇÃO (ANGAAD) –
www.angaad.org.br, entidade sem fins lucrativos, que congrega há 18 anos, mais de 100 grupos de apoio à adoção com representatividade em todas as cinco regiões brasileiras e luta pela garantia do direito à convivência familiar de toda criança e adolescente institucionalizado. E, atualmente, temos cerca de 40.000 crianças institucionalizadas à espera de uma família!

De fato, nos últimos anos, o Movimento Nacional de Apoio à Adoção, responsável na luta pela promulgação da nova Lei da Adoção, tem contado e muito com a colaboração da imprensa falada e escrita na divulgação de uma NOVA CULTURA DA ADOÇÃO!

E, o que é essa NOVA CULTURA DA ADOÇÃO?

A filiação adotiva deve ser considerada de igual valor que a biológica (até mesmo porque também os filhos biológicos devem ser adotados, cuidados e amados para serem verdadeiramente filhos); a adoção não deve ser um ato de caridade, mas sim um ato de amor, uma "via de mão dupla" onde pais e filhos são ganhadores; a verdade da origem do filho adotivo deve ser respeitada e conhecida (desde que possí­vel) e a adoção deixe de ser um segredo de família, algo que não se possa revelar (ora, somente as coisas feias ou inadequadas procuramos esconder), e especialmente, através da qual possamos corrigir a inércia do Poder Público que não tratou essas crianças, hoje adolescentes, como sujeito do direito de ter uma famí­lia, e por isso lutamos todos os grupos pelas adoções necessárias, isto é, por adoções tardias, inter raciais, de grupos de irmãos, de deficientes e com ví­rus HIV.

Com esse trabalho, temos conseguido alterar o perfil do habilitado à adoção que, tradicionalmente, estava direcionado para bebês saudáveis, brancos e, preferencialmente, meninas. Atualmente, muitas crianças e adolescentes, antes fadados a viver eternamente em entidades de acolhimento institucional (antigo abrigo) por estarem fora do perfil comumente desejado, estão sendo adotadas e passaram a compor famílias que convivem felizes e em harmonia com as suas escolhas.

No entanto, a ANGAAD tem sido o receptivo de todas as angústias que famílias, pretendentes, profissionais e simpatizantes da adoção tem manifestado com relação às cenas da novela "Fina Estampa" que, em pleno horário nobre da TV, desde 28 de janeiro último, vem tratando do grande “segredo†da personagem Teresa Cristina.

Seu grande segredo, revelado com estardalhaço e de forma fantasiosa, refere-se ao fato de ser filha biológica de uma empregada que morreu louca em um sanatório psiquiatrico e ter sido adotada legalmente por uma família milionária.

A revelação de tal segredo parece justificar a personalidade de Tereza Cristina demonstrada ao longo da novela: uma pessoa psicótica, maquiavélica, má, péssima mãe, mesquinha, vingativa, e principalmente, uma homicida reincidente, que agiu para garantir a não revelação do terrível segredo !

A partir da revelação do segredo o descompasso aumenta ainda mais. Criam-se questionamentos sobre o real sobrenome de Tereza Cristina, se teria ou não direito à herança dos pais (adotantes) falecidos, se seu irmão (Paulo) deveria ou não fazer exame de DNA para “desmascará-laâ€.

Essas são apenas algumas das situações que fazem transbordar todo preconceito com relação a adoção como se fosse uma filiação de segunda classe.

Revelação e segredo – A adoção não pode ser tratada como segredo! Absurdo descobrir que a tia de Tereza Cristina, interpretada pela atriz Eva Vilma, vem chantageando a sobrinha em virtude de tal segredo. A origem biológica do filho adotivo é um componente de sua biografia, mas não será jamais o referencial maior de sua vida. O processo de criação e educação oferecidos pelos pais adotivos constituirão as suas matrizes psicológicos mais importantes.

Pessoas adotadas não são coitadinhas que foram acolhidas por um ato de piedade. São pessoas tão somente, que foram escolhidas como filhas pelo amor. A adoção é o processo de filiação fundamentado no afeto, sendo a única forma de se configurar a verdadeira paternidade e a maternidade. O fato de termos gerado crianças não nos torna pais e nem estas filhos. Todos os pais, inclusive os biológicos, precisam adotar afetivamente as suas crianças para que estas se tornem filhos.

Da origem genética – A vergonha de Tereza Cristina por ser filha de uma empregada doméstica é preconceituosa e absurda. A grande maioria das crianças e adolescentes disponibilizadas a adoção tem origem na pobreza, no abandono, na mendicância. Nenhuma dessas crianças e adolescentes deverá ter vergonha de sua origem. Tal colocação fere a dignidade da pessoa humana.

Dos questionamentos acerca do sobrenome de família – Tereza Cristina foi legalmente adotada. Seu sobrenome é da sua família adotiva, simplesmente da sua família. A inserção dessa dúvida está colocando em polvorosa inúmeras famílias formadas pela adoção que, no desespero, mesmo com toda a formação recebida, passam a povoar o imaginário com tal dúvida. A Adoção é uma ato irrevogável que rompe todos os vinculos com a família biológica!

Da herança – Inquestionável que crianças e adolescentes legalmente adotados têm assegurados todos os direitos sucessórios. Totalmente descabida tal colocação ou sua menção por outros personagens do folhetim.

Dos componentes psiquiátricos e da falta de comprovação da transmissão hereditária – Muitas pesquisas científicas tem sido feitas neste sentido, entretanto, nenhum estudo em psiquiatria é categórico ao enfatizar uma influência exclusivamente genética, considerando sempre os fatores ambientais no desencadeamento ou manutenção dos transtornos. Em relação a esquizofrenia especificamente, até o momento, os estudos são também inconclusivos ao colocá-la como genética ou hereditária, embora tenhamos certeza de que a probabilidade de filhos esquizofrênicos é maior se um dos pais for esquizofrênico e muito maior se ambos o forem. Sempre se fala em "probabilidade" ressaltando-se a influência ambiental na maioria dos estudos.

Uma enormidade de crianças e adolescentes adotados são filhos biológicos de alcoolistas, usuários das mais diversas drogas, dentre elas o crack, pacientes psiquiátricos, portadores do vírus HIV, dentre outros. Assim, a abordagem escolhida para a personagem Tereza Cristina faz um enorme desserviço à causa da adoção, afastando o adotante do real interesse do instituto da adoção que é a criança.

E como se tivessem sido reabertos baús que acreditávamos esquecidos e os fantasmas dos preconceitos passassem a rondar novamente o imaginário social...

A maioria da poupulação não tem conhecimento cabal dos procedimentos legais da Adoção, da sua irrevogabilidade, dos direitos e deveres que dele decorrem e dos aspectos emocionais e psicológicos que envolvem uma verdadeira atitude adotiva.

Entendemos a liberdade de expressão e jamais nos colocaríamos na posição da malfadada censura, contudo, os últimos capítulos só têm reforçado todo preconceito com relação à Adoção.

Outrossim, numa ponderação hierárquica dos princípios constitucionais , se sobrepõe à liberdade de expressão a dignidade da pessoa humana que, por força do disposto no Art. 227 parágrafo 6º da Constituição Federal, não pode sofrer qualquer designação discriminatória relativa a sua filiação

Assim, por todas as razões já colocadas e prejuízos e constrangimentos para inúmeros pais e filhos adotivos brasileiros, vimos solicitar não somente uma reinterpretação da questão envolvendo o tema da adoção da personagem Tereza Cristina, mas principalmente o esclarecimento dentro do ambito da novela do real siguinificado da CULTURA DA ADOÇÃO.

Desde já agradecemos pela atenção dispensada e aguardamos ansiosos pelas providencias a serem adotadas para reparar a dor causada às famílias adotivas e o prejuízo a toda luta de tentar encontrar uma família para as 40.000 crianças abrigadas.

Atenciosamente,

Barbara Toledo
Presidente da Associação Nacional dos Grupos de Apoio à Adoção ANGAAD
http://www.quintaldeana.org.br/
Postado Por Cintia Liana

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

O imperfeito amor materno

Cintia Liana durante entrevista

Por Cintia Liana Reis de Silva

Definitivamente o amor materno não é perfeito e nem tem que ser. Elizabeth Banditer, pesquisadora, conhecida por escrever sobre o mito do amor materno, diz que o amor é inerente a condição de mãe, que ele não é determinante. O amor de mãe pode variar de acordo com a consciência de cada uma, de acordo com as ambições, frustrações, cultura, ele pode ser fraco ou forte, existir ou não existir, aparecer e desaparecer, pode ser bom ou ruim, ter preferência por um filho ou não.

Existem mães de todos os jeitos, mãe não é tudo igual. Existe mãe que sufoca, mãe egoísta, descuidada, superprotetora, patologicamente medrosa, controladora, chantagista, competitiva, que faz da vida do filho um verdadeiro inferno, fazendo ele depender dela porque tem medo de perder a sua companhia, por exemplo. Existem também as que sabem amar, as que se questionam. As mãe são humanas.

Nos escondemos por trás dessas frases para não questionarmos a nossa própria educação, os nossos próprios valores. Se diz “é coisa de mãe”, como um modo de desculpar a má educação que se dá, sem ter nenhuma responsabilidade com as consequências. É como se o outro não fosse capaz de entender esse amor tão mitizado, desconsiderando o olhar assustado que quem vê a cena absurda, de quem ouve a mãe falar aquela bobagem. Ser mãe não é deliciar o próprio ego narcizista e infantil, para fortalecer e perdurar convicções, mesmo que para isso tenha que fazer o filho sofrer. Ser mãe é educar para a vida, para o convívio com outras pessoas, cada ser humano é peça fundamental na sociedade, a soma deles é a paz ou o caos.

Uma mulher consciente busca educar o filho para ser um adulto responsável e efetuoso com sua vida e com os outros. É tarefa difícil, precisa de jogo de cintura, entender o comportamento psicológico, temperamento, personalidade, ir lapidando com cuidado e reflexão esta nova alma. Precisa de tempo e amor saudável. Não dá para colocar filho no mundo para alimentar o próprio ego sem pensar nas consequências, para somente se realizar, para provar que é capaz de parir. Ser mãe, assim como ser pai, é tarefa de grande responsabilidade, é  preciso senso de justiça apurado. É preciso ir muitas vezes contra as nossas próprias convicções.

Geralmente é mais fácil achar que sempre estamos certos, mudar de postura dá muito trabalho, exige energia, desapego. Acreditar que nossos pais não são perfeitos magoa. Preferimos acreditar que eles são perfeitos e quem sabe assim também o seremos?

Existem mães que sabem educar, já outras não. Mães que olham seus filhos como pequenos coitadinhos, outras que mostram a eles que podem ser fortes e vencedores, sem passar por cima de niguém. Mães que trabalham as suas frustrações para não colocá-las em cima do filho. Existem pessoas lúcidas e outras não, como também existem mães lúcidas e outras não. O fato de ter um filho não precisa torna ninguém estúpida, embreagada de amor materno e isso nãe é desculpa para fazer besteiras, usar os filhos como cobaias para tentar acertar. Muito menos precisam ser super heroína, portadora do amor mais poderoso do universo.

Existem formas diferentes de ser mãe e ela não tem que ser perfeita. Estudos mostram que mulheres conseguem mais facilmente ser boas mães se também tiveram um solo fértil e equilibrado em sua infância, explica John Bowlby, o pai da teoria do apego. É mais fácil se dar aquilo que se teve, dar aquilo que se conhece e experimentou. As que sofreram normalmente reproduzem o modelo que tiveram, aquilo que conhecem, a não ser que façam um trabalho de autoconhecimento para não cair no erro de repetir os padrões intergeracionais, e isso é possível, a tomada de consciência é totalmente possível.

Mães erram sim. Há aquelas que ainda colocam fraldas, dão bico e mamadeira a filhos de 5 anos, sufocando o seu crescimento com a busca incessante de fazê-lo estagnar naquela fase para não perder o seu bebê tão amado. Pai e mãe que colocam o filho para dormir entre eles na cama matrimonial; casais que fazem amor com o filho dormindo ao lado, sem querer perceber que o filho vê, acorda e sente a energia do sexo. Erram sim.

Pais superprotetores que passam os seus medos ou querem que seus filhos se tornem superdependentes e que acreditam que eles devem ser os super heróis dos filhos, quando esses pais nem mesmo conseguiram enfrentar e nem dar conta de seus próprios fantasmas.

Pais erram e criam crianças egoístas, agressivas, que não conseguem enxergar o outro porque dentro de suas casas são tratados como o centro do mundo. Ou o oposto, crianças depressivas, inseguras, sofridas, que não têm a atenção e afeto que precisam.

Pai e mãe consciente é aquele que se permite ter dúvidas e se pergunta: “estamos sendo justos?”, “estamos sentindo pena do nosso filhos?”, “como os meus sentimentos de culpa e preconceitos inflenciam na educação dele?”, “estou educando bem?”, “no que posso melhorar independente do que acredito ou quero acreditar?”, “como minhas neuroses e medos podem influenciar na vida emocional de meu filho?”, “de que modo isso pode influenciar no seu futuro, no seu comportamento?”. Esses buscam estar conscientes, se questionam, que educam sem estar apegados a suas crenças antigas e a própria educação que tiveram de seus pais.

Tem também aqueles pais que perguntam a um amigo psicólogo o que acha da educação que dão. Quando o amigo psicólogo chega a falar, depois de muita insistência por parte dos pais, eles não querem ouvir, mudam de assunto, ou começam a se desculpar, justificar. Quem quer de fato melhorar não pergunta opinião de um amigo psicólogo, vai direto a um terapeuta de família,  paga pela sessão, ouve tudo o que não quer ouvir. Muda. Em mais de 12 anos de experiência clínica só o segundo ouve e muda. O que pede opinião geralmente não passa de um curioso querendo ouvir elogios tecnicos.

É mais fácil não se questionar, mas pais criam filhos como Suzane Richthofen e depois da crueldade que fazem, a mídia, em nenhum momento, propõe uma discussão sobre como ela deve ter sido educada. Nem conseguiram jogar a culpa na adoção, como em geral o fazem, porque ela era filha biológica. Não se trata de culpabilizar os pais, nem ninguém, mas de dar algumas responsabilidades e de entender como podemos criar melhor as futuras gerações, de questionar o nosso egoísmo, o nosso apego em relação a algumas crenças e farsas sociais.

Poucos estudiosos e escritores questionam o mito do amor materno, pouco se fala sobre ele. Acredito que, como motivo inconsciente, não queiramos tocar de algum modo no arquétipo de grande mãe, na imagem da Virgem Maria, da Nossa Senhora, mas não podemos nos comparar a ela, mesmo com o desejo de ser uma boa mãe, com toda a bondade, amor e pureza que ela representa. Mais nobre é encarar a nossa humanidade, tentando ser cada vez mais justa, para ter filhos psicologicamante mais saudáveis.

Há quem diga que a dor de parir influencia no amor que a mãe alimentará por seu filho, mas ele não é determinante, se fosse assim não veríamos bebês de mulheres que acabaram de parir jogados no lixo. Não veríamos mães adotivas tão apaixonada e  educando tão bem seus filhos que não pariram e nem, tampouco, veríamos pais tão maravilhosos, que dão todo o amor que uma criança precisa para estar no mundo experimentando segurança emocional plena. Ser pai e mãe é um processo de descobertas de si mesmo, é tentar ser melhor para educar melhor, mas exige preparo. Não é certo ter um filho para aprender com ele a terefa de ser gente. Uma criança não merece tamanha crueldade e responsabilidade.

Nós humanos adoramos frases feitas, ideais perfeitos, fórmulas do amor e verdades absolutas para nos proteger de nossas falhas e fragilidades. Mas ainda acredito que tantar aguçar um olhar analítico para alcançar outras verdades, mesmo que elas nos desagradem, mesmo que isso doa, é o caminho mais rico e que nos leva a crescer e melhorar a nossa própria realidade, fazendo outros serem humanos que dependem de nós mais felizes.

Cintia Liana Reis de Silva, é psicóloga, psicoterapeuta, especialista em casal e família. Já acompanhou e teve contato com mais de 2.000 casos.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

O neto da empregada

Julie de Waroqui

Por Thaís Machado em 07/02/2012 na edição 680

Não sou noveleira. Não sou noveleira. Não sou noveleira.

Apesar de amar acompanhar de tudo um pouco na TV, uma das coisas que mais me irritam (especialmente nas produções brasileiras) são as novelas. Sempre cheias de clichês, atores medianos, merchandisings baratos e trilhas pagas pelas gravadoras, elas estão muito além do que pode ser considerado ruim. Mesmo assim, é difícil passar ileso pelas fofocas que cercam os encerramentos desses “folhetins”.
Um exemplo atual é o “segredo de Tereza Cristina”, a personagem vivida por Cristiane Torloni na atração global Fina Estampa. Há enquetes nos sites, concursos nas emissoras de rádio, comentários nos corredores das empresas. O que será que uma das personagens principais da trama esconde? Como deixei claro no início deste post, não vi sequer ¼ da novela, mas ontem (2/02), diante da divulgação do capítulo em que o mistério seria revelado, me propus a assistir. Foi quando deparei com uma das cenas mais estúpidas dos últimos anos: o garoto, filho da tal vilã, aos prantos, porque acabara de descobrir que era “neto da empregada”.

Mais prêmios, mais longevidade...

Sim, é isso mesmo que você leu. O menino chorava soluçando porque a mãe lhe contou sua origem (filha de uma doméstica, havia sido adotada ainda pequena pela família rica e quatrocentona). E a partir dessa confissão, todos os outros diálogos nos vários núcleos de personagens foram pautados pelo “escândalo”. Um momento! Desde quando ser adotado é vergonhoso? Quem decidiu que ser “rico” é ser “melhor”? Entendi que esse é o princípio de um mistério que ainda vai esclarecer muitos pontos confusos na trajetória daquela mulher e que o tal segredo não é de fato o “xis” da questão; mas dedicar quase uma hora em horário nobre para discutir que a fulana não tem “direito” de ser a vilã que é porque não tem em seus genes um sobrenome conhecido?!
Depois querem me convencer que esse tipo de programa discute assuntos importantes para a democracia como o preconceito, o aborto, a violência doméstica etc. As novelas são (e sempre foram) a principal influência na cultura brasileira. Elas ditam moda, elegem as “personalidades do ano”, destacam hábitos arraigados da população e uma série de outras funções que deveriam ser denotadas a qualquer outro instrumento de comunicação, menos às historinhas contadas por autores cansados e genialmente equivocados.
E a pior parte disso tudo é que, a cada dia, elas ganham mais prêmios, mais força e mais longevidade...

[Thaís Machado é jornalista, São José do Rio Preto, SP]



Postado por Cintia Liana

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Ficção que reforça preconceitos

Google Imagens
Um des-serviço à população brasileira (na qual muita gente se informa só através das pobres novelas), sem o mínimo de responsabilidade é construir um personagem perverso, imaturo, cruel, egoísta ao extremo, psicopático e colocar a responsabilidade no fato de ter sido adotada, como se isso justificasse o desejo de vingança e de matar pessoas e, ainda por cima, para proteger o segredo, como se fosse horrível ter sido adotada. E ainda tratar a doença mental como etiologicamente puramente genética. Absurdo.
Cintia Liana
Abaixo seguem as palavras do meu amigo Paulo Wanzeller.
Fina Estampa... É isso mesmo? Ficção para quê?

04.02.1012


Fiquei procurando uma razão que justificasse não apenas a busca insensata do sucesso a enredar o texto principal da novela Fina Estampa, exibida no horário nobre da Rede Globo, pelos caminhos da insanidade, crime, violência, mal caráter, futilidade ao extremo, desajuste sexual, pedantismo, usura, dente outros; todas estas funestas características reunidas em um só personagem, a Teresa Cristina, protagonizada pela atriz Cristiane Torloni, o porquê de tal personagem ostentar em sua história um passado de abandono e adoção e qual a relação das características pessoais do personagem com a adoção.

Na internet li a biografia do autor Aguinaldo Silva. Li a sinopse da novela, li a sinopse das outras novelas do autor, li textos, assisti vídeos... Não existe uma aparente e explícita justificativa vinda ou explicada do autor. Do meu ponto de vista trata-se de pobreza de imaginação e de criatividade. É a minha opinião e não altera um centavo da audiência da novela que, por sinal, não assisto. Não vejo atração nas novelas atuais, prá mim são simples repetição de um roteiro prá lá de batido.


Lembrei do episódio do chamado “Massacre de Realengo” (http://pt.wikipedia.org/wiki/Massacre_de_Realengo), e o quanto a adoção foi exposta como justificativa para o crime, inclusive ressaltada a doença mental da mãe biológica do assassino como motivo pra uma personalidade doentia e criminosa.

Lembrei de outros crimes noticiados e que o assunto de frente era a violência ou o assassinato e o pano de fundo a adoção.


• POR CAUSA DE DÍZIMO, FILHA ADOTIVA MATA OS PAIS NO MARANHÃO - http://www.guiame.com.br/ntc/por-causa-de-dizimo-filha-adotiva-mata-os-pais-no-maranhao.html



Queremos proteger nossos filhos, queremos que a sociedade os veja como filhos amados e criados para serem pessoas “de bem”, pessoas especiais, vencedoras, vitoriosas apesar da história de vida de todos que passam pelo abandono; essas notícias da imprensa sensacionalista e o enredo da novela Fina Estampa nos atinge, sobre isso não há o que debater.

A vida... as experiências de cada um..., uns abençoados “bem nascidos” com trajetórias de uma vida cercada de carinho, amor, luxo e riquezas, outros com experiências de sofrimento desde a fase intra uterina até a fase adulta, convivem diariamente com o sofrimento, vícios, crimes e toda sorte de mazelas sociais.
E eu pergunto: comparando as duas vidas acima ... É possível afirmar que uma será de pleno sucesso e a outra de sucessiva miséria social? Sabemos que a resposta é um complexo e sonoro NÃO!


Na ficção é a mesma coisa, não é o autor que tem que modificar o enredo para não contar, logicamente a troco da audiência, uma história de adoção e tragédia, ser humano é assim mesmo, complexo, surpreendente... E infelizmente o que vende é a trama criminosa, o sangue social, e diga-se vende porque nós compramos. E o que está vendendo hoje é o preconceito, o estereótipo e o ridículo.



Modificar o enredo da novela não vai extinguir a sanha pela audiência e nem impedir que a imprensa amanhã ressalte a adoção como um fator de negatividade na vida de quem cometa crimes ou outros fatos de semelhante natureza. Nem mesmo modificar nossa postura e nossa seletividade querendo mais cultura e entretenimento sadio.


Não podemos somente nos revoltar, porque a “ficção imita a vida”, quanto mais cruel, mais dá audiência, rende milhões e a Globo não vai mudar isso porque nós pais adotivos nos sentimos ultrajados com notícias e evidências negativas sobre a adoção. Para nós a adoção é única e exclusivamente uma nomenclatura, é como se explica juridicamente o vínculo que formamos com nossos filhos. A convivência, o amor que temos por eles, nosso carinho e nosso desvelo é muito grande para pensar em fracasso.


Protestemos sim, é necessário mostrar a nossa indignação quando algo nos atinge, mas, principalmente continuemos nossa luta, divulguemos êxitos, disseminemos nossos planos de felicidade. Hoje a adoção não é mais vista como simples caridade ou como uma filiação ilegítima e não há como retroceder quando a motivação para formar uma família é o amor. 
Paulo Wanzeller / Fevereiro de 2012

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Iguais nas diferenças

A história de uma adoção certamente é diferente de uma gravidez, mas a construção da relação entre pais e filhos adotivos carrega o mesmo amor, os mesmos orgulhos e as mesmas angústias de toda criança que foi muito desejada. É o que conta a jornalista Sônia Penteado, mãe de Gustavo e Eduardo.

Fotos Rodrigo Schmidt

Muita gente me pergunta como é ser mãe de filhos adotivos. É uma resposta fácil e difícil ao mesmo tempo, uma vez que não vejo diferença entre nossa forma de viver e como imagino que seja em qualquer família em que os filhos foram muito desejados e são muito amados. Temos, meu marido, Antonio Gobe, e eu, o mesmo olhar orgulhoso e abobalhado quando ouvimos suas primeiras palavras, quando gritam ao telefone: “Eu te amo!”; ou quando fazem qualquer uma daquelas pequenas coisas que parecem únicas e especiais aos olhos de um pai. Também sofremos a mesma angústia com as noites de febre, com as manhas para não ir à escola e, principalmente, com os perigos que o futuro reserva.

O Gustavo entrou em nossas vidas no dia 18 de junho de 2007. Pouco mais de três anos depois, quem chegou também foi o Eduardo. O tema, porém, estava presente desde o início de 2004, quando descobrimos que não poderíamos gerar filhos biológicos. Recém-saídos da consulta médica, me lembro de concordarmos pela adoção numa conversa muito rápida, sem muitas dúvidas e quase livre de angústias. Mal sabíamos que isso definiria o que hoje acreditamos terem sido as escolhas mais felizes de nossas vidas.

Em setembro de 2006, entregamos os documentos para entrar na fila de adoção. Cerca de 30 dias depois fomos chamados para uma série de entrevistas com assistentes sociais e psicólogos. Na primeira delas, a profissional que nos atendeu já deu o tom do que deveríamos esperar: “Não estamos aqui para encontrar um filho para vocês. Nossa função é encontrar uma família para uma criança.” A diferença, dita rapidamente, parece sutil. Mas não é. E isso foi excelente para nos dar certo choque de realidade, nos ajudar a entender o porquê de todos os procedimentos.

Tempo necessário
Hoje enxergo a “demora” no processo de outra maneira, acredito que ele exige mesmo aprofundamento e, em geral, existem poucos profissionais nos fóruns, mas, na época, isso nos levou a buscar um caminho alternativo para adotar um bebê. Afinal, a legislação brasileira – que mudou no início de 2009 – ainda permitia com mais facilidade a adoção de crianças em que os pais biológicos definem para quem gostariam de dar seus filhos, no que era chamado de adoção intuitu personae. Hoje, todas as crianças devem passar pelo Cadastro Nacional de Adoção e só se permite adoção direta em casos excepcionais. A ideia não deu certo, mas serviu para que eu entendesse melhor a realidade de algumas mães que colocam seus filhos para adoção.

Enquanto vivíamos essa montanha-russa de sentimentos, o processo corria e no final da manhã do dia 18 de junho de 2007 – por ironia ou não, exatos nove meses depois de entrarmos com a documentação –, recebemos o tão esperado telefonema para conhecermos uma criança. Desse minuto em diante os corações ficam a mil. “Qual será a história dele?”; “E sua carinha?”; “Avisamos a família e os amigos agora ou quando der certo?” As dúvidas eram muitas e sem respostas rápidas. Primeiro fomos ao Fórum conhecer o processo da criança e dizer se estávamos dispostos a conhecê-la. No dia seguinte, marcamos o encontro no abrigo, onde fomos apresentados a ele com muito cuidado – sem a presença de outras crianças, para não gerar expectativas ou mal-estar em nenhuma das partes. E, apesar da assistente social ter nos informado de que era um bebê pouco expansivo (na época tinha 7 meses), ele logo abriu um sorriso e quis brincar com meu colar colorido.

A psicóloga do Fórum, que nos deu uma ajuda imensa, sempre alertou para um certo endeusamento nos processos de adoção, em que os pais contam que no momento do encontro houve uma interação especial, quase divina. “Ser mãe ou pai é algo construído com o tempo e na adoção não é diferente. Portanto, não se apressem e nem esperem sinais”, dizia ela. Isso nos ajudou a definir que queríamos um tempo de adaptação para que tanto ele quanto nós nos sentíssemos à vontade. Foram meros três dias, mas importantes para que nós nos organizássemos melhor emocionalmente e na prática – comprar mamadeira, fralda, roupas...

A segunda vez
Embora já nos sentíssemos experientes quando partimos para o processo que nos trouxe o Eduardo, foi tudo diferente. Foi mais demorado – quase um ano a mais – e, quando o recebemos, ele, que já tinha um ano e personalidade bem diferente do Guga, exigia outro tipo de aproximação. E, acima de tudo, tínhamos agora de apresentar os irmãos. O Guga torcia para ter um irmão logo e parece que Dudu preencheu seus sonhos – como é muito espoleta e não era tão bebê, já chegou brincando e interagindo, o que ajudou muito, apesar da ciumeira inicial. Hoje, com a rotina e a dinâmica da casa quase equalizadas, os dois se entendem como irmãos que são – brincando, brigando e com um orgulho mútuo invejável – e ocupam os mesmos espaços em nosso dia a dia e nossos corações.

Aos 5 anos, Gustavo já tem um bom grau de compreensão sobre como nossa família foi constituída. Gosta de ver as fotos do dia em que chegou e nunca quis prolongar o assunto sobre “sua mãe biológica, a moça que o carregou na barriga para que ele pudesse ser filho da mamãe e do papai”. Mencionar nossa diferença de cor é mais frequente. Com pouco mais de 2 anos, quis saber por que eu era branquinha e ele era pretinho. A resposta na época foi simples e pareceu atendê-lo: “Algumas pessoas são branquinhas, outras são pretinhas, outras são mais amareladas.” Respondemos às curiosidades deles à medida que surgem.

De qualquer maneira, temos guardadas, dos dois, todas as informações que recebemos de sua vida anterior a nós. Acreditamos que é um direito e uma decisão deles ter acesso à própria história. Não nos questionamos muito se o fato de serem adotados pode gerar qualquer dificuldade maior no futuro. Conhecemos tantas histórias semelhantes, bacanas. Também nos contam outras cheias de obstáculos.  Assim como conhecemos filhos biológicos que dão dor de cabeça. Nossa preocupação sempre foi não fazer desse assunto um tema maior do que ele é em si. Como estamos todos convictos de que Guga e Dudu nasceram para ser nossos filhos, não me surpreendo mais quando digo: “O Guga ‘puxou’ isso de mim!” ou “Caramba, o Dudu faz aquilo igual ao pai!”. São certezas como essas que tornam a resposta sobre “como é ser mãe de filhos adotivos” tão igual à de qualquer outra mãe, apesar de uma história que às vezes parece tão diferente.


Postado Por Cintia Liana

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Não julgue a vida apenas por uma estação difícil


Google Imagens

Esse texto é para quem está enfrentando dificuldades no processo de adaptação do filho.


Um homem tinha quatro filhos. Ele queria que seus filhos aprendessem a não julgar as coisas de modo apressado, por isso, ele mandou cada um em uma viagem, para observar uma Pereira que estava plantada em um distante local.

O primeiro filho foi lá no Inverno ( I ), o segundo na Primavera (P ), o terceiro no Verão ( V ), e o quarto e mais jovem, no Outono ( O ).

Quando todos eles partiram, e retornaram..., ele os reuniu, e pediu que cada um descrevesse o que tinham visto.

O primeiro filho ( I ) disse que a árvore era feia, torta e retorcida.

O segundo filho ( P ) disse que não, que ela era recoberta de botões verdes, e cheia de promessas.

O terceiro filho ( V ) discordou; disse que ela estava coberta de flores,que tinham um cheiro tão doce e eram tão bonitas, que ele arriscaria dizer que eram a coisa mais graciosa que ele jamais tinha visto.

O último filho ( O ) discordou de todos eles; ele disse que a árvore estava carregada e arqueada, cheia de frutas, vida e promessas...

O homem então explicou a seus filhos que todos eles estavam certos, porque eles haviam visto apenas uma estação da vida da árvore...

Ele falou que não se pode julgar uma árvore, ou uma pessoa, por apenas uma estação, e que a essência de quem eles são, e o prazer, a alegria e o amor que vêm daquela vida podem apenas ser medidos ao final, quando todas as estações estão completas.

Se você desistir quando for Inverno, você perderá a promessa da Primavera, a beleza de seu Verão, a expectativa do Outono.

Moral da História: Não permita que a dor de uma estação destrua a alegria de todas as outras. Não julgue a vida apenas por uma estação difícil.

Persevere através dos caminhos difíceis e melhores tempos certamente virão de uma hora para a outra!!!

(autor desconhecido)
Postado Por Cintia Liana